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06/11/2020 às 07h41min - Atualizada em 06/11/2020 às 07h24min

Animação Josep revisita campos de concentração e ditadura de Francisco Franco

O longa chegou ao Brasil através da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Ruan Amorim - Editado por Bárbara Miranda
Fonte : Les Films D’Ici/ Reprodução : Folha de S. Paulo

A arte, em seu caráter transversal, sempre foi perseguida em regimes totalitários por se caracterizar como espaço de fuga e expressão. Embora muito censurada em épocas de domínio facista, é através dela, com o longa-metragem “Josep”, que o diretor francês Aurel revisita campos de concentração e ditadura de Francisco Franco.
 

Com abordagem histórica e roteiro criativo, a animação estreou no Brasil na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O filme acompanha Josep Bartolí, um sindicalista, comunista e grande ilustrador espanhol, que fugiu do seu país para escapar do autoritarismo do regime de Franco. Em sua trajetória rumo à França, o artista foi preso em um campo de concentração feito pelo governo francês, em tese para abrigar os refugiados. 

 

No exercício, o abrigo é lugar de humilhação, surras, fome, sede, frio, doenças e morte. Enfim, o que aprendemos nas aulas de história sobre "líderes" totalitários e os desdobramentos de suas façanhas. Mas, mesmo tendo como pano de fundo a opressão que começou no final dos anos 30, “Josep” não é limitado à voz do Franquismo e destaca a amizade de Bartolí com Serge, guarda do campo de concentração, que ajuda o personagem-título na fuga para o México.

 

Com traços cartunescos semelhantes às criações do desenhista e uma reflexão poética incisiva, a obra dirigida por Aurel foge ao mandamento do comum e se sobressai em sua estreia nos grandes festivais do mundo cinematográfico, como  Cannes e Annecy.

 

 

A  trama se desenvolve através das memórias Serge, já idoso, projetadas para o seu neto Valentin em um diálogo. O passado e presente se retroalimentam pelas lembranças marcantes. As transições entre os tempos são marcadas pela nitidez dos traços e cores quentes no momento da conversa familiar, enquanto falta definição no revisitado, reafirmando o período como opaco sem alegria.

 

A trilha sonora é o fator crucial para amplificar a subversão causada pelas cenas ao telespectador, como ondas telepáticas intensas transmitindo solidão, desespero, vazio e a necessidade de liberdade. O trabalho sonoro atua de maneira impecável ao explorar os sentimentos dos personagens e preencher com muita precisão a construção narrativa. Essa, em todo momento, demonstra a sua autenticidade e riqueza, a partir de um desenvolvimento que não preserva apenas a superfície da história, mas também o núcleo e seus micros detalhes, resultado da criatividade e liberdade poética do diretor.

 

A excepcionalidade da obra fica ainda mais visível quando analisamos a direção de arte marcada pela intertextualidade. O universo “Josep” é exemplar e não economiza em engenhosidade. Os cenários do longa  mesclam-se com os desenhos criados pelo ilustrador espanhol no decorrer do enredo, tornando-se um só. A aposta é certeira e executada com muita maestria, desenvolvida para frisar a transferência de paisagens e servir de homenagem de um artista para outro, ao referenciar uma arte via outra manifestação artística.

 

O reflexo da biografia do design socialista em junção com a capacidade imaginativa de Aurel pode ser conferido por resultados positivos na estreia.  “Josep” é um dos indicados ao prêmio de melhor filme de animação do Cinema Europeu, além de ser selecionado pela votação do público para concorrer ao Troféu Bandeira Paulista, da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 
 

REFERÊNCIAS
 

JOSEP. Mostraplay, 2020. Disponível em:  <https://mostraplay.mostra.org/film/josep/>. Acesso em: 03/11/2020.
 

MENON , Isabela. “Animações na Mostra de Cinema exibem campos de concentração e ditadura de Stálin”. Folha de S. Paulo, 2020. Disponível em: <https://guia.folha.uol.com.br/cinema/2020/10/animacoes-na-mostra-de-cinema-exibem-campos-de-concentracao-e-ditadura-de-stalin.shtml>. Acesso em: 03/11/2020.

 

BONANNO , Giulio. “44ª Mostra SP / “Josep” (2020)”. Zint, 2020. Disponível em:

<https://www.zint.online/mostra-sp/josep/>. Acesso em 04/11/2020.

 

 

 

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