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14/08/2020 às 16h37min - Atualizada em 14/08/2020 às 16h34min

SUS: pandemia reforça a importância do sistema como agente defensor da vida

Dos países com mais de 200 milhões de habitantes, Brasil é único com sistema universal de saúde

Larissa Campos - Editado por Camilla Soares
Logotipo do Sistema Único de Saúde - Imagem por: Ministério da Saúde
Em meio a pandemia, o SUS (Sistema Único de Saúde), responsável por beneficiar cerca de 190 milhões de pessoas no país, explicita sua importância como agente defensor da vida.

Com uma estrutura robusta de acolhimento, o SUS forneceu uma resposta rápida à crise sanitária causada pela Covid-19, recebendo reconhecimento até mesmo do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. “Eu tinha uma visão muito pró-mercado privado de saúde, mas a gente vê que o SUS (Sistema Único de Saúde) é importante”

A enfermeira Gabriela Ferreira, que atua na rede pública, explica que o SUS é o responsável por manter a saúde dos brasileiros em dia e que, se não fosse por ele, o número de óbitos decorrentes da Covid-19 poderia ser muito maior. “Todos puderam ver a força do SUS e o quanto ele suportou e está suportando assistir a população brasileira” afirma.

Apesar disso, Gabriela pontua que a falta de recursos e investimentos dificulta a manutenção do sistema, mas que tem uma visão otimista para o cenário pós-pandêmico. “Penso que o SUS será muito mais acreditado e por isso os investimentos serão maiores, já pensando em suprir a necessidade da nossa população” completa.

Além disso, é importante ressaltar que a rede que compõe o SUS é extremamente ampla e abrange muito mais do que apenas serviços hospitalares. Englobando atenções primárias, médias e de alta complexidade, o SUS oferece também assistência farmacêutica, vigilância sanitária, controle da água para consumo humano, entre outros.

“Eu só tenho a agradecer”

Tamires Guimarães tinha 27 anos na época dos fatos. Ela havia participado de um intercambio para os Estado Unidos no ano de 2015, onde conheceu uma pessoa a qual começou um relacionamento e que a pediu em casamento no ano posterior. Os dois então decidiram que Tamires iria morar nos Estados Unidos, e dessa forma, começou o processo de visto para sua imigração.

Um dos procedimentos para a realização do visto é a obrigatoriedade de exames médicos, aos quais Tamires efetuou o pagamento em âmbito particular. Após ter feito os exames, o médico do consulado que estava atendendo Tamires entrou em contato afirmando que havia encontrado um tumor no seu raio-x do tórax e que ela deveria investiga-lo. Ela então efetuou novos exames, sendo um deles o PET/CT, que revelou a existência de outro tumor, na região do ovário.

Até então, não havia certeza se os tumores eram benignos ou malignos e lhe foi indicada cirurgias para a remoção de ambos. Apenas a cirurgia do tórax custaria, em média, 120 mil reais, dinheiro que Tamires não possuía.

Depois de ter mostrado os exames a outros dois médicos, no terceiro profissional, Tamires, que até então possuía certa descrença com o SUS, foi recomendada a efetuar um tratamento oncológico pela rede pública. O profissional frisou ainda que nem ele mesmo, como médico, teria o dinheiro necessário para arcar com os custos desse tipo de tratamento. Tamires então seguiu o conselho do profissional e buscou um posto de saúde.

Após uma biópsia feita no tumor do pulmão, foi constatado que ele era, infelizmente, maligno, tendo o diagnóstico de câncer de pulmão (tumor carcinoide). Dessa forma, a cirurgia para sua remoção foi marcada e efetuada de forma totalmente gratuita pelo SUS, juntamente com o acompanhamento que ela efetua até hoje pela rede.

O tumor do ovário também foi retirado, mas apenas no ano passado, já que os médicos acreditavam na sua benignidade, o que foi constatado na remoção.

Por conta do acompanhamento, Tamires desistiu de sua imigração para os Estados Unidos, já que os custos de saúde do país são extremamente altos e não existe a possibilidade de tratamento gratuito.

Em ambas as cirurgias Tamires frisa que foi muito bem atendida e agradece a oportunidade que a rede pública lhe proporcionou para o tratamento da sua condição. “Eu só tenho a agradecer, pois eu não teria condições de arcar particularmente com isso”

Desmonte e subfinanciamento

Apesar de ser reponsável por salvar vidas como a de Tamires, o SUS sofre um subfinanciamento histórico, que nos últimos anos se somou ao desfinanciamento de suas atividades.

Em 2016 foi aprovada no Brasil a Emenda Constitucional n° 95, que instituiu o congelamento de gastos com despesas primárias do SUS por 20 anos. De acordo com o Conselho Nacional de Saúde (CNS), somente em 2019, a perda de investimentos na área representou R$ 20 bilhões e pode chegar a R$ 400 bilhões até o final dos 20 anos de vigência da emenda. O CNS destaca ainda que entre 2017 e 2019, os investimentos em serviços públicos de saúde sofreram uma queda de 15,77% para 13,54%.

Somado ao já fragilizado sistema, o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) enviou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) 2021, que mantém o Teto de Gastos como referência no país, retirando a regra do orçamento emergencial, que trouxe um valor de R$ 35 bilhões para as ações de saúde, e devolvendo o sistema público à mercê da EC 95/2016.

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