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13/11/2020 às 00h34min - Atualizada em 13/11/2020 às 00h24min

O Senhor dos Anéis e a metáfora da impunidade

Matheus Barros - Editado por Bruna Araújo
Cena do filme "O Senhor dos Anéis: A sociedade do Anel."
O que você faria se pudesse ficar invisível? É difícil conseguir prever o que se passaria na cabeça de cada pessoa ao ouvir essa pergunta, com certeza ela pensaria em muitas coisas que não revelaria, pois é questionável o que cada um faria com os privilégios que a invisibilidade daria, muitos poderiam pensar em atitudes louváveis e heroicas, mas outros certamente seriam corrompidas pelo possibilidade de impunidade.
 
Em O Senhor dos Anéis o “Um Anel”, forjado por Sauron, na Montanha da Perdição, em Mordor, possui o poder de controlar os outros anéis do poder que foram concedidos aos Homens, Elfos e Anões, mas, além disso, ele também pode deixar quem o porta invisível. Ao longo dos livros de “O Senhor dos Anéis”, muitos são perturbados pelo poder do artefato, alguns tentam se apoderar com o intuito de usá-lo para impor uma tirania, outros com boas intenções de se defenderem do inimigo, no caso de Boromir, mas nenhum deles possuía a força para resistir as tentações e acabariam cedendo, como Gollum e Isildur, que sucumbiram às influências do anel e usaram de seu poder para benefício próprio, revelando o pior que havia dentro deles.
 
Os Hobbits são as únicas criaturas que conseguem resistir. Bilbo Bolseiro guarda o anel durante 60 anos e o usa somente para escapar de situações difíceis sem ceder às tentações, depois ele o passa para seu sobrinho, Frodo, que recebe a missão de ir a Mordor para destruí-lo, durante a jornada ele resiste à atração do objeto sempre agindo de forma virtuosa.
 
O “Um Anel” traz consigo a metáfora de qual seria o efeito que um poder desses exerceria nas pessoas e como cada uma reagiria diante dessas provações.
 
Mas esse questionamento não começou com Tolkien e a Terra Média e está presente nas reflexões da humanidade há cerca de uns 2 mil anos.

Platão, no segundo volume de “A República”, nos apresenta a Giges, um pastor de ovelhas que, certo dia, encontra, dentro de uma fenda no chão, um cavalo de bronze oco com o corpo de um gigante dentro e, junto com ele, um anel que ele descobre ser mágico e ter capacidade de deixá-lo invisível, com esse poder ele seduz a rainha e mata o rei para começar uma dinastia.
 
Aqui Platão traz a mensagem de que o ser humano não é justo por natureza e sim por uma necessidade. Para ele, qualquer pessoa posta em uma situação de impunidade não pensaria duas vezes antes de cometer uma injustiça por beneficio próprio, ou seja, qualquer pessoa que possuísse um anel que a deixasse invisível e com isso ela tivesse completa impunidade facilmente cederia à tentação de cometer algum crime ou fazer algo que seria reprovado.
 
Um fenômeno semelhante pode ser observado na nossa realidade. A internet, assim como a invisibilidade, concede uma sensação de impunidade para as pessoas que acabam se sentindo confortáveis para agirem de forma cruel e maldosa.
 
Atos racistas, homofóbicos e machistas, ameaças de morte e estupro, entre outras crueldades, estão entre as diversões dos chamados "trolls" de internet, pessoas que se escondem por trás de perfis "fakes" para praticar todo tipo de cyberbullying simplesmente por prazer. Na internet, eles encontram a sensação de que nunca serão punidos e por isso se sentem confortáveis para atacar famosos e pessoas comuns.
 
Existem leis que buscam punir esse tipo de prática, alguns são de fato punidos, mas a maioria dessas ações se enquadram como crimes contra a honra e não há pena de prisão, somente serviços comunitários e o pagamento de cestas básicas.
 
Assim como os anéis, a internet põe a honestidade e senso de justiça de muitos em cheque, muitas pessoas sentem que podem agir da maneira que bem entendem nas redes sociais, muitas dessas ações podem ter resultados graves, como suicídio das vítimas bullying virtual. Isso mostra que muitos escondem um lado que na possibilidade da invisibilidade agiriam de forma reprovável, seja cometendo um crime grave ou invadindo a privacidade de algum conhecido. Com isso eu encerro como comecei, com uma pergunta, mas agora um pouco diferente, o que o seu eu mais interno faria se pudesse ficar invisível?

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