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16/10/2020 às 15h34min - Atualizada em 16/10/2020 às 15h32min

A camisa 7 do Santos para um condenado

Mesmo com uma condenação por estupro, o eterno garoto da vila retorna ao time que o criou, como se nada tivesse acontecido

Junio Silva - Editado por Bruna Araújo
Pra quem não consegue comprar com o salário do mês a ração do cachorro do outro, a justiça parece ser só mais uma daquelas palavras que não passam de letras.

Nas últimas semanas, a imprensa esportiva, tão carente de bons jogos que rendam boas discussões, acabou encontrando uma pauta que rapidamente virou assunto.

O menino – agora homem – das pedaladas estava de volta ao Santos.

Mas com uma grande diferença entre o Robson que brilhou no início dos anos 2.000, indo para a Europa em seguida como grande promessa, e da versão mais madura de Robinho.

Em sua bagagem, além de algumas passagens sem muito destaque por times importantes no exterior, Robinho também trouxe uma condenação por estupro.

A linguagem sacana do direito diz que Robson de Souza não deve ser considerado culpado até que o caso seja encerrado, como manda a lei. Por enquanto, o processo ainda tramita nas mais diferentes instâncias existentes.

Mas é engraçado. Enquanto para uns a presunção de inocência funciona, outros são presos na hora por conta de uma garrafa de pinho sol na mochila.

Não precisa entender nada de direito, processo ou vade mecum, pra ver isso acontecendo.

Quando mais um sobrenome comum comete pratica algum crime, mesmo que seja dando uma de ladrão de galinhas que se suja atoa, sua vida vira de cabeça para baixo. O inferno da cadeia, a burocracia, as dificuldades em recomeçar depois de uma condenação.

Já Robinho, que faz parte do seleto grupo onde a justiça é tão justa que acaba sendo injusta, ganha a camisa 7 do Santos Futebol Clube.

Se antes o eterno menino da vila era inspiração para muitas crianças por conta de seu futebol, hoje, o rei das pedalas é só mais um exemplo de como a Justiça só é justa em alguns casos. Funcionando para uns, enquanto os outros só ouvem falar e chupam dedo.

O episódio fez com que a diretoria do peixe fosse engolida pela onda da sensatez, revoltando parte da imprensa, movimentos sociais e torcedoras do clube.

Não pegou nada bem trazer de volta, e ainda com status de ídolo, alguém que foi condenado por estupro, ainda que a sua culpa ou inocência ainda não tenha sido provada.

Talvez o motivo de uma decisão tão equivocada seja uma ousada estratégia motivacional para sua base, que há alguns anos não lança um novo “menino da vila” no futebol brasileiro.

Com a contratação de Robinho, mesmo em meio à polêmica, a diretoria santista estaria tentando incentivar seus jovens jogadores a trabalhar duro para se tornarem profissionais e, assim como o eterno garoto da vila, ter status suficiente para fazer parte do grupo que é defendido pela justiça, ao invés de só ser condenados?

Vai saber.

No país onde a burocracia divide criminosos entre aqueles que só são mais um número de CPF por aí e os que têm nome, fama e dinheiro, tudo pode acontecer.

Para denunciar casos violência doméstica e abuso sexual, ligue para a polícia ou para a Central de Atendimento à Mulher, discando 180.

Nota do Editor: No dia 16 de outubro, o Santos anunciou a suspensão do contrato com Robinho. A decisão foi tomada após a pressão de patrocinadores e conselheiros. O atleta é acusado de participar do estupro coletivo de uma jovem na Itália.
 
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