Ricardo Accioly Filho - Editado por Fernanda Simplicio
Fonte: Paramount Pictures / Reprodução: Tribuna do Paraná
Popularizado nas manhãs da Rede Globo, o desenho animado Bob Esponja Calça Quadrada foi e ainda é até hoje um sucesso arrebatador. As aventuras da esponja do mar mais carismática da cultura pop e seus amigos da Fenda do Biquini já foram indicadas para vários prêmios mundiais e ganharam, inclusive, um espetáculo musical na Broadway, sendo apresentado em Chicago e Nova York. Tamanho sucesso fez com que seus produtores levassem o personagem para os cinemas em dois filmes, Bob Esponja – O Filme, de 2004, e Bob Esponja – O Herói Fora D’Água, de 2015. Recentemente, um terceiro longa foi lançado, disponibilizado na Netflix, Bob Esponja – O Incrível Resgate.
Em sua terceira aventura nos cinemas, Bob Esponja acredita que Gary foi “caracolstrado” pelo temível Rei dos Mares, Poseidon, e levado para a cidade perdida de Atlantic City para ser usado como produto de rejuvenescimento facial. Agora, ao lado do fiel amigo Patrick Estrela, os dois partem em uma jornada para resgatar o animal e conhecerem outros personagens. Criado em 1999, pelas mãos do biólogo marinho e animador Stephen Hillenburg, a obra foi idealizada para ser lançada nas comemorações dos 20 anos do personagem e em homenagem ao seu criador, que morreu em 2018, vítima da Esclerose Lateral Amiotrófica, uma doença neurodegenerativa, progressiva e rara.
No entanto, a pandemia da Covid-19 atrasou o lançamento, que acabou sendo descartado nos cinemas, e a Netflix surgiu como plataforma para sua disponibilização. E em tempos tão duvidosos, o carisma e o otimismo do Esponja servem como um sopro de esperança na humanidade e em dias melhores para o mundo. Com um visual realista, diferente dos filmes anteriores, Bob Esponja – O Incrível Resgate é uma grata surpresa e evolução fílmica do personagem nos cinemas. Enquanto o longa original de 2004 era menos um filme e mais uma transposição do desenho para um episódio, cansativo e cheio de barrigas, de 90 minutos, o segundo filme já trouxe uma história mais fechada e interessante.
Mas é com o terceiro filme que as aventuras do personagem ganham um salto de narrativa e de qualidade técnica de animação. Ao envolver todos os principais personagens, com suas devidas proporções em tela, a trama carrega o que tem de melhor: a turma da Fenda do Biquini junta e a amizade que foi consolidada em todos esses anos. E é justamente a amizade o tema central de Bob Esponja – O Incrível Resgate, não apenas pelo fato de terem que ir resgatar o caracol Gary, mas, sim, porque na jornada cada qual entende o significado desse sentimento. Nesse percurso, conhecemos as histórias de cada personagem e como elas se relacionam com o personagem-título, o que acaba funcionando como uma grande homenagem ao desenho.
Em termos visuais, os gráficos realistas, longes do tradicional 2-D, podem causar uma estranheza momentânea, mas basta alguns poucos minutos para se agradar, o que é ajudado pela clássica dublagem animada, com a voz estridente característica do Bob e a fala arrastada do Patrick. No entanto, não fica alheio a falhas, pois ao abrir muitos arcos e chutar para todo lado com várias aventuras, Bob Esponja – O Incrível Resgate flerta com a barriga do longa original, como se episódios desconexos fossem somados para dar mais tempo de projeção, o que quebra o ritmo da produção, que caberia facilmente em um curta de 30-40 minutos.
Logo, de repente Bob Esponja e Patrick estão metido numa cidade de velho-oeste com zumbis fantasmas, depois em um deserto e, por fim, em um cassino, mas nenhum desses esquetes se somam a trama central ou servem de propulsão para o personagem ganhar camadas além das que já tem. Dessa forma, a obra não traz nada de novo, voltando a recorrer ao arco do plano do Plankton de roubar a fórmula secreta do hambúrguer de Siri, em alguns momentos, mas que tem um desfecho emocionante. Apesar disso, é uma experiência maravilhosa em termos de construção de história.
No fim, Bob Esponja – O Incrível Resgate é o que Patrick chega a dizer em uma passagem: um filme de amigos. Um filme feito com