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30/10/2020 às 02h46min - Atualizada em 30/10/2020 às 02h36min

Criativo e inovador, desesperado e inseguro

Como a pandemia tem te afetado e até que ponto isso mexe com seu lado criativo?

Jéssica Meira - Editado por Bruna Araújo
Linkedin - Victor Aguiar (by Bruce Mars)

Criatividade: “inventividade, inteligência e talento, natos ou adquiridos, para criar, inventar, inovar, quer no campo artístico, quer no científico, esportivo etc”, segundo o dicionário brasileiro.


É interessante pensar no ser criativo, porque todos nos moldamos com o tempo e as experiências vividas, modificamos quem somos e com isso alguns sentidos afloram, ou simplesmente morrem, neste caso consideramos também a criatividade. Existem formas e maneiras diversas de expressar isso. Segundo o empresário do marketing digital Neil Patel, criatividade é “o ato de ser criativo, palavra que define a capacidade de criar e de inventar. Também indica a qualidade de quem possui ideias originais ou se mostra capaz de propor novos enunciados. Não é apenas um talento, mas uma competência que, como tal, pode ser desenvolvida e aperfeiçoada”.

 

Quando crianças reagimos e diversas situações do cotidiano, que nos provocam e incentivam a sermos criativos e usar nosso instinto, seja em casa com a família ou entre amigos. Com o advento da tecnologia essa “inovação precoce” vem sendo cada vez mais testada e expandida. Muito do que nossas crianças conseguem fazer hoje, era impensável há poucos anos. Como adultos assumimos uma posição, por muitas vezes, passiva a esse avanço, deixando com que as situações sigam um fluxo robótico, mecânico, que se tornou abominável, mas muito mais comum do que se imagina.

 

O ano de 2020 mal deu seus primeiros passos e uma mudança global e radical mudou o formato das coisas. Com o avanço dos meses, percebemos que a pandemia que estava “golpeando” o mundo, poderia ficar por mais tempo do que imaginávamos e a partir daí, todos precisavámos repensar muito. O isolamento tornou-se uma necessidade. Famílias que antes mal conviviam, ficaram mais ligadas do que nunca, empresas que estavam no seu auge, despencaram e ruíram, milhares de pessoas ficaram desempregadas e encurraladas em busca de um plano B.

 

A demanda e as exigências aumentaram, seja para aqueles que lutavam e ainda lutam por seus cargos dia após dia, ou para quem busca uma nova oportunidade. Manter-se não é mais a ideia, agora a palavra da vez é “reinvente-se”. Não basta ser bom, é preciso se destacar e neste sentido os cursos de capacitação e aprendizado vieram com tudo durante a quarentena.


Muitas instituições passaram a aderir ao ensino EaD em boa parte dos seus cursos e aquelas que já trabalhavam neste formato, aumentaram muito mais o seu faturamento neste período em que o mercado, em sua maioria, entra em crise.

Segundo levantamento do Google, a procura por cursos de especialização a distância tiveram um aumento de mais de 130% neste período da pandemia. A plataforma Udemy, líder no mercado de cursos a distância, aponta que o número de matrículas nos cursos aumentaram 425% em escala mundial e 95% em relação ao Brasil. O mundo inteiro precisou se adaptar aos novos formatos e a tecnologia não é mais uma opção, é item de extrema necessidade.

 

Priscila Coutinho, 32, faz parte dessa porcentagem de brasileiros que se viu buscando recolocação e capacitação profissional: “No começo houve muitos cursos gratuitos ou com desconto, fiz o máximo que eu consegui, acabei fazendo um de maquiagem e agora dou cursos de automaquiagem a distância”

 

Assim como tantos brasileiros, Priscila decidiu investir o que podia em agregar novos conhecimentos e utilizá-los para gerar novas fontes de renda. A estudante de jornalismo que mora no interior de São Paulo, mais precisamente na cidade de Ipaussu (SP), acredita no crescimento da tecnologia e alerta para a necessidade em buscar conhecimento na área para um futuro pós pandemia: “O mercado está necessitando de inovação - muita coisa passou a ser delivery, home office, online - a tecnologia passou a ser essencial, é natural que as empresas queiram funcionários qualificados. O mercado de trabalho vai exigir cada vez mais inovação e criatividade para um recolocação”.

 

São tempos tecnológicos, não há como negar e até mesmo as empresas estão precisando se renovar, mudar sua maneira de pensar em todos os sentidos. O que vem acontecendo é que muitos dos pequenos comerciantes e empresas mais tradicionais, estão afundando junto com a crise, deixando de reconfigurar seus processos, o que tem gerado tantas e tantas falências. Mas afinal o que falta ao empresário 2020/2021 para que consiga se manter firme neste período tão instável do país?


Conversei com Luiz Buono, sócio e principal líder da agência Fábrica, especializada em criar narrativas para marcas. Criativo e bem humorado, o empresário compartilha conteúdos de grande valor em seu perfil do Linkedin - principal rede social para negócios - com relação ao seu dia a dia como profissional e também sobre a empresa. 


