Para muitos as histórias em quadrinhos são considerados um modo de entretenimento ,para outros pode ser um estilo de vida relacionado à Cultura Pop japonesa. Porém os mangás vêm se destacando ainda mais em outro conceito, o estudo da comunicação social. Por conta dessa questão foi criado pelo Dr.Flávia Calazans o Núcleo de Histórias em Quadrinhos do INTERCOM, que tem o intuito debater questões relacionadas à comunicação dos HQs dentro do ambiente acadêmicos. Bárbara Miranda : Por que você escolheu o estudo das HQs como tema das suas pesquisas ?
Flávio Calazans : Fui alfabetizado pior minha mãe com quadrinhos de
Asterix e
Tintin, como convivo com a linguagem dois quadrinhos desde muito pequeno, cerca de três ou quatro anos de idade, muito antes de aprender a ler não sei bem em que momento os quadrinhos chamaram minha atenção como pesquisador, sempre pensei e questionei o que via e lia, fui ensinado assim desde muito pequeno, minha família veio de Coimbra em 1538 para ser “notários” em Itanhaem (donos de cartório e bachareis em Direito, minha formação jurídica vem de uma tradição familiar secular) e Itanhaem foi a segunda vila fundada no Brasil em 1532, lá minha família Andrade (o nome da praça da igreja é meu tio- trisavô) montou o “Gabinete de Leitura” que foi a primeira biblioteca pública no continente da America do Sul.
Usei quadrinhos no meu bacharelado em Direito, no meu
TCC em comunicação, no meu Mestrado e Doutorado na USP (estão no meu livro
PROPAGANDA SUBLIMINAR MULTIMIDIA edSummus sétima edição) e
Pokemon é uma pesquisa de Pós Doutorado, foi feita após minha Livre Docencia que é um tipo de tese de oós doutorado.
Sempre usei quadrinhos em minhas aulas de graduação e de pós graduação. Também usei cinema e Tv !
Bárbara : Que tipos de pesquisas são executadas no Núcleo de Histórias em Quadrinhos do INTERCOM ?
Calazans : Cada pesquisador é livre e autônomo, submete sua pesquisa e três doutores a avaliam separadamente, selecionando as que tem inovação e qualidade cientifica para serem apresentadas no congresso. Os tipos são pesquisas cientificas acadêmicas com rigormetodologico, objetivos, etc cujo objeto seja os quadrinhos, mangá, cartum, charge etc. Incluem-se filmes de cinema e series de Tv baseadas em personagens de quadrinhos, o efeito INTERMIDIA entre quadrinhos e todos produtos da Industria Cultural, de canecvas e camisetas a vídeo-games e cinema, actionfigues etc...
Bárbara : Como foi a criação do Núcleo de Histórias em Quadrinhos?
Calazans : Eu propus à diretoria do Intercom e no ano seguinte montei um prototipo, no terceiro ano já eramos oficialmente um WORKGROUP ou Grupo de Trabalho de pesquisadores, lançamos o livro VOLUME 7 da coleção GT Intercom “Historia em Quadrinhos no Brasil – Teoria e Pratica” com as mais relevantes pesquisas apresentadas , nosso grupo era o mais procurado com plateias cheias de mais de 200 estudantes e pesquisadores, após alguns anos sob minha coordenação elegemos 3 doutores em comunicação para continuar meu trabalho, mas os donos do intercomdecidiram ignorar a eleição feita seguindo o próprio regulamento do Intercom e colocaram uma pessoa externa a nossa dinâmica que sequer era pesquisador de quadrinhos, depois colocaram um pesquisador idoso as vésperas da aposentadoria, e o grupo foi desfeito por desinteresse dos pesquisadores e do publico ; dois ou três congressos depois foi oficialmente extinto sob a responsabilidade de Waldomiro Vegueiro (Eca USP) e seus cumplices Roberto Elisio de Santos, GazyAndraus. Edgard Franco e Alexandre Valença Alvez Barbosa.
Bárbara : Que tipo de informações/ideias os mangás podem fornecer para a discussão em sala de aula?
Calazans :Os mangás, como os quadrinhos da Europa e USA, podem ser usados conforme o interesse de cada professor para ensinar desde matemática ate Economia (Asterix o álbum “Obelix e CIA”, o calvinista da “benção pelo lucro” Tio Patinhas da Disney, etc) ou ciência politica (Titin no Congo, no Tibet, etc, Asterix “ A cizânia” cujo personagem TuliusDetritus é a caricatura de Nicolo Machiavel, etc) etc.
Bárbara : Os mangás podem ser um usados para transmitir uma mensagem subliminar? Existem estudos sobre o tema no
Núcleo? Sem sim, quais estudos?
Calazans : Todas as técnicas subliminares empregadas nas Historias em Quadrinhos descritas por Will Eisner e Allan Morre que desenvolvi no meu artigo também são empregadas no Mangá.
Bárbara : Como professor universitário, você utiliza as HQs para estudo e como instrumento didático em suas aulas?
