22/08/2020 às 15h11min - Atualizada em 22/08/2020 às 15h11min

‘O Conto da Princesa Kaguya’ uma reflexão sobre o patriarcado

Juliane Alvarenga - Editado por Bárbara Miranda
‘O Conto da Princesa Kaguya’ é um filme de animação japonesa produzido pelo famoso Studio Ghibli, o estúdio foi fundado em 1985 por Isao Takahata e Hayao Miyazaki e desde a sua fundação, foi ganhando reconhecimento por variadas razões, além de ótimos roteiros e animações memoráveis, na grande maioria de suas criações retratava as protagonistas femininas como talentosas, determinadas e em uma constante quebra de rótulos.  
 
O longa foi lançado em 2013, mas ainda tem temáticas atuais que valem muito a pena refletir.
Esta foi a última produção criada e escrita por Isao Takahata antes de seu triste falecimento em 2018. Vencedor de diversos prêmios e indicado ao Oscar de ‘Melhor Filme de Animação’ no ano de 2015 é uma verdadeira obra de arte! 
 
A história é baseada em um folclore popular da cultura japonesa do século X ‘O Conto do Cortador de Bambu’ que é considerada a narrativa japonesa mais antiga existente. A versão de Takahata é uma adaptação bastante fiel ao conto original, mas com o objetivo nítido de promover debates importantes, mas calma já vamos chegar lá. 
 
A fábula conta a trajetória de um humilde camponês que trabalha como cortador de bambu e mora em uma pequena casinha no interior do Japão com sua esposa, ambos já com idades avançadas.  Até que em um dia de trabalho comum, ele se depara com um bambu cujo brilho é excepcional. Ao pegar em suas mãos ele encontra dentro do bambu uma pequena garotinha. Imediatamente ele a leva para casa e o casal decide cria-la como filha. Vale comentar que é linda a relação entre eles, o pai a chama de ‘princesa’, é tão amoroso e carinhoso com ela e acredita se tratar de algo divino.
A menina rapidamente sai de sua forma original e se transforma em um bebê humano e a partir daí ações milagrosas passam a acontecer, como por exemplo, a idosa passa a ter leite materno para alimentar aquele pequeno ser. Mas fica evidente para todos ao redor que não se trata de uma criança comum, pois ela cresce muito rapidamente e logo se torna uma linda menina. As outras crianças no vilarejo a apelidam de ‘pequeno bambu’.
Ela faz amizade com as outras crianças do vilarejo e é nitidamente feliz desfrutando de uma vida simples e alegre, em constante contato com a natureza brincando pela floresta, colhendo frutos deliciosos, tomando banho de rio e sempre sorrindo. Todos ali eram pobres em questões econômicas, mas ricos em valores sentimentais. Nestas cenas fica evidente a liberdade. Mas o pontapé inicial de crítica na narrativa começa quando o pai questiona se aquilo é certo, se a ‘princesa’ poderia realmente brincar como os outros meninos e ser tão livre quanto.   
 
Já com diversos dilemas e sem saber como lidar com a rapidez com que a ‘princesa’ crescia, o camponês volta ao local onde a encontrou entre os bambus e se depara com uma grande quantidade de tecidos caros e ouro lá dentro. Sendo assim, ele entende aquilo como um sinal dos deuses de que a menina não deveria continuar vivendo na pobreza, mas ser tratada como uma digna princesa. E contra a vontade de sua esposa e da própria garota, eles se mudam para capital em busca desse novo ideal. 
Agora na ‘cidade grande’ a família passa a viver em uma mansão, com muito luxo e novas regras. O pai contrata uma professora para ensinar a Kaguya como se comportar, falar, se vestir, ser uma nobre princesa e uma “mulher respeitada” perante a sociedade. Indo assim totalmente contra aos ensinamentos e estilo de vida que ela levava no campo com seus amigos, onde realmente era feliz e se sentia livre. Tanta nobreza e luxo, o silenciamento da vontade própria e da voz das mulheres: mãe e filha, impostas a uma nova realidade sem direito de escolha. Neste cenário é possível notarmos como o diretor questiona as regras que são impostas as mulheres e os efeitos que surtem sobre elas.  A opressão retratada se trata da realidade diversas mulheres japonesas até hoje, assim como em diversos outros países, de diferentes maneiras, mas com proporções semelhantes que impactam diretamente no cotidiano.
A nova professora de etiqueta Senhorita Sagami chega com rigorosas regras, a menina que gostava de brincar, falar alto e sair correndo por aí, agora aprendia a falar apenas o essencial e em raras exceções. Era alertada o tempo todo a ser diferente, perdendo assim a sua essência. Uma princesa não abre a boca e muito menos sorri. A submissão e obediência eram importantes, ninguém precisa saber sobre suas opiniões e nem sequer conhecer sua personalidade própria. Uma verdadeira dama. Mas cada vez aquilo tudo a deixava mais triste e fazia sentir que não era dona de si mesma, se sentir invadida até em suas maiores particularidades. 
Não demorou muito e a princesa começou a chamar a atenção de todos ao redor, atraindo diversos pretendentes. Não estando disposta a se casar com quem não ama – e na verdade nem estando a fim de sequer se casar com alguém – Kaguya pede missões impossíveis aos pretendentes como ‘prova de seu amor’. 
 
Resistência: a palavra que define o filme. A princesa da lua representa a resistência de mulheres que não têm como desejo comum se casar e constituir família. Ela era feliz com seus pais e tudo que ela queria era se sentir livre e dona de si mesma. 
 
Se gostou da história, pode assistir à animação que está disponível no catálogo da Netflix. Confira o trailer:



REFERÊNCIAS

ADOROCINEMA.O conto da Princesa Kaguya. Adoro Cinema. Disponível em: <   http://www.adorocinema.com/filmes/filme-173271/ > .Acesso em 17/08/20.
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