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09/10/2020 às 20h16min - Atualizada em 09/10/2020 às 19h05min

O êxodo de empresas e pessoas da Argentina

O país está passando por uma das fases mais difíceis de sua história e as atitudes tomadas pelo governo para enfrentar a crise, não vem gerando bons resultados e muitos decidiram deixá-lo

Leonardo Leão - Editado por Ana Paula Cardoso
Crédito: Reuters
 A saída de empresas e pessoas da Argentina vem gerando muita preocupação para o governo e para aqueles que ficaram. O país que até o início do século passado era o segundo que mais recebeu imigrantes europeus, atrás apenas dos Estados Unidos, hoje vive uma realidade bem diferente. Muitos países sul-americanos estão sofrendo com os efeitos da pandemia em suas economias, mas o caso da Argentina se apresenta como um dos mais graves.

 Os argentinos já viviam uma forte resseção antes do coronavírus, para muitos especialistas a situação durante a pandemia foi, na verdade, a gota d’agua de uma crise já estabelecida. O país está passando pela quarentena mais longa do mundo e os casos vêm aumentando nos últimos meses. Tudo isso, deixa a sociedade e os investidores ansiosos e preocupados.

 No início da quarentena, o governo chegou a impor um decreto presidencial que proibia as demissões, na intensão de manter os empregos dos trabalhadores. Entretanto, essa decisão acabou dificultando a vida das empresas. Outra medida polêmica foram os congelamentos de preços. O aumento no numero de casos, a situação econômica do país e as suscetíveis prorrogações na duração da quarentena fizeram com que muitas empresas decidissem deixar a Argentina.

 As políticas econômicas adotadas pelo governo de Alberto Fernández, não foram recebidas com muito entusiasmo pelo mercado. Foi criado um novo imposto de 35% sobre os gastos em cartão de credito realizados em dólares, o imposto também vale para produtos importados ou compras em lojas estrangeiras. Essa nova cobrança, somada ao limite de 200 dólares na compra da moeda americana, prejudica as multinacionais.

 

O caso mais emblemático foi o da loja chilena de departamentos Falabella, que possui mais de 20 estabelecimentos, e mesmo assim, declarou seu desejo de deixar o país. Outras empresas como a espanhola Glovo, a norte-americana Nike e a chilena Sodimac também deixaram o território. A Coca-Cola, as fabricantes de tintas e resinas para automóveis Basf e Axalta, a francesa do setor de autopeças Saint-Gobain Sekurit, decidiram migrar para o Brasil.

 Mas, a situação mais preocupante está no setor de linhas aéreas. A Emirates, Qatar e a Air New Zeland retiraram o país de suas trajetórias. A Latam declarou que chegou a negociar uma diminuição nos salários dos funcionários com o governo, mas a conversa não gerou resultados. A empresa aérea low cost Flybondi, é a única que não demonstra interesse em se retirar. O longo período de inatividade no setor e as questões econômicas da Argentina são as principais causas dessa debandada.

Uruguai: o destino perfeito
 As empresas buscam um lugar mais receptivo ao mercado, com uma economia pouco turbulenta e com uma baixa interferência do Estado. O Uruguai vem se destacando, por apresentar todos esses atributos. Diferente do caso da Argentina, onde o governo pretende manter o déficit fiscal financiando-o com emissão monetária, gerando um aumento na inflação, o território uruguaio apresenta uma preocupação em relação à austeridade. Os resultados positivos do país no combate à pandemia, devido a um excepcional sistema de saúde pública, também chamaram a atenção.

 A Argentina pretende aumentar o imposto sobre a riqueza para manter sua reserva de dólares, que está em torno de 42 bilhões.  Já o Uruguai, possui um projeto para atrair imigrantes que possam investir e gerar riqueza para o país. O resultado de tudo isso é uma fuga de capital e também de mentes que decidiram atravessar o Rio da Prata. Segundo o Ministério do Interior, aproximadamente 13 mil argentinos se mudaram para o Uruguai, durante os meses de abril e setembro.

 O governo uruguaio facilitou a obtenção de residências, para que aqueles que quiserem viver no país precisem apenas morar pelo menos 60 dias por ano e comprar um imóvel com um valor acima de US$ 388 mil. Também é possível obter a autorização de residência, se o imigrante investir mais de US$ 1,7 milhões em um negócio que gere no mínimo 15 empregos em tempo integral. O país oferece também, um incentivo fiscal para novos residentes com uma duração de dez anos.

 O Uruguai é um bom exemplo para os argentinos, mas eles seguem com os velhos costumes protecionistas, intervencionistas e populistas. As consequências são visivelmente graves, 13,1% da população está desempregada, apresenta uma inflação de 41%, uma forte desvalorização no valor de sua moeda e no preço de seus títulos, podendo ser uma grande possibilidade de mais um calote, mesmo depois de ter parte de sua dívida renegociada. O êxodo de pequenas, médias e grandes empresas e também de pessoas é uma grave consequência de seus erros.

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