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22/08/2020 às 15h41min - Atualizada em 22/08/2020 às 15h34min

Bayern de Munique: de perseguido pelos nazistas a protagonista mundial

A história do time alemão, que enfrentará o PSG na sua 11º final de Liga dos Campeões.

Lucas de Almeida Andrade - labdicasjornalismo.com
Hansi Flick mudou a história do Bayern na temporada Foto: MANU FERNANDEZ / AFP
O Bayern de Munique entra em campo neste domingo (23) para disputar a sua 11ª final de Liga dos Campeões contra o PSG. A final será disputada no tradicional Estádio da Luz em Portugal. Poderá ser o seu sexto título da competição em 47 anos desde que conseguiu o primeiro troféu europeu.

Se o time alemão vencer a partida se tornará a terceira equipe com mais títulos da competição, empatado com o Liverpool. Também ficará a apenas uma taça do segundo colocado o Milan. Mas para chegar a tamanho protagonismo o Bayern precisou lutar muito para chegar onde está.

A história da equipe bávara começa no ano de 1900 quando Franz John e outros dez jogadores do já extinto MTV 1879 se reuniram para rescindir o contrato com a equipe. O motivo era que eles estavam cansados das condições que lhes eram impostas para jogarem futebol. Com a rescisão John e seus companheiro fundaram o Schwabinger Bayern que anos mais tarde passou a se chamar FC Bayern Munchen.

No início de sua história a nova equipe disputava a Kreisliga, uma liga regional da Baviera onde se sagrou campeão. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) o Bayern ficou sem títulos, mas após o conflito, o clube ganhou diversos torneios regionais que o qualificaram para a disputa do torneio nacional. Em 1932 o Bayern ganhou o seu primeiro título nacional, o único antes do período da Bundesliga, criada em 1963.

Após o seu primeiro título nacional o novo clube teve o seu ímpeto freado por causa do Nazismo. O regime de Adolf Hitler basicamente obrigou o Bayern de Munique a fechar as portas, pois possuía dirigentes judeus como membros. O presidente do clube na época, Kurt Landauer, que era judeu, foi expulso e enviado a um campo de concentração. Landauer conseguiu abrigo na Suíça e anos mais tarde retornou a presidência do time. Muitos outros membros da agremiação tiveram que fugir do nazismo, e jogadores foram recrutados para irem combater na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Durante o regime, os bávaros não ganharam nenhum título sequer.

Após a guerra, o Bayern se filiou a Oberliga Sub, a primeira divisão da liga regional do sul da Alemanha, onde fica o estado da Baviera. A reconstrução do time não foi fácil e o Bayern sofreu  rebaixamento na Oberliga. Em 1957 o time, já de volta a primeira divisão regional, venceu a Copa da Alemanha.

Em 1963 a federação alemã de futebol criou a Bundesliga o torneio nacional, com o formato que conhecemos atualmente. Porém, a federação alemã não incluiu o Bayern na primeira edição do torneio e optou por colocar o outro time de Munique na competição, o Munique 1860, que era o atual campeão da Oberliga. Só na temporada 1965/1965 é que o Bayern foi incluído. O primeiro título da Bundesliga veio na temporada 1968/1969, ano que o time também foi campeão da Copa da Alemanha, sendo o primeiro time alemão a ganhar os dois torneios nacionais na mesma temporada.  Esta temporada vitoriosa foi o prenuncio da era dourado dos anos 70.


Jogadores do Esquadrão Imortal comemoram o título da Liga dos Campeões. Fonte: Divulgação Oficial FC Bayern Muchen

A DÉCADA DE OURO 

Os anos 70 foram recheados de títulos para o Bayern de Munique graças o timaço que foi montado.  Gerd Muller, Sepp Maier, Uli Hoeness, Paul Breitner, Rummenigge e Franz Backenbauer formaram a base do “Esquadrão Imortal”, como ficou conhecida essa geração vitoriosa. Entre 1971 e 1976, foram três campeonatos alemães, três Liga dos Campeões consecutivas, um Mundial de Clubes (vitória sobre o Cruzeiro) e uma Copa da Alemanha. Na temporada 1979/80 mais um título da Bundesliga.