Luiz garante que o segredo da Fábrica é sua cultura, seu diferencial é pensar nas pessoas, não apenas em relação aos clientes, mas seus colaboradores também: “temos uma cultura muito humana e positivista, o que acaba ajudando as nossas pessoas a se sentirem melhor”. A agência se mantém a todo gás, mesmo neste período de pandemia, segundo o líder, os clientes perceberam que era o momento ideal para saber se comunicar da forma certa, se posicionar no mercado. Por conta disso, além de manter a carteira de clientes, agregaram novos clientes.

 

Empresas reagindo (ou não) investindo no lado humano e na comunicação, profissionais se reinventando e a tal da criatividade sendo cada vez mais colocada a prova. Segundo pesquisa realizada pelo IBGE e divulgada em julho, 716.000 empresas fecharam as portas durante a pandemia e das 2,7 milhões que permaneceram abertas, 70% delas relatou diminuição das vendas e/ou serviços desde que a doença chegou ao Brasil. Com a queda dos negócios, muita gente precisou enfrentar o desemprego ou acionar novas opções de renda. O lado empreendedor do brasileiro precisou vigorar e centenas de desempregados, deixaram de pensar no mercado de trabalho como uma opção, pelo menos não tão cedo.

 

A brasiliense, Vêronica Machado, jornalista e empreendedora digital atuante há 7 anos, assim como tantos brasileiros, acredita na criatividade e nas boas ideias que persistem. Ela é um exemplo de profissional que se reinventa, inicialmente por necessidade, mas se deixando apaixonar por esse universo.“O empreendedorismo se manifesta na maioria das vezes por conta da necessidade. A pandemia gerou muitos desempregos e o desespero de como gerar renda, isso impulsionou algumas pessoas a começar novos negócios com o que podiam. Não sei se o empreendedorismo é a solução para essa crise, mas eu entendo que ele pode ter sido uma solução breve para uns, ou mais permanente para outros, com relação a suas crises individuais. Empreender não é fácil, é uma batalha diária e entendo que isso pode ter despertado várias pessoas para a abertura de um negócio”, aponta.

 

De vendedores de bala, à delivery de comida, o brasileiro realmente precisou aprender a se virar, neste caso podemos sim dizer que o empreendedorismo salvou muita gente, assim como despertou grandes negócios, que por tanto tempo estavam guardados na gaveta. De acordo com o Portal do Empreendedor, mais de 327 mil pessoas se cadastraram como MEI, desde o início da pandemia e os números só tem aumentado. De qualquer forma também precisamos lembrar dos negócios informais, que mesmo não fazendo parte destes números, movimenta uma economia gigantesca, mesmo na instabilidade. 

 

Criativos, inovadores e muito batalhadores, os brasileiros investiram, criaram, movimentaram e estão aos trancos e barrancos saindo de um dos períodos mais críticos do país, em muitos anos. O que nos faz pensar que a criatividade, o reinventar-se é sim muito relativo, como disse no início dessa matéria, afinal ela pode vir nos momentos em que o profissional entra em um “estado de fluxo” no trabalho, como diz Vêronica, ou em um momento de extrema necessidade, como o que estamos vivendo agora. De um jeito ou de outro, quando o mundo exige mudança, é preciso aprender a se adaptar à ela.

 

Para Vêronica: “um profissional criativo é aquele que mais entra no dito 'estado de fluxo' - um estado em que ele simplesmente é um instrumento de fazer o que deve ser feito, de todo o coração, que se perde no tempo, se entrega, se permite colocar a intuição para jogo, dá abertura para ousar mais e essa ousadia é a inovação e a criatividade - esse profissional criativo está mais preocupado em vivenciar a verdade dele, ser quem ele é, procurar a autenticidade do próprio trabalho. Esse é um profissional criativo”.

 

Para Luiz: “uma pessoa criativa é alguém que se respeita, que busca quebrar sua rotina para acessar novos olhares, uma pessoa curiosa, que tem atividades prazerosas que coloca sua mente para passear e assim acessar os insights interiores. Alguém que não se cobra tanto e que busca navegar pela vida como um balão, navegar pelo ar”.

Certos ou errados, na verdade nada disso é realmente importante, até que você descubra o seu melhor. Pode ser que para você um profissional inovador e criativo seja alguém com grande capacidade de “se virar”, se reinventar, o que também tem sentido. Por outro lado pode ser que o criativo seja uma grande incógnita, um mundinho inalcançável, no qual só os mais ousados conseguem chegar.


Na realidade, todas as respostas estão corretas, afinal, não existe uma receita pronta, uma fórmula secreta para se tornar o profissional mais cobiçado, cada um tem seu jeito e suas habilidades de destaque, mas talvez se colocar em foco, ampliar sua visão de futuro seja a melhor maneira de começar.

 

Não sabemos quantas outras crises ainda vamos passar e nem quanto tempo essa vai durar, mas precisamos deixar de enxergar a criatividade como o grande vilão do jogo e torná-lo nosso parceiro no caminho.  Trace metas, conquiste pequenas coisas no seu dia a dia, comece algo novo, se permita mudar, se aventure mais, por que se tem algo que essa pandemia mostrou, é que não existe distância, isolamento ou crise, que pare um profissional, uma pessoa com propósito.

 

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