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16/10/2020 às 01h03min - Atualizada em 16/10/2020 às 00h43min

Podcast: a expansão da comunicação

Do rádio aos downloads na internet, a entrega de conteúdo se adapta à atualidade

Jéssica Meira - Editado por Bruna Araújo
Divulgação

De olhos fechados, deixando a mente atenta e somente com os sons a guiar. O ambiente é frio e muito iluminado, não há muito para ver, apenas ouvir e todos os sons ao redor denunciam o lugar onde você está. Ao fundo uma voz grave e forte direciona os seus pensamentos, roteirizando o que vem a seguir, ele é o locutor e você está em um estúdio de rádio.


O tempo avança entre anúncios, músicas e interferências que buscam entreter o ouvinte. Apenas a imaginação tem influência por aqui e a cada novo som, nos perguntamos: “o que está por vir?”.


Hoje em dia, você seria capaz de reconhecer vozes e sons, desvendar personalidades, prestar toda a sua atenção utilizando apenas um dos seus sentidos? Embarcaria em uma onda sonora completamente instigante, mas utilizando apenas o seu mais instintivo poder, a imaginação?


Quem já embalou dias e noites ao som do rádio, sabe que este formato de comunicação tem um sabor especial, nostálgico. E aqueles que realmente conhecem a história deste mecanismo, reconhecem a sua vital importância no universo da comunicação mundial, seja em guerras, acontecimentos importantes e históricos, ou como grande mobilizador de uma massa gigantesca, em tempos de direitos humanos, resistência e luta. 


A transmissão tão famosa de “Guerra dos mundos” em 1938, com tamanha veracidade, tráz ao conhecimento dos mais novos e a lembrança dos mais antigos, a verdadeira intenção do que se faz atrás dos microfones e mesas de controle, a verdadeira informação, a intensidade dos sons e um talento para a comunicação, que em seguida seria utilizado para tantas e tantas outras transmissões.


O fato é que com o passar do tempo, o rádio deixou de ser o principal meio de comunicação utilizado, para dar voz a outros tantos, como a internet e a televisão. Porém, mesmo que questionem sua integridade, o rádio se manteve vivo e cumprindo seu papel: levar informação de qualidade àqueles que dela precisavam, como municípios distantes, aldeias, vilas e tantos outros pedaços de terra.


Podemos dizer que mais do que isso, o rádio criou “filhos”, ampliou seu modus operandi e em pleno século XXI, trouxe um formato novo, mas com o aguçar das transmissões tradicionais: os podcasts.


Segundo o pesquisador, Eugênio Paccelli Freire, da “Base de Pesquisa em Educação e Meios de Comunicação” da Universidade do Rio Grande do Norte (UFRN), “podemos definir podcast como uma produção de áudio que difere da rádio tradicional pela maior maleabilidade de acesso e produção de conteúdo”. Freire (2011) ainda afirma, que em sua maioria, essas produções realizam-se por meio de falas de participantes, interagindo sobre diversos assuntos, com a exposição de conteúdos e troca de experiências acerca do tema.


Com o decorrer do tempo, muitas empresas foram aderindo aos podcasts como uma produção de conteúdo alternativa, confirmando a necessidade de adaptação que essa nova ferramenta trouxe.


“O conceito de comunicação sonora é o mesmo do rádio, uma coisa não substitui a outra. O podcast é uma forma democrática de ter conteúdos, anteriormente, gravados e guardados no acervo da rádio, no momento que você quiser, podendo ser consumido na íntegra, ou ouvido em trechos, em pílulas”, afirma o professor e radialista Valter Calis. Ele ainda destaca que hoje os podcasts não precisam estar presos a uma regra específica, podem utilizar suas particularidades para criar conteúdos muito bem produzidos e criativos, como os que vemos atualmente.


E para aprofundar ainda mais no quesito criatividade, os podcats deixaram de ser uma extensão das empresas de comunicação, como a Folha, Você S.A. e outras instituições mais tradicionais, que produzem este tipo de conteúdo, de forma totalmente informativa. Esse engenhoso formato tem se tornado um bom amigo dos amantes das multitarefas, com conteúdos voltados inclusive para entretenimento e o debate de assuntos comuns em nosso cotidiano, intensificando sua representatividade com seu público.


Um exemplo muito divertido de podcast de entretenimento, é o recente “Lide com isso”, disponível no Spotify e outras plataformas. O programa que se mantém sobre a ousadia e o comando de três comunicadoras, tem alcançado um público diferente e levado bom humor, experiências e informação a todos os seus ouvintes.


“Queríamos trazer pautas que conversamos com as amigas no bar, com apoio de especialistas nos assuntos e gente para contar suas próprias histórias”, afirma a jornalista Giúlia Henriane, uma das idealizadoras do projeto. O programa que fala abertamente e de forma descontraída sobre relacionamentos, iniciou seu planejamento há cerca de um ano e está circulando à quase um mês.


Monick Arruda, analista de conteúdo, mais uma integrante deste time, acredita que um dos pontos fortes desse podcast, são os diferentes pontos de vista de cada uma delas (Giúlia: casada, Beatriz: namora e Monick: solteira), o que além de trazer representatividade aos conteúdos e aos ouvintes, faz com que tudo fique ainda mais interessante.


O programa é gravado quinzenalmente, vai ao ar toda quinta feira e aborda subtemas dos mais diversos, como relacionamento a distância e primeiro encontro, não apenas entregando conteúdo bem humorado e de valor, mas instigando seu público a repensar e porque não, formular opiniões sobre a vivência dos personagens retratados, muitas vezes até as próprias podcasters.


O podcast se tornou um conteúdo democrático e diverso, atraindo de comunicadores a leigos. No início as produções eram voltadas a conteúdos mais profissionais, mas logo deram lugar a outros tantos assuntos, sejam eles, relacionamentos, esporte, comédia popular e muitos outros. Rodrigo Honorato, social media, consome esse formato de conteúdo desde 2017, através de indicações no trabalho e esse consumo era voltado apenas a carreira, somente no final de 2018 conheceu as produções voltados para entretenimento, “No final de 2018 para 2019 eu escutei meu primeiro podcast: ‘Um milkshake chamado Wanda’, é perfeito esse podcast. Eu lembro que quando ouvi, ele tinha uma pegada mais diferente dos outros, ele tem blocos, não é uma conversa única e foi transformador! Eu vejo que consigo deixar meu dia mais leve e ainda continuar fazendo as minhas coisas, me deixando informado”. Rodrigo complementa, que acredita que esse formato de podcast, mais voltado para o entretenimento, tem o poder de atrair mais público do que os conteúdos profissionais.


Fato, independente do conteúdo, do formato de produção, do público e de tantas outras especificidades, os podcasts vieram para ficar e seduzir uma massa de grandes admiradores do rádio. Até mesmo para aqueles que não gostavam/gostam tanto assim, esse formato tem as suas grandes vantagens, como: a praticidade, podendo ser ouvido no carro, no caminho para o trabalho ou na acadêmia; conteúdos de rápida absorção, o que te mantém informado, atualizado e interagindo com o que lhe é entregue; sem contar a extensão gigantesca de assuntos, afinal hoje em dia se acha de quase tudo em formato MP3, pronto para download, disponível nas principais plataformas, a um clique de distância.


Não existe formato de conteúdo melhor ou pior, existe o público certo para o mecanismo certo. Podemos dizer que o que rege a lei da comunicação neste século e possivelmente nos outros que estão por vir, é a democracia, a liberdade de expressão e principalmente a sua forma favorita de consumir informação, se comunicar.

 

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