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08/05/2019 às 14h01min - Atualizada em 08/05/2019 às 14h01min

A gente se acostuma, mas não deveria

Adrieli Fátima Bonini - Edição: Lavínia Carvalho
Unsplash
*Inspirado na crônica de Marina Colasanti

A gente se acomoda. Em relações vazias. Em empregos tediosos. Em estilos de vida nada saudáveis. A gente aprende a viver da maneira mais fácil. E se acostuma. Mas a gente não devia. A gente se acomoda em permanecer estagnados em determinadas situações ou relações que, de certa forma, nos machucam, são tóxicas. E por que não saímos de ambas? Porque a gente se acostuma.
A gente se acostuma a morar em apartamentos do fundo, a não ver o sol nascer. A não notar a beleza nas pequenas coisas. Estamos tão acostumados com uma rotina corrida e desgastante, em tomar um rápido café no caminho para um emprego no qual a gente não gosta. Ler sempre a sessão de guerras e tragédias nos jornais. A gente se acomoda. Mas não devia.
A gente se acostuma, na correria do dia a dia, a não buscarmos por hábitos alimentares saudáveis. Comemos sanduíches porque não dá para almoçar. Saímos do trabalho porque já anoiteceu. Dormimos pensando no fato de não ter vivido da maneira que gostaríamos. Estamos correndo contra o tempo. Mas não mudamos. Porque nos acostumamos, mas não deveríamos. A gente se acostuma com a poluição, ou nos incomodamos com ela, mas, não fazemos nada para que a situação possa melhorar. Continuamos a poluir, a desmatar, a nos locomover somente de carro. Enquanto há diversas opções sustentáveis. A gente se acomoda, porque é mais fácil. Mas não deveríamos.
A gente se acostuma a esperar pela mensagem o dia todo e quando ela chega, traz consigo decepção: hoje não posso. A gente se acomoda a andar na rua de cara fechada, sem esboçar sorriso algum. Nos acostumamos em ser ignorados, quando na verdade, queríamos tanto ser vistos, valorizados.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita, muitas vezes, nos afundando em parcelas intermináveis. Apenas para possuir, para ter, o que aquele tem. A gente se acomoda. Porque a gente quer. E muitas vezes não percebe. Mas a gente não deveria.
A gente se acostuma. Para evitar o sangramento. Para que nossas feridas não vêm à tona. Para não sermos feridos pela faca. Para evitar que percebam nossa dor. A gente se acomoda. A gente suporta. A viver no vazio. A desempenhar funções apenas por obrigação. Porque a gente precisa. Porque o dinheiro não aparece sozinho. A gente se acostuma. Para poupar a vida. Que aos poucos vai se desgastando. E que de tanto esquivar-se, gradativamente se esvai.
 
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