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28/04/2019 às 19h10min - Atualizada em 28/04/2019 às 19h10min

A rua dos buracos

E a saga dos motociclistas

Aline Goulart - Editado por: Leonardo Benedito
Foto: Aline Goulart

No meio do caminho havia um buraco. Cavidade de cimento grande e profunda. Há quanto tempo está ali? Já fez vítimas? Se olhar de longe parece pequeno, se olhar de perto é grande feito um monstro no armário. É como nossos problemas, não é? Tenhamos distância segura para preservar a vida, a moto e a paciência. Santo Deus dá-lhe sete vidas para motociclistas porque o boleto precisa ser pago, a entrega tem que ser feita e nós merecemos viver.

Tem quem luta para encontrar no caminho a solução dos problemas. Mas a trajetória é tortuosa, cheia de obstáculos e buracos. Buracos tapados que na próxima chuva se tornam buracos novamente. É para se lamentar com a vida designada de todo pobre. E cuidado para não cair. Além disso, revisar a vida, a moto e os sonhos. O magnífico de viver está no processo, no caminho e no diálogo com o outro. É de todo motociclista sonhar.
 
Infelizmente, parei. A chuva não deu trégua neste mês de abril. O caminho virou enxurrada em cinco minutos. Porque é perigoso andar na chuva. Já dizia o ditado que parachoque de motoqueiro é a testa. O jeito é contar com a boa vontade de seu João e pedir um café. Nas conversas entre um parada e outra posso conhecer outras realidades e aprender com elas. É nessas surpresas da vida que podemos encontrar ótimas histórias.
 
- Bom dia, seu João, me dá um cafezinho?

- Oh minha filha, fique tranquila, a chuva logo acaba. Toma aqui seu café.

- E a sua filha, Ana, formou?

- Formou sim! Tá trabalhando no Centro. Agora é médica e cuida de mim.

- E o senhor tá feliz?

- Demais da conta. Maior alegria de um pai é ver um filho formado.
 
O café me ajudou a suportar o frio da chuva. Depois de alguns minutos, vários motociclistas pararam no bar do seu João. Cada um com uma motivação diferente: os pingos de chuva que doem os olhos; com a viseira do capacete você não vê; algumas partes da moto não podem molhar; ninguém quer morrer na enxurrada. E sigamos.

Depois da chuva, um buraco. Agora é a hora dos valentes. De sair na chuva fina tentando se lembrar onde estão os buracos, porque, claro, alguns já são recorrentes, toda época de chuva eles aparecem. Na rua, o buraco virou uma bacia, tem um lixo aqui e outro acolá. Ora é piscina, ora é floresta. E o principal não é desviar, mas não cair. Se não tem memória fotográfica, a vida de motociclista ensina. Porque água mole em asfalto, mata.


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