O tricampeonato europeu colocou o time alemão de vez como uma potência do futebol. Nas temporadas entre 1973 e 1976, não houve equipe europeia melhor que o Esquadrão Imortal. Vitórias sobre o Atlético de Madri, Leeds United e Saint-Étienne, respectivamente, fizeram o mundo do futebol aplaudir o futebol jogado pelos bávaros.

O sucesso da equipe acabou surtindo efeito na seleção alemã. Em 1972 veio o primeiro título da Eurocopa. Em 1974 o bicampeonato da Copa do Mundo. E em 1980, já no final da geração dourada mais um título da Eurocopa. É neste contexto de supremacia do Bayern e da seleção nacional que surgiu uma frase dita até hoje na Alemanha: “Se o Bayern vai bem, a Alemanha vai bem”.

ANOS 80 E 90: POTÊNCIA NACIONAL E FRUSTRAÇÕES EUROPEIAS 

A década de 80 foi um período de consolidação como potencia dentro do futebol alemão, mas clube não conseguiu títulos da Liga dos Campeões. Com o fim da geração dourada foi necessário reformar parte do time, o que garantiu sucesso no cenário nacional. Foram seis Bundeligas entre as temporadas 1980/1981 e 1989/1990. Já na Liga dos Campeões chegou às finais duas vezes, mas ficou com a amarga vice-colocação. Na temporada 1981/82 perdeu a final para o Aston Villa, e na temporada 1986/1987 foi derrotado pelo Porto.

Após o título nacional de 1990, a equipe bávara passou por maus bocados. Na temporada 91/92 o time escapou do rebaixamento por cinco pontos apenas. O Bayern só voltou a vencer nesta década na temporada 93/94. Com este título, os bávaros voltaram ao protagonismo nacional e na temporada 98/99 chegou a mais uma final de Liga dos Campeões. Desta vez o título escapou nos acréscimos. A equipe vencia o Manchester United por 1x0 até 45 minutos do segundo tempo, porém levou a  virada nos minutos finais.

ANOS 2000: SOBERANIA NACIONAL E REENCONTRO COM O TÍTULO DA LIGA DOS CAMPEÕES

Da temporada 2000/01 até a temporada 2019/20 o Bayern simplesmente dominou o cenário nacional. São simplesmente 14 títulos da Bundesliga em 20 anos. Tamanho domínio colocou a equipe alemã de volta ao protagonismo no cenário europeu. A nova década começou com o quarto título da Liga dos Campeões sobre o Valência na temporada 2000/01.

Com domínio nacional, estádio novo inaugurado em 2005 e situação financeira excelente, o Bayern passou anos com favorito ao título europeu. Mas o time da Baviera só voltou a uma final na temporada 2009/10 quando foi derrotada pela Inter de Milão. Na temporada 11/12, nova frustação no principal torneio. Derrota em casa para o Chelsea nos pênaltis.  Mas na temporada seguinte a redenção. O Bayern voltou a final e venceu o seu rival Borussia Dortmund por 2x1, conquistando a Europa pela quinta vez.


Robben e Muller comemoram o gol do quinto título europeu. Fonte: Reuters

DO INÍCIO CONTURBADO À FINAL DA LIGA DOS CAMPEÕES: COMO FOI A TEMPORADA 2019/2020

Após o quinto título europeu, o Bayern de Munique não conseguiu voltar mais a disputar finais da Liga dos Campeões até a temporada atual. Neste período o clube alemão apostou em técnicos renomados como Pep Guardiola e Carlo Ancelotti, ambos fracassaram na missão. Na temporada 2018/19 o time decidiu apostar em Niko Kovac. Na primeira temporada o técnico croata fracassou no torneio europeu e caiu nas oitavas de finais contra o Liverpool

A temporada atual começou com Kovac balançando no cargo, mesmo com título da Bundesliga e da Copa da Alemanha na temporada anterior. O técnico não conseguia dar padrão de jogo ao time, mesmo com o rico elenco que possuía. Kovac chegou afastar o ídolo Thomas Muller, afirmando que só o usaria caso precisasse. A imprensa chegou a ventilar que Muller e Manuel Neur, outro ídolo, dos Bávaros, pudessem ser negociados, tamanha a insatisfação com desempenho do time.

