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30/10/2020 às 11h43min - Atualizada em 30/10/2020 às 08h13min

Para entender a escravidão no Brasil

Lançado em outubro deste ano, o livro Escravidão do jornalista Laurentino Gomes expõe com detalhes a história da escravidão no Brasil.

Isabel Dourado - Editado por Bruna Araújo

Após escrever trilogias de sucesso 1808,1822,1889 o jornalista Laurentino Gomes lançou neste ano o primeiro volume da trilogia Escravidão que aborda sobre a história da escravidão no Brasil. A obra está entre uma das finalistas do prêmio literário jabuti deste ano.

O foco principal do primeiro volume é explicar as raízes da escravidão humana na antiguidade e na própria África antes da chegada dos portugueses. Compreende em um período de mais de 250 anos, entre o início das capturas de escravos pelos portugueses, o primeiro leilão de cativos africanos até a morte de Zumbi dos Palmares. O autor sintetiza os principais pontos da escravidão, costura ideias, traz citações inéditas e chama a atenção do leitor para entender o assunto.

 

Laurentino expõe que a escravidão foi a experiência mais determinante na história do Brasil.

O texto de caráter jornalístico explica ao leitor a história e a herança escravocrata que marcou a humanidade. Mesmo com pesquisas minuciosas e amostragem de dados e estatísticas, Gomes capta a atenção do leitor. No capítulo de abertura, o autor começa com a seguinte frase: "A escravidão é uma chaga aberta na história humana. Suas marcas físicas são ainda hoje bem visíveis na geografia do planeta".

 

O Brasil foi o maior território escravista do hemisfério ocidental por quase três séculos e meio. Recebeu, sozinho quase 5 milhões de africanos cativos, 40% do total de 12,5 milhões embarcados para a América. Como resultado, é atualmente o segundo país de maior população negra ou de origem africana do mundo. Sendo inferior apenas à população da Nigéria.

 

A escravidão é um tema que precisa ser debatido e enfrentado. Chaga que atingiu toda a humanidade, não só o Brasil, a escravidão nem sempre foi ligada a uma raça ou uma cor de pele. Em uma das passagens, Gomes escreve que os historiadores William G. Clarence-Smith e David Eltis calculam que, até trezentos anos atrás o total de escravos brancos, amarelos e indianos na Europa era superior ao número de cativos africanos transportados para a América. Rompe-se então a ideia de que a escravidão tenha sido ligada somente a cor de pele. 
 

Outro ponto debatido pelo autor é que a escravidão se tornou sinônimo da cor de pele negra, origem da segregação e do preconceito racial ainda muito presentes no cenário atual. Essa ideologia racista que passou a associar a cor da pele à condição de escravo é um das características que diferencia a escravidão na América de todas as demais formas anteriores de cativeiro. Apesar da escravidão ter acabado oficialmente em 1888, a lei áurea deixou a população escrava sem qualquer amparo.
 

A escravidão não nasceu do racismo; mas o racismo foi a consequência da escravidão, resumiu o historiador Eric Williams.


Por mais de 400 anos a escravidão foi a base da economia do Brasil. Pessoas foram vendidas como mercadorias e leiloadas por preços baixissimos. Isso causou uma desigualdade material imensa. Negros e pardos —  representam 54% da população brasileira, mas sua participação entre os 10% mais pobres é muito maior, de 78%. 

A concentração de renda, as desigualdades sociais e o índice da violência são ainda retratros da realidade. Ao longo de mais de 400 páginas o autor investiga, escafruncha, e segue no intuito de esclarecer o leitor os caminhos da escravidão, pela via do sofrimento e desamparo, do cativeiro e das marcas que deixaram na humanidade. A dimensão da obra é fundamental para os brasileiros compreenderem os pontos fundamentais da escravidão, tema que deve continuar sendo debatido e estudado.

 

 

 


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