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06/11/2020 às 17h35min - Atualizada em 06/11/2020 às 16h36min

Pagu: a musa do Modernismo

Mesmo não participando da Semana de Arte Moderna em 1922, Pagu ficou conhecida como a "Musa do Modernismo", sempre a favor da luta pelas minorias

Mariene Ramos - Editado por Gustavo H Araújo
Reprodução: Pagu - Pinterest
Escritora, poeta, desenhista, jornalista, diretora de teatro e militante política. Uma mulher multifacetada que defendia a participação feminina na sociedade. Essa é Patrícia Rehder Galvão (Pagu), que nasceu em 9 de junho de 1910, em São João da Boa Vista, interior de São Paulo. Era conhecida por seu comportamento extravagante e diferente das mulheres da sua época: vestia roupas transparentes e ousadas, usava batom vermelho, fumava nas ruas, falava palavrões e ostentava cabelos curtos e desgrenhados. Considerada "devassa" para sua época, ela era, na verdade, uma mulher livre, inteligente, intensa e que fazia o que bem queria sem se importar com o que pensavam a seu respeito.

Pagu foi a protagonista de diversas polêmicas, sendo a primeira mulher presa no Brasil por questões políticas. Sua primeira prisão ocorreu em 1931, enquanto participava de um comício em defesa da greve dos estivadores em Santos.

O apelido "Pagu" surgiu por meio do poeta modernista Raul Boop que, por engano, achou que seu nome era Patrícia Goulart. Ele escreveu o poema "O coco de Pagu". Em uns dos trechos, destaca: “Pagu tem os olhos moles/uns olhos de fazer doer/Bate-côco quando passa.”

Raul Boop também foi responsável por apresentar Pagu ao casal Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, figuras importantes dentro do movimento modernista, encontro que culminou em uma grande amizade. Mais tarde, Pagu ficou conhecida como o pivô da separação de Oswald e Tarsila. O acontecimento chocou toda a sociedade. No mesmo ano, Pagu teve seu primeiro filho, Rudá de Andrade, fruto da união com Oswald.

Poucos meses após o nascimento de seu filho, Pagu viaja para Buenos Aires para um festival de poesia e lá conhece Luís Carlos Prestes, tendo seu primeiro contato com as ideias do comunismo. Na volta para o Brasil, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro, marcando o início de uma grande luta.  

Pagu sofreu várias prisões e torturas na batalha contra a ditadura, o que a deixou com sequelas físicas e psicológicas, gerando depressão e tentativas de suicídio.

Em 1940, ao sair da prisão, rompe com o Partido Comunista e passa a apoiar o socialismo e a colaborar na revista Vanguarda Socialista, conhecendo seu último marido, Geraldo Ferraz, com quem teve o seu segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz.

Foi correspondente em muitos jornais e entrevistou figuras importantes, como Sigmund Freud. Em uma de suas viagens, ganhou sementes de soja de um Imperador chinês, as primeiras sementes de soja que foram trazidas para o Brasil.

Na arte, Pagu lutou pela construção do Teatro Municipal de Santos, que foi inaugurado somente após a sua morte e que hoje é conhecido como Centro Cultural Patrícia Galvão; também criou a União do Teatro Amador de Santos. No jornalismo, fundou a Associação dos Jornalistas Profissionais.

Na literatura, Pagu é conhecida por algumas obras. Sua primeira obra foi "Parque industrial" de 1933, escrita com o pseudônimo Mara Lobo, considerado o primeiro romance proletariado da literatura brasileira. Lançou outras obras, como "Safra macabra" e "Paixão Pagu".

Pagu morreu em dezembro de 1962, vítima de um câncer no pulmão. Antes de morrer, porém, publicou o seu último poema chamado "Nothing".

A coragem de Pagu foi eternizada em uma música interpretada por Rita Lee e Zélia Duncan. “Nem toda feiticeira é corcunda/Nem toda brasileira é bunda/Meu peito não é de silicone/Sou mais macho que muito homem’’, trecho da canção "Pagu".

Ela não deve ser reconhecida apenas como a amante e a mulher de Oswald de Andrade, mas sim como uma das figuras mais importantes da literatura, da arte, do jornalismo e, é claro, da luta feminista.

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