De certa forma a diretoria do Bayern já se preparava para a demissão de Kovac durante a temporada. Tanto que no verão de 2019 trouxe o ex-auxiliar técnico da seleção alemã Hansi Flick, com a finalidade de assumir o cargo em caso de demissão do então técnico. Como o clima era de fim de ciclo, o trabalho de Flick seria preparar uma transição no elenco e no estilo de jogo do time. Seria.

Após a derrota por 5x1 contra o Eintracht Frankfurt, Kovac foi demitido tendo deixado o Bayern na quarta colocação da Bundesliga, porém, invicto na Liga dos Campeões. Hansi Flick assumiu como interino, mas após duas vitórias, uma sobre o Olympiakos e outra sobre o Borussia Dortmund, a diretória efetivou ele no cargo.

Com Flick efetivado o Bayern simplesmente decolou na temporada. Com a volta de Thomas Muller ao time titular, o time alemão começou a colocar vitória atrás de vitória na temporada. São 34 jogos sob o comando do novo técnico e com incríveis 31 vitórias. Invencibilidade desde dezembro de 2019. Nem mesmo a pandemia de covid-19 quebrou o ritmo de vitórias do time alemão desde então.

Essa sequência de vitórias fez com que o time fosse campeão nacional pela oitava consecutiva e campeão da Copa da Alemanha. O Bayern de Munique tem o melhor ataque da Europa dos últimos 60 anos. O time alemão marcou 158 gols em 51 jogos com média de 3,1 gols por jogo. Tem em Lewandowski o seu artilheiro com 55 gols na temporada, e Thomas Muller com mais de 20 assistências para gol.


 Jogadores do Bayern comemoram a classificação para mais uma final de Liga do Campeões. Fonte:
Reprodução/Bayern Munique twitter

A CAMPANHA NA LIGA DOS CAMPEÕES

O Bayern chega para a final contra o PSG com uma campanha com 100% de aproveitamento e nada menos do que sete goleadas. O início da atual edição começou com Kovac como técnico ganhando as três primeiras partidas. Com Flick no cargo de técnico o time melhorou ainda mais o seu desempenho na competição e conseguiu uma classificação fácil como o primeiro colocado em seu grupo. Na primeira fase venceram o Estrela Vermelha, Olympiakos e o Tottenham, com direito a goleada por 7x2 nos ingleses.

Nas oitavas de final um 7x1 no agregado para o time alemão contra o Chelsea. As apostas para o time alemão começavam a aumentar. Mas pelo caminho nas quartas de final teriam de passar pelo Barcelona de Lionel Messi.  E passaram com a humilhante goleada por 8x2 sobre os catalães. Quem ainda não havia visto o futebol Bayern se impressionou com tamanha intensidade. Após a acachapante vitória nas quartas, o favoritismo dos Bávaros só aumentou. Nas semifinais, uma vitória fácil sobre a zebra Lyon por 3x0 colocou o Bayern a um passo do seu sexto título de campeão europeu.

A FINAL E O RETROSPECTO CONTRA O PSG 

O Bayern chega para a final jogando um futebol moderno e envolvente. Além da campanha invicta, o time possui o artilheiro da competição, Lewandowski com 15 gols marcados. Para os supersticiosos, o Bayern nunca perdeu uma final contra uma equipe francesa. Na temporada 1975/76 o Esquadrão Imortal venceu o Saint-Étienne por 1x0. Além disso, o clube alemão nunca foi campeão da Liga dos Campeões com um técnico estrangeiro. Portanto, Flick pode se juntar a outros técnicos alemães campões europeus pelo Bayern.

Esta será a primeira vez que Bayern e PSG se enfrentarão em um jogo de mata-mata pelo principal torneio europeu. Todos os outros confrontos ocorreram ainda na fase de grupos da competição. No histórico de confrontos o PSG leva a melhor com cinco vitórias e três derrotas. Além disso, nesta final, o Bayern de Munique pode quebrar uma sina histórica. Das cinco vezes que foi vice-campeão, em três oportunidades o seu adversário foi campeão pela primeira vez da Champions Legue. Será que agora os Bávaros conseguirão evitar mais um campeão inédito? Esta final promete ser histórica
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