Calazans : Sim, após ter sido alfabetizado com Asterix e Titin (e aprendendo Historia e Geografia neles, graças a minha mãe, avó e bisavó) sempre usei recursos áudio visuais nas aulas, os 4 cursos na favela Mexico 70 em São Vicente – litoral de SP –quando lecionei para professoras da rede estadual, ecujo resultado foi o primeiro livro sobre hq na escola do Brasil “Historia em Quadrinhos na Escola” edPaulus terceira edição, A idéia é que nem o professor nem o aluno desenhem. Numa primeira fase, o professor deve identificar o que os alunos lêem e pedir que eles tragam material. Iniciei esse projeto com cursos para professores da rede estadual de ensino de São Paulo. Em São Vicente, capacitei para o uso de HQ em sala de aula professores de escolas da favela México 70, que é a segunda maior favela do mundo, só perde para a da Rocinha. Na primeira vez, fui com a idéia de impor o que eu achava que deveria ser lido – Asterix para o ensino de História, Tin-tin para Geografia, super-heróis para Ciências. Tentamos levar isso para sala de aula e a reação foi terrível, porque os alunos não conheciam autores europeus. No meio do curso eu inverti a situação. A proposta, então, foi a de utilizar o material que o aluno trazia. Em primeiro lugar vinha Maurício de Souza, em segundo lugar Disney e em terceiro super-heróis. Mas, chegavam também gibis de treinamento de fábrica e até pornô. O professor fazia a triagem e reaplicava o próprio material. Repetimos esse curso mais duas vezes e tivemos 100% de aceitação. Eles recortavam os personagens e aplicavam no flanelógrafo. Em um pedaço de madeira ou cartolina é grampeada a flanela em cima, ou ainda pode ser usada a própria flanela solta. Depois eles escrevem e colam os balões, enfim, criam sua própria história. Depois, o material pode ser xerocado, se houver verba para xérox. A idéia é trabalhar com o mínimo de verba.
Bárbara : Por que estudar a comunicação em mangás?
Calazans :A HQ é uma mídia visual tanto quanto o cinema, a tv , o outdoor e a fotografia impressa em jornal e revista, o mangá ´e ligado ao Anime (desenho animado), fazendo parte da INDUSTRIA CULTURAL que descreve Adorno, grafosfera segundo a Midiologia de Debray.
Bárbara : Quais estudos estão sendo feitos sobre os mangás no Brasil?
Calazans : Considerando o tamanho continental do Brasil e ser a maior colônia nipônica fora do Japão, considero impossível arriscar uma estimativa do numero de pesquisas em andamento na nossa circunscrição de espaço-tempo. Com certeza pode ser um numero muito maior do que qualquer estimativa minha.
Bárbara : Que impacto os mangás podem “provocar” no comportamento (ou na formação cultural) dos leitores brasileiros?
Calazans : O mesmo impacto dos quadrinhos de super herói, cinema e tv, com a diferença do manga produzido no Japão trazer muitas vezes conteúdo com ensinamentos enquanto os comics trazem apenas ação e super poderes escapistas, e aqui raramente vemos publicado o quadrinho europeu a ponto de ser desconsideravel seu impacto.
Bárbara : Como você avalia os mangás produzidos no Brasil?
Calazans : Fui influenciado pelo Mangá de Claudio Seto e Fernando Ikoma publicados nas revistas da edEdrel dos anos 70, não sou uma fonte isenta, posso dizer que marcaram meu estilo e linguagem como desenhista de quadrinhos e fizeram parte de minha formação de leitor e pesquisador de quadrinhos, juntamente com Crumb, Pichard, Wolinski e Crepax na revista GRILO e Will Einsner e AllCap na revista GIBI, todas revistas vendidas em bancas de jornal nos anos 70. Sobre os atuais, devemos observar se tratam-se de meras copias de material nipônico ou se trazem algo de intrinsicamente brasileiro que os distinga, se alcançam um status de produto cultura, maduro e autoral(como percebemos nas mulheres da geração 24 que revolucionaram a diagramação espacial da página e requintaram o recurso de flash back), caso contrario nem merecem ser objeto de uma pesquisa séria.
Bárbara : De suas considerações sobre a pesquisa e o estudo dos mangás na Comunicação Social.
Calazans : Na minha avaliação pessoal e subjetiva a mídia historia em quadrinhos é muito desvalorizada nos cursos de comunicação (embora desde McLuhan nos anos 70 ter colocado os quadrinhos como preparação para entender a signagem narrativa visual da TV e Cinema no livro “Os meios de comunicação como extensão do homem” ) e pouco estudada tanto na forma de Quadrinhos tipo Comics dos USA ou Mangá do Japão.
REFERÊNCIA
PASSARELLI,Fernando.Flavio Calazans. Deus no gibi. Disponível em:< https://www.deusnogibi.com.br/entrevistas/flavio-calazans/ >. Acesso em: 10 de set. de 2020.