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14/08/2020 às 17h23min - Atualizada em 14/08/2020 às 16h52min

Média metragem independente terá lançamento online no dia 27/09

Diretor e atriz contam sobre nova produção do cinema nacional, que terá seu lançamento online no dia 27 de setembro, em meio à pandemia

Ana Thereza Amaral - Editado por Letícia Agata
Fonte: Facebook

No domingo, 27 de setembro de 2020, será lançado “Retirante Juvenil - o filme”, produção baiana de Dan Borges e Juliana Rosa. A obra aborda a trajetória de Luce (Marina Torres), uma garota que cresceu numa fazenda afastada da cidade, apenas com sua mãe e irmã, onde enfrenta problemas como o abandono do pai e conflitos familiares em casa, além da monotonia da rotina no campo, onde seus únicos escapes são os livros e as aventuras que ela imagina. A história se desenvolve quando Luce conhece o velho andarilho Alberto (Isaac Fiterman), que a encanta com suas histórias de andanças. E em meio a surpresas, Luce se vê obrigada a enfrentar a realidade.



 

O filme, que teve seu lançamento adiado. Devido à pandemia, irá estrear numa sessão online no próximo dia 27 e já está com ingressos disponíveis para venda na internet. É a segunda produção cinematográfica de Dan. Ele havia produzido um curta-metragem em 2017, também junto com Juliana Rosa, intitulado "Aos meus olhos”, que, diferente de "Retirante juvenil" é ambientado numa cidade grande, que conta a vida de João, um artista solteiro e introspectivo que vive com a filha, que tem sua vida mudada ao conhecer Anna Bella, uma mulher, ao contrário de João, bem resolvida e encantada pela sua arte, que inicia uma amizade com joão. “Nessa época morava em São Paulo e o filme foi gravado lá, com um tema completamente diferente, muito mais ‘urbano’" explica Dan. Ele também conta que já possuía experiência com audiovisual desde 2011, na produção de videoclipes. Mas essa é a sua primeira experiência com longa metragem e afirma que foi uma experiência completamente diferente e bem mais complexa, principalmente por ser uma produção independente.

 

O olhar do diretor

 

Em entrevista, Dan conta um pouco da sua experiência com o filme, inspirações, desafios e expectativas para o lançamento:



 

Ana Thereza: Como surgiu a ideia do filme “Retirante Juvenil”?

Dan Borges: O filme “Retirante Juvenil” é um reflexo do que eu vi na minha infância! Minha família é do interior e constantemente íamos passar temporadas na fazenda, o que pra mim era o máximo. Sempre fui apaixonado por filmes desde criança e aquele lugar tinha o ambiente e os cenários perfeitos para grandes histórias! Lá, durante o dia eu era o cowboy, o andarilho solitário e de noite corria para perto da mãe com medo do escuro, porque na época não tinha luz elétrica. Eu tive uma banda autoral, onde eu era o compositor e uma das músicas era “Retirante Juvenil”! Tem até um vídeo-clipe antigo, meio tosco no Youtube, para os mais curiosos que quiserem conferir. A música conta justamente a história da jovem Luce que é inconformada com sua vida no campo. Quando comecei a trabalhar com audiovisual e fazer cinema, achei que esse conto merecia um filme.

A.T.: Qual foi sua inspiração para a criação dos personagens?

D.B.: Os personagens estão todos lá no interior! Eles existem espalhados nas pessoas daquela região, que eu conheço desde sempre. O Velho contador de histórias, o rapaz que tem que trabalhar na capital para sustentar a família que mora campo, o “playboy da cidade” filho do prefeito ou de algum fazendeiro com um pouco mais de condição, a menina sonhadora que vê o mundo pela televisão e fica imaginando em voar pra longe dali. Se você for em qualquer zona rural, vai encontrar todos esses personagens. E a forma com cada um deles tem uma visão completamente diferente sobre a vida naquele lugar é o ponto forte da história. Alguns amam e dizem que não saem de lá por nada nesse mundo, já outros acham insuportável passar os dias naquela vida monótona, onde aos olhos deles “nada acontece”. Crescer observando esses conflitos de valores, às vezes até numa mesma pessoa, me trouxe personagens maravilhosos!

A.T.: Quanto à seleção do elenco, quais foram seus critérios de escolha de atores para seus respectivos personagens?

D.B.: Eu tenho uma forma de criação que às vezes é uma solução e em outras é um problema. Quando eu começo a escrever uma história, eu já tenho em minha cabeça a imagem, a fisionomia e a voz de todos os personagens. Então, quando eu começo a procurar atrizes e atores, eles têm que se encaixar perfeitamente naquilo que eu tenho na minha cabeça, ou pelo menos terem a “forma base” que possa ser transformada no que eu já imaginei do personagem (eu sei que sou maluco). Mas no caso desse filme foi muito fácil, por sorte talvez, eu encontrei o elenco que se encaixava perfeitamente na imagem dos personagens que eu tinha criado. Se você olhar o storyboard do filme, vai ver a semelhança dos desenhos com o elenco e eu já tinha desenhado antes de conhecê-los! Aí é claro, começamos todo um processo de preparação para que o ator/atriz assuma a personalidade do personagem, na forma de falar, tom da voz, postura, olhar, etc. Trabalho minucioso da nossa preparadora de elenco, Julian Rosa.

A.T.: Qual mensagem você espera transmitir ao público através da obra?

D.B.: Vale o clichê de que “Toda história tem dois lados”. O que é belo aos olhos de um, pode ser feio aos olhos do outro. Onde alguns veem uma pilha de lixo, outros podem ver um tesouro, um meio de sobrevivência. Os valores são diferentes em cada pessoa, porque cada um tem uma história e essas histórias merecem ser contadas e ouvidas.

A.T.: A mudança de planos para o lançamento do filme, devido à pandemia, na sua opinião foi favorável ou desfavorável? Por quê?

D.B.:  Teve o seu lado bom e o seu lado ruim. Acredito que o sonho de todo cineasta é ver o seu filme na telona, porém, quem trabalha com produções independentes sabe o quanto é complicado fazer isso acontecer. Desde a parte de negociar um local para a exibição do filme, até conseguir mover o público até uma sala de cinema para assistir um curta metragem independente. Se não for através de festivais ou mostras de cinema, isso é bem difícil. Já pela internet, online, todo esse caminho é cortado e nós entregamos nosso filme ao público no conforto do lar, para assistir nu no sofá, com uma bacia de pipoca no colo, com custo mínimo. Se antes conseguiríamos atingir 200 ou 300 pessoas nas salas de cinema (sendo bem otimista), pela internet o número de pessoas que podem assistir ao filme é incalculável.

A.T.: Você já tem planos de futuras produções de cinema para depois da pandemia?

D.B.: Eu e Juliana Rosa, que é minha parceira de produções, já começamos a rascunhar alguns roteiros e temos algumas ideias na gaveta. Mas com a pandemia veio também a crise financeira, né? Tá todo mundo apertando os cintos. Produção independente ficou mais complicado ainda e, pelo rumo que estamos tomando, vai ficar cada vez mais improvável conseguir contemplar editais para cinema neste país. Então, temos que pensar em uma boa estratégia para arrecadar recursos e tirar as ideias do papel, mas as ideias existem.

 

Olhar de protagonista

 

De outro lado, temos Marina Torres, atriz, estudante de Artes Cênicas na Universidade Federal da Bahia (UFBA), que interpretou a protagonista Luce, em “Retirante Juvenil”, em sua estréia nas telas de cinema. Marina conta os desafios, realizações e aprendizados que teve durante o período de produção do longa.

 

Ana Thereza: Como foi interpretar a personagem Luce, Principalmente por ser a personagem principal do filme?

 

Marina Torres: Interpretar Luce foi um desafio. Apesar de eu me parecer com ela, não somos a mesma pessoa. Luce é determinada, mas se concentra tanto em seus sonhos, que acaba esquecendo um pouco das pessoas à sua volta. Interpretar Luce também foi um desafio justamente por ela ser a protagonista. Eu constantemente sentia que tinha que dar o meu máximo, me sentia um tanto pressionada, não por Dan ou por Juliana ou pelo próprio elenco, mas por mim mesma. A condução de Dan e Ju foi fundamental para que eu encarasse o processo com mais leveza, com mais diversão, de fato.

 

A.T.: Você se identifica em algum aspecto com a personagem?

 

M.T.: Sim, me identifico com ela em vários aspectos, na verdade. Quando Dan me contatou e me explicou um pouco sobre o tema do filme e qual seria a minha personagem, eu estava em um momento um tanto semelhante com o de Luce. Ela quer sair da cidade do interior, quer conhecer o mundo e, como eu disse, é muito determinada. Na época em que eu fui contatada, eu tinha acabado de me mudar para Salvador para estudar e Luce representa tudo o que eu sentia em relação à cidade em que eu morava. Sempre senti que Alagoinhas não me permitia viver certas coisas e para trabalhar e estudar Artes Cênicas, eu teria que me mudar. Eu também tenho esse desejo de conhecer o mundo, de viver tudo o que eu posso. Estar em Salvador foi um pouco disso, sempre tem algo novo. É isso que Luce busca também. Além disso, nós duas somos alegres, apaixonadas pelos livros. Gostamos da sensação de liberdade e nossos sonhos são prioridade em nossas vidas.

 

A.T.: Esse filme é, digamos, a sua estréia no cinema. Quais são suas expectativas para depois do lançamento? Acha que vai mudar algo na sua vida?

 

M.T.: Retirante Juvenil foi um divisor de águas para mim, porque quando eu cheguei na UFBA tinha muito a questão do teatro nas artes cênicas e minha referência era o audiovisual, tanto na tv, quanto no cinema, então eu ficava me perguntando se eu não iria ter esse contato com o audiovisual durante os meus estudos. E logo que cheguei em Salvador me apareceu essa oportunidade de gravar “Retirante Juvenil” e eu fiquei louca, porque queria muito experimentar o audiovisual e o processo desse filme foi incrível. Dan e Ju foram muito cuidadosos conosco e o processo foi todo delicioso. Entramos mesmo de cabeça. Nós trabalhamos muito, nos conhecemos muito e o que eu espero para depois desse filme, é trabalhar mais com audiovisual. Eu espero ter outros trabalhos na área, sem deixar de lado o teatro. Eu espero também aprender mais sobre a linguagem do audiovisual, porque tem me despertado muito interesse. 

Sobre mudar algo na minha vida, eu acredito que já mudou. Estar no filme me ajudou a amadurecer pessoalmente e profissionalmente. Ter um filme no currículo é uma forma de impulsionar minha visibilidade, então acredito que vá me ajudar em trabalhos futuros. Quanto ao pessoal, eu tenho recebido feedbacks positivos de conhecidos meus, que pesquisam mais, que se dizem cada vez mais inclinados a cursar Artes Cênicas ao me ver atuando. Tenho recebido também mensagens de pessoas que eu não conhecia, que não me seguiam nas redes sociais, e que também se dizem influenciados. Então saber que de alguma forma eu potencializei o papel das artes cênicas na vida dessas pessoas, só me incentiva ainda mais a continuar nesse caminho.

 

A.T.: Qual mensagem você acredita que o filme vai deixar para os espectadores?
 

M.T.: O filme, particularmente, me emociona muito. A trilha sonora, o cenário... tudo me traz a sensação de que realizar sonhos não é impossível, não é apenas tema de filme. Os sonhos me movem. Se eu fui estudar fora, se estou aqui falando sobre meu trabalho, na área que eu escolhi, é porque isso tudo começou com um sonho. Acredito que o filme passará essa mensagem, além, é claro, do conhecimento (porque Luce se mostra sempre ávida pelo que os livros tem a lhe dizer), da determinação e da alegria com as pequenas coisas, que nos são essenciais para alcançarmos qualquer meta, nos divertindo, nos permitindo.

 

A.T.: Tem muita diferença entre atuar no teatro e no cinema? 

 

M.T.: Sim! Eu e outras pessoas consideramos o Teatro a arte do encontro. Não podemos ficar alheios ao que acontece quando estamos no palco. Posição errada, fora da luz, improviso de texto, alguma interrupção inesperada do público. Tudo isso faz parte do universo do Teatro. Já no audiovisual, eu sinto a precisão, o cálculo, o cronograma do que tem que ser feito de maneira mais intensa. O horário é calculado. Se temos 18 minutos até o pôr do sol, é isto. O set precisa estar em silêncio no momento da gravação, há a possibilidade de gravar mais de uma vez. Além disso, a imagem é vista do ângulo que o diretor propõe, ao contrário do Teatro. No Teatro, eu sinto como se estivesse em êxtase. Apresento e quando termina, eu tento me lembrar do que aconteceu, como se tivesse saído de um furacão. É uma sensação incrível, mas no audiovisual, eu consigo acompanhar o que estou fazendo, racionalmente, e acompanhar o meu trabalho entrelaçado com o trabalho da equipe não tem preço. Enquanto espero para dar o texto, eu observo como a produção acontece. Sinto-me mais inserida no processo.

 

A.T.: A pandemia mudou a maneira com que o filme será lançado. Na sua opinião, foi uma mudança positiva ou negativa?

 

M.T.: Eu acredito fortemente que tudo tem seu tempo. Entendo que poderiam haver exibições em salas, espaços que comportassem muita gente que veria nossa estréia, que teriam todo aquele gostinho de sentar com os amigos e comentar o filme, ouvir os comentários das outras pessoas também, tudo o que a sala de cinema nos proporciona. No entanto, eu acredito que virtualmente conseguimos alcançar muito mais pessoas. Vou citar como exemplo minha tia que mora no Canadá e que quer muito ver o filme. Pessoalmente ela não conseguiria, mas virtualmente há essa possibilidade. Eu acho que podemos usar o virtual de maneira proveitosa, usufruir do lado positivo da globalização. Mas mal posso esperar para ver o filme em salas também, quando o caos do nosso contexto diminuir.

 

A.T.: Você tem planos para, depois da pandemia, atuar em algum outro filme?

 

M.T.: Tenho o desejo de trabalhar sim no audiovisual após a pandemia, mas não tenho nenhum trabalho em vista na área por enquanto. Com a pandemia, abri meu leque e procurei me especializar mais no Teatro. Recentemente fiz uma oficina de mímica corporal dramática em diálogo com o audiovisual, e tenho trabalhado em Ciclos de Nós, um projeto que tenho com amigas e colegas de curso. Todavia, estou aberta a novos trabalhos na área do audiovisual. Hoje, tenho certeza de que esta é umas das vertentes das Artes Cênicas que mais me chama.

Confira o trailer de "Retirante Juvenil - o filme":




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