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21/08/2020 às 11h14min - Atualizada em 21/08/2020 às 11h09min

Eliane Brum para entender os "Brasis"

Franciele Rodrigues - labdicasjornalismo.com
Reprodução Amazônia Real

Nascida no Rio Grande do Sul em 1966, durante a ditadura militar (1964-1985), Eliane Brum é jornalista, escritora e documentarista. Trabalhou como repórter em veículos como o Jornal Zero Hora e Revista Época. Desde 2013, escreve para o Jornal El País e é colaboradora do periódico britânico The Guardian.

Além disso, tem realizado trabalhos jornalísticos em comunidades tradicionais, principalmente, na Amazônia e nas periferias das grandes cidades. Brum já publicou oito livros, o último deles foi nomeado “Brasil, construtor de ruínas: um olhar sobre o Brasil de Lula a Bolsonaro”, lançado em 2019 pela Editora Arquipélago.

No texto, a jornalista pensa como saímos dos mandatos de um partido mais próximo da esquerda, Partido dos Trabalhadores (PT) e chegamos aos cem dias de governo Bolsonaro. É importante destacar que ela não deixa de tecer críticas aos representantes do PT, inclusive, a sua leitura no que tange às relações que a legenda estabeleceu com as pautas em defesa do meio ambiente, da reforma agrária, das populações indígenas e ribeirinhas são mais marcadas pelas ausências do que por contribuições.

Igualmente, a gestão de Michel Temer foi analisada e, com ela, todas as ofensivas contra os direitos dos trabalhadores e a maior participação política das minorias sociais. Porém, ao avaliar o país sob o comando de Bolsonaro, Brum destaca:

 

Talvez tenha chegado a hora de superar a esperança. Autorizar-se à desesperança ou pelo menos não linchar quem a ela se autoriza. Quero afirmar aqui que, para enfrentar o desafio de construir um projeto político para o país, a esperança não é importante. Acho mesmo que é supervalorizada. Talvez tenha chegado o momento de compreender que, diante de tal conjuntura, é preciso fazer o muito mais difícil: criar/lutar mesmo sem esperança. Teremos de enfrentar os conflitos mesmo quando sabemos que vamos perder. Ou lutar mesmo quando já está perdido. Fazer sem acreditar. Fazer como imperativo ético (p. 14). 

A jornalista nos inquieta: o que significa termos alguém como Bolsonaro, portador de declarações racistas, misóginas, homofobicas, classistas no posto que ele ocupa? A pergunta não é respondida, mas ela nos dá dicas importantes ao longo da obra. É preciso que o Brasil "devolva a verdade à verdade" e para além das autoverdades (fenômeno em que os indivíduos só acreditam no que querem acreditar). Mas para isso é necessário que estejamos abertos ao diálogo, a falar e, sobretudo, a ouvir sem distinguir ou privilegiar vozes que soem mais agradavéis aos nossos ouvidos. 

Além disso, é urgente que o Brasil enxerge os "Brasis" que existem, ou seja, as múltiplas e diversas realidades sociais que lhe dão vida para que possa respeitá-las, afinal, o cotidiano sob os prejuízos ambientais, culturais da Usina Hidelétrica de Belo Monte, em Altamirá-Pará, não são os mesmos sentidos na avenida Paulista, em São Paulo. 

Cabe destacar, ainda, que Eliane Brum é uma das atuais e principais representantes do "Jornalismo Literário". Assim, a jornalista fala sobre o que denomina de "Literatura da vida real", empregando recursos de linguagem como metáforas e mergulhando fundo nas histórias em que conta, ela nos ensina que existe Jornalismo para além do "lide" e, muitas vezes, ao contrário do que tentam nos ensinar, e é este tipo de Jornalismo que realmente importa. 


O Brasil do centro conhece os "Brasis" das periferias? 

Obrigada, Eliane! 


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