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18/10/2020 às 12h56min - Atualizada em 18/10/2020 às 12h49min

Chilenos vão às urnas em plebiscito nacional para aprovar ou não nova Constituição

País está dividido desde os protestos que se espalharam em outubro de 2019, o plebiscito convocado acirrou essa polarização

Cesar Fontenelle - Editado por Ana Paula Cardoso
Protesto em Santiago que forçou o presidente Sebastián Piñera convocar plebiscito nacional. Edgard Garrido/ Reuters

No próximo domingo (25) os chilenos vão votar em plebiscito aprovado pelo presidente Sebastián Piñera para reescrever ou não a Constituição do país, que data da ditadura de Augusto Pinochet.
 
Depois de intensos protestos em 2019, contra o aumento da tarifa da passagem do metrô, Piñera concordou em revogar o aumento e convocou plebiscito nacional. A princípio, a votação seria no dia 26 de abril, mas por causa da pandemia do novo coronavírus, a data foi remarcada para 25 de outubro.
 
Na consulta, haverá duas cédulas, nas quais os chilenos deverão responder se querem ou não uma nova Constituição e que tipo de órgão deve escrever a nova Carta Magna, a Convenção Mista Constitucional ou a Convenção Constitucional.
 
Não há no país uma alternativa ao voto presencial. Assim, os chilenos que estiverem infectados no dia da votação não poderão exercer a sua cidadania. As normas sanitárias impedem que eles e seus contatos próximos quebrem a quarentena. O Governo de Piñera alertou que as pessoas que violarem o isolamento e forem descobertas pela polícia podem ser detidas e mandadas de volta para casa.
 
A polaridade política intensa que assola diversos países neste momento, atingiu em cheio o Chile. Javier Salinas, 23, vive em Santiago e votará pela nova constituição. Ele contou que desde o dia 18 de outubro de 2019 – quando os protestos se intensificaram com  a entrada de grupos organizados de manifestantes que se rebelaram em toda a cidade – o país vive “uma polarização tremenda, na qual os extremos políticos se sobressaem, e o centro já não existe".
 
Salinas, que se diz de centro-esquerda, lamenta a divisão de seu país. “Sempre fomos vistos no exterior como um país unido, que consegue sair com todos juntos de desastres naturais, mas agora estamos perdidos. Os extremos estão se enfrentando nas ruas”, contou.
 
O jovem ainda disse que votará a favor para que a nova Constituição garanta educação, saúde, os direitos aos trabalhadores e direito a uma vida digna aos chilenos. Perguntado sobre a atual Carta Magna ter sido aprovada na ditadura de Pinochet, Salinas disse que foi escrita pelas mesmas pessoas que “mandaram matar quatro mil pessoas no país”, declarou.
 
Carlos Lagos, 27, votará no dia 25 contra a mudança. Ele conta que é contrário, pois não vê necessidade em mudar a atual Constituição. Para ele, o plebiscito do próximo domingo, tem origem na força e violência, “pois se o presidente não convocasse a votação, [os manifestantes] seguiriam queimando e destruindo o país. Por isso, para mim, essa nova Constituição seria nula e ilegítima”, explicou.
 
Lagos, afirma ser de direita, e quando questionado sobre haver necessidade de mudanças nos direitos sociais dos cidadãos, ele disse que “as demandas sociais podem ser solucionadas mediante leis, não mudando de Constituição”.
 
Outro argumento usado por Lagos é o alto gasto para escrever o documento e o longo tempo de conclusão, assim, de acordo com ele, trará vários anos de incertezas econômicas, sociais e políticas. “O país está em uma crise desde o início dos protestos em outubro de 2019, somado a crise da Covid-19, não podemos seguir gastando dinheiro em coisas inúteis”, concluiu.
 
Uma fonte, que prefere não se identificar por medo do ataque de opositores, votará também a favor da mudança. Para ela, a atual Constituição chilena tem várias falhas, como o não reconhecimento dos direitos dos povos originários. “Caso seja aprovada a mudança, vão criar leis que ajudarão a acabar com muitos problemas no Chile como, por exemplo, a desigualdade social”, disse.
 
Essa fonte se diz não pertencer a nenhum espectro político, diz fazer parte de um grupo de chilenos que não fazem parte de partido político. “Somos gente que sabe o que quer, apenas o melhor para o povo”.  
 
Em caso de  “Rejeição”, Chile seguirá regido pela atual Constituição, que foi aprovada em 11 de setembro de 1980. Por outra parte, se a opção “Aprovo” ganhar, será realizada uma nova eleição para escolher o grupo dos constituintes, que serão encarregados de escrever a nova Carta Magna chilena.
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