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23/10/2020 às 17h39min - Atualizada em 23/10/2020 às 17h26min

Feminicídio: ficção ou realidade?

O alerta que a série nacional da Netflix "Bom dia, Verônica" traz ao público, ultrapassa a ficção.

Yasmin Lima - Revisado por Jéssica Natacha
Atores principais da série "Bom dia, Verônica" (Foto: Reprodução/ Netflix)
O Feminicídio é o assassinato de uma mulher, causado simplesmente pelo fato dela ser mulher, ou seja, o homicídio acontece em razão do gênero. O crime pode resultar de violência doméstica quando o criminoso possui laço familiar com a vítima, por objetificação ou até mesmo pela misoginia em relação ao sexo feminino.

Segundo dados apresentados pelo Ministério da Mulher, da Família, e dos Direitos Humanos, durante o primeiro mês da pandemia do coronavirus, houve um aumento significativo no número de ligações e denúncias. Os números se tornaram mais expressivos durante a quarentena, pois na maioria dos casos a vítima está isolada com o agressor. Durante o período de isolamento, o combate ao feminicídio passou a ser ainda mais comentado pelas pessoas, pelo governo e pela mídia, que nos últimos meses estreou séries e filmes que relatam casos de estupro, abuso sexual, violência doméstica e feminicídio, com o intuito de não só dar voz a essas vítimas, mas também de combater o crime.

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), desde 2015 o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de Feminicídio. O Mapa da Violência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apresenta dados que confirmam que o número de mulheres assassinadas no Brasil aumentou entre 2003 e 2013.

A plataforma de streaming Netflix, estreou há pouco tempo a série brasileira "Bom dia, Verônica". A trama conta a trajetória da escrivã Verônica Torres (Tainá Muller), quando ela decide investigar dois casos envolvendo mulheres que foram esquecidas e deixadas de lado na Delegacia de Homicídios.

A série policial, baseada no livro de Raphael Montes e Ilana Caso, lançado em 2016, começa com um suicídio. Uma mulher chega na delegacia de homicídios de São Paulo e faz uma denúncia ao delegado Wilson Carvana (Antônio Grassi) sobre um homem que dopou e abusou sexualmente dela. Em seguida ela tira à própria vida. princípio a escrivã estava focada no caso dessa mulher que foi enganada por um golpista na internet, porém, mais tarde ela se deparou com o caso de Janete (Camila Morgado), a esposa de Brandão (Eduardo Moscovis), um serial killer inteligente, calculista e perigoso. Brandão não apenas agride sua esposa, como também mata mulheres de formas assustadoras.

A série teve muita repercussão nas redes sociais e dividiu opiniões. A ficção e a realidade realmente se encontram? Até que ponto as vítimas estão sendo representadas? Dar visibilidade ao cenário grave do feminicídio é de extrema importância, mas é necessário que o tema seja tratado com cautela, apresentando todos os aspectos psicológicos dos envolvidos.

Segundo Danielle Dumas, atriz formada no Teatro Lala Schneider de Curitiba, existe toda uma preparação para que o ator consiga passar de forma clara e próxima da realidade, o que o contexto da cena pede, mas ainda assim, ela afirma que não tem como ser totalmente real. "Há um grande distanciamento, pois a gente (os atores) nunca iremos conseguir sentir o que aquelas pessoas sentiram realmente na pele para retratar fielmente. Mas ao mesmo tempo temos um estudo profundo para tentarmos entender como é ter um emocional muito perturbado".

A verdade é que a vida real é diferente da ficção. Até porque nem sempre terá alguém disposto a lutar e ajudar a vítima. Um exemplo disso é a série da "Bom dia, Verônica" em que a personagem Verônica luta contra todos para acabar com o esquema criminoso montado por Brandão, que tem um alto cargo na Delegacia de Homicídios

Na trama os acontecimentos são mostrados de uma maneira bem mais violenta para retratar a realidade e, mesmo que a agressividade em que foi transmitido os episódios tenham sido um pouco a mais, a história alerta e reforça sobre a existência do crime doméstico.

É preciso que os telespectadores tenham um olhar diferente para a série, é necessário que ela seja assistida com muita atenção e que cada detalhe seja bem observado. Apesar de ser fictícia, as cenas se remetem à realidade e quando vista por 
quem é de fora, abre a mente dos que não faziam ideia do que acontecia lá dentro.

As mulheres precisam se apoiar nas leis e nos meios de denúncia já existentes para se protegerem e garantirem a segurança. Embora a violência contra mulher seja tema de muitos debates, por meio de palestras, novelas, filmes e noticiários; mesmo que existam números e provas que comprovem toda a violência, ainda não é o suficiente, a misoginia estrutural não consegue ser desfeita.

Então denuncie através do número 180, faça um boletim ou procure um centro de atendimento para mulheres vítimas de violência.

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