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23/10/2020 às 10h52min - Atualizada em 23/10/2020 às 10h20min

A arte do cinema: limites entre a realidade e a ilusão

Efeitos visuais em artistas mortos. Uma forma de trazê-los de volta à vida?

Thaís Cordeiro - Editado por: Gustavo H Araújo
Reprodução: Paul Walker; Chadwick Boseman; Carrie Fisher
Os efeitos visuais trouxeram um caminho de vastas possibilidades para a sétima arte. Nos últimos tempos, as técnicas de computação gráfica estão cada vez mais próximas de ultrapassar os limites entre a realidade e a ilusão. Os rumores de que o astro de “Pantera Negra” Chadwick Boseman - falecido em agosto deste ano, vítima de um câncer -, retornaria ao papel do herói no próximo filme da franquia de forma digital, levantou questionamentos sobre a utilização de recursos que sejam capazes de substituir a presença física de artistas.

Falecido em 2014, o ator Robin Williams deixou em seu testamento uma restrição que proíbe o uso de imagens suas em filmes e propagandas por 25 anos após a sua morte. Em outro caso, a família de Whitney Houston aprovou, em 2019, a turnê “An Evening with Whitney Houston” protagonizado pelo holograma da cantora, que morreu em 2012, além de diversos projetos incluindo o lançamento de um novo disco e um musical na Broadway. A reação dos fãs foi, em grande parte, negativa. Muitos comentaram sobre a falta de realismo do holograma, que não foi capaz de “enganar” o suficiente para trazer a energia da diva.

Situações parecidas que também dividiram opiniões foram os casos dos filmes das fraquias "Star Wars" e "Velozes e Furiozos". No primeiro, a aparição digitalizada da Princesa Leia, personagem de Carrie Fisher, morta em 2016, no filme “A ascensão Skywalker”. A atriz teve o corpo unido com imagens de arquivo do seu rosto e o uso de computação gráfica. Mesma técnica utilizada com o ator Paul Walker, que morreu durante as filmagens de “Velozes e Furiosos 7”. Ele teve suas imagens antigas unidas por efeitos visuais e a ajuda dos irmãos do ator para a despedida do personagem Brian O’Conner. 

Alguns futuristas de Hollywood acreditam que a possibilidade de trazer artistas mortos de volta às telas, através dos efeitos visuais, para produções completas seja não só real, como muito próxima de acontecer.

Na prática, a técnica envolvida para gerar uma performance totalmente produzida por computador, que seja capaz de substituir o ser humano de carne e osso em toda a sua complexidade, além dos elementos psicológicos e emocionais, torna essa possibilidade um objetivo ainda distante.

A crítica de cinema Alison Willmore, do site Buzzfeed, acredita que Hollywood não desistirá da ideia de criar atores totalmente digitais. "O ator sintético não dá chiliques no meio de seu contrato sintético", brinca. "Ele é o melhor de todos os atores. E, por mais que pareça algo de filmes sombrios e futuristas, não acho loucura que Hollywood e a indústria da música tenham vontade de criar o artista digital, seja ele uma criatura nova ou um ‘fantasma’ do passado."

Seja como for, o uso do CGI (Computer generated imagery) para trazer atores falecidos à vida e expô-los em filmes levanta questões sobre consentimento. Como saber que a exposição pós-morte de sua imagem era o desejo do artista? Será que a permissão concedida por parentes é o suficiente para o uso dela?

Diversos filmes e produções artísticas utilizam há vários anos pessoas parecidas com figuras públicas e históricas para compor suas narrativas, os sósias. Uma tática para o uso de imagens que não foram legalmente possíveis ou permitidas para serem utilizadas pelas pessoas que estão sendo, de fato, representadas. Em casos como esse, e no atual uso da técnica de criação de vídeos falsos por inteligência artificial, os chamados Deepfakes, o criador não se limita por permissões, podendo usar a imagem de alguém para fazer ou falar algo que talvez ela não estivesse de acordo se tivesse escolha. A utilização das imagens de artistas falecidos não aprovadas previamente por eles em produções seria diferente do uso dessas técnicas?

Embora seja apreciada a sensação de continuidade, em que é possível ver um grande artista de volta aos palcos e às telas, como forma de preservar a ilusão de realidade em shows e filmes, é importante pensar sobre os desafios morais e éticos que acarretam no uso do CGI de artistas que já não estão vivos e refletir sobre todas as características que os tornaram tão grandiosos, o que, certamente, vai muito além de uma simples imagem.
 
Referências
 
O Globo. “Chance de Chadwick Boseman ‘reviver’ no próximo ‘Pantera Negra’ gera debate: Hollywood quer derrotar a morte?” Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/chance-de-chadwick-boseman-reviver-no-proximo-pantera-negra-gera-debate-hollywood-quer-derrotar-morte-24699039. Acesso em: 20 de outubro de 2020.

BBC. “Ídolos mortos de Hollywood poderão estrelar novos filmes?” Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/05/150522_vert_cul_atores_virtuais_vale_ml. Acesso em: 20 de outubro de 2020.

El Pais. “Robin Williams blindou o uso de sua imagem mesmo depois de morto” Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2015/03/31/cultura/1427813184_083287.html. Acesso em: 20 de outubro de 2020.

Media Engagement UT. “The Ethics of Computer-Generated Actors” Disponível em: https://mediaengagement.org/research/the-ethics-of-computer-generated-actors. Acesso em: 20 de outubro de 2020.
 

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