A animação adulta de comédia dramática americana original da Netflix, foi criada por Raphael Bob-Waksberg. É uma sátira ao mercado de entretenimento e aborda temas como traumas de infância, vícios, comportamentos alto destrutivos, ansiedade e depressão. Aclamada pela crítica universal foi considerada “a melhor animação do século 21” pela BBC e “a mais importante animação desde os Simpsons” pela Time, dentre outras premiações.
A série é ambientada em uma versão paralela de Hollywood onde seres humanos e animais convivem socialmente e se relacionam entre si. E em diversos momentos isso é usado para brincar com a personalidade dos personagens.
Um fato curioso é que, muitas pessoas assim como eu, acabam conhecendo a animação pois queriam assistir algo “mais leve” para se distrair e acaba se surpreendendo com a profundidade dos temas tratados e quando você menos espera, já está ‘maratonando’.
Rico, alcoólatra, egoísta e uma mistura de homem com cavalo, este é o protagonista BoJack Horseman. Olhando assim de primeira, o personagem pode não gerar tanta afinidade com o público, por ser amargo e narcisista, estas características também se estendem aos outros personagens. No começo dos episódios alguns podem ficar sem entender a proposta da narrativa, mas vale muito a pena prosseguir.
BoJack Horseman é um retrato muito preciso do que o vazio existencial pode fazer com as pessoas. Mesmo com toda a sua fama e dinheiro fica evidente que ele sente um vazio muito grande. Apesar de sua cara de cavalo, suas falhas, inseguranças e a forma como ele vê as pessoas e o mundo, pode fazer muitos espectadores se identificarem. As mesmas características que fariam dele um personagem fora de nossa realidade, com o tempo quando nos deparamos com os seus conflitos, conhecemos um personagem fascinante.
No universo de BoJack ele é uma celebridade que ficou famoso nos anos 90 quando estreou um seriado de TV chamado “Horzin’ Around” uma comédia a estilo “3 é demais” onde ele é um homem solteiro que cuida de 3 crianças.
A narrativa retrata o personagem 20 anos depois do seriado ter acabado, ele ainda é reconhecido nas ruas, mas o auge mesmo ficou no passado. Só sobrou a grana e as memórias de quando ele era bem sucedido. Por diversas vezes vemos ele sentado em seu sofá assistindo ao seriado, foi a última coisa importante que ele conseguiu fazer. Por isso vive buscando novas maneiras de continuar sendo relevante nesse mundo das celebridades.
Apesar de em termos técnicos ser muito bem trabalhada, o que faz dessa obra tão especial e jus a tantas premiações é o roteiro brilhante que trabalha com a complexidade das emoções através de humor e filosofia.
Com o decorrer dos episódios com muito mais drama que humor, alguns temas obscuros são tratados, como por exemplo o uso de drogas para fugir da realidade e até mesmo a nossa dificuldade de aceitar o quanto somos insignificantes diante do universo.
Entre as vertentes filosóficas que são exploradas na trama, está o Niilismo e o existencialismo.
O niilismo em si é um conceito que se apoia no pessimismo e no ceticismo, uma corrente que acredita no vazio. Uma pessoa niilista não acredita em verdades absolutas e não enxerga propósito ou razão para a existência humana.
Um dos famosos filósofos niilistas é Friedrich Nietzsche (1844-1900) o alemão propõe a “ausência de sentido” que surge a partir da “Morte de Deus”, ou seja, ausência de qualquer princípio.
O niilismo ilustra muito bem o comportamento do BoJack através da maneira com que ele escolheu viver a vida. Seu jeito cético, mesmo tendo tudo não consegue achar sentido na vida e frequentemente tem atitudes irresponsáveis para tentar sentir-se vivo.
Os outros personagens também se enquadram em vertentes filosóficas. Como Todd, o melhor amigo de BoJack e o oposto dele, pois mesmo não sendo bem sucedido e nem muito inteligente ‘rs’ é um cara tranquilo e positivo. Ele distrai sua mente com pequenas e inusitadas tarefas, como por exemplo, abrir uma loja de halloween fora de época. Todd desfruta do agora sem pensar muito no amanhã e essas distrações resignificam sua vida.
O existencialismo prega que todo homem é responsável por meio de suas ações. Assim como é dito na animação “você é responsável por sua felicidade”. O filósofo Soren Kierkegaard, considerado o pai dessa doutrina, sustentava a ideia de que o indivíduo tem essa responsabilidade em dar significado à sua própria vida e vivê-la bem apesar de todos os obstáculos.
Não existe ninguém em quem devemos colocar a culpa pelo nosso sucesso ou fracasso a não ser nós mesmos, pois através de nossa liberdade traçamos estes caminhos e partindo deste princípio podemos mencionar o filósofo Jean P. Sartre que diz que o homem está condenado a ser livre. A liberdade seria um fardo pois nós temos que assumir a responsabilidade por nossas ações.
Fonte : Netflix
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