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15/08/2020 às 14h46min - Atualizada em 15/08/2020 às 13h08min

Marília Mendonça tem discurso transfóbico em live

Com o Brasil sendo o país que mais mata pessoas transexuais no mundo a cantora faz piada de mau gosto

Laiz Vaz - Revisado por Renata Rodrigues
Marília Mendonça, que até então nunca tinha se envolvido em nenhuma polêmica, protagonizou sua primeira no último final de semana. No decorrer da sua live no sábado, 08 de agosto, caçoou junto de seus músicos de um conhecido que se envolveu com uma mulher trans em uma boate goiana. O tom debochado com que a cantora e sua equipe comentaram o episódio, fez com que os internautas os acusassem de transfóbicos.

“Não vou falar quem e nem vou falar o porquê, vou ficar calada. Quem lembra da boate Diesel? (…) Foi lá o lugar que ele beijou a mulher mais bonita da vida dele. É só isso. O contexto vocês não vão saber”, disse a cantora. Na sequencia, um dos músicos comentou “será que era mulher mesmo?”. A casa de festas Diesel Lounge era voltada para o público LGBTQIA+ e encerrou suas atividades em 2017.

O discurso de Marília é muito comum no Brasil, onde praticamente não há respeito com a comunidade LGBTQIA+. O Brasil também é o país que mais mata transexuais no mundo. Apenas no primeiro semestre de 2020, 89 pessoas transgênero foram assassinadas, tendo aumentado em 39% em relação ao mesmo período de 2019, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA).

“Os dados não refletem exatamente a realidade da violência transfóbica em nosso país, uma vez que nossa metodologia de trabalho possui limitações de capturar apenas aquilo que de alguma maneira se torna visível. É provável que os números reais sejam bem superiores. Mesmo com essas limitações, os dados já demonstram que o Brasil vem passando por um processo de recrudescimento em relação à forma com que trata travestis, mulheres transexuais, homens trans, pessoas transmasculines e demais pessoas trans. O que reforça a importância do nosso trabalho de monitoramento, incidência política e denúncias a órgãos internacionais”, escreveu ANTRA no boletim Nº 03/2020 que aborda assassinatos contra travestis e transexuais em 2020.

Diversos artistas transsexuais se pronunciaram sobre o ocorrido. Pepita por exemplo, uma das primeiras funkeiras travestis do país, fez uma série de posts no story do seu Instagram tratando da necessidade de conscientização sobre que tipo de artista o público consome.
 
“Que você tenha certeza de quem você está consumindo na sua vida. Sempre vou falar isso nas minhas redes sociais: a gente tem que prestar atenção em quem a gente consome. Às pessoas que ficam achando que a gente tem que se posicionar…Amor da minha vida, eu já me posiciono desde a hora que eu levanto da minha cama para enfrentar a vida. Às vezes eu saio blindada, às vezes eu saio com a benção e a misericórdia de Deus para enfrentar o mundo. A única máscara que uso é a máscara de cílio”, declarou.



A funkeira também se manifestou sobre quem reduz a fala de Marília Mendonça a uma piada ou uma brincadeira. “As pessoas sempre vão abrir a boca para falar mer**. Eu tenho certeza que o vaso da minha casa é mais limpo do que a boca de algumas pessoas. Sabe por quê? Elas não vivem a nossa vida, não sabem o que a gente passa. Elas matam um mosquitinho. A gente mata um mosquito por segundo (...) Eu acho o mais engraçado nessa situação toda que as pessoas tiram isso como ‘foi uma falha’. Ô, linda, não existe falha pra isso. As únicas brincadeiras que conheço são bambolê, pular corda, elástico…O resto não é brincadeira. São pessoas que não sabem o que a gente passa, o que a gente vive”, posicionou-se.

Já outros artistas se manifestaram de forma mais discreta como a cantora e compositora Majur. Em sua conta no twitter, a cantora pediu respeito. “Respeitem a nossa existência”, postou junto com uma foto montagem onde ela aparece ao lado de outras artistas trans, como Urias, Liniker, Mel, Leona Vingativa e Linn da Quebrada.


Marília também se pronunciou em sua conta no Twitter, reconhecendo seu erro. A cantora disse que pesquisou, refletiu e apredeu muito sobre o tema e em como pode ajudar. Também pediu mil perdões e garantiu que vai abordar esse tema em sua próxima live para poder se retrar com a mesma visibilidade de quando fez o comentário. Um grande passo foi reconhecer seu erro e com esse episódio ficou muito claro que, mesmo infelizmente sendo comum, atitudes como essa não são mais aceitáveis. A comunidade LGBTQIA+ tem sua voz e espaço para falar agora e pede respeito.








Glossário:
A ANTRA, é uma rede nacional que articula em todo o Brasil 127 instituições que desenvolvem ações para promoção da cidadania da população de Travestis e Transexuais, fundada no ano de 2000, na Cidade de Porto Alegre. Sua missão é: “Identificar, Mobilizar, Organizar, Aproximar, Empoderar e Formar Travestis e Transexuais das cinco regiões do país para construção de um quadro político nacional a fim de representar nossa população na busca da cidadania plena e isonomia de direitos.” (Assembleia da ANTRA, Teresina-PI/ maio, 2009).

TRAVESTIS: Pessoas que vivem uma construção de gênero feminino, oposta à designação de sexo atribuída no nascimento, seguida de uma construção física, de caráter permanente, que se identifica na vida social, familiar, cultural e interpessoal, através dessa identidade.

TRANSEXUAIS: Pessoas que apresentam uma Identidade de Gênero diferente da que foi designada no nascimento.

TRANSMASCULINES: Pessoas que foram designadas como mulheres ao nascimento, mas cujas identidades possuem alguma relação com ser homem, ou com masculinidade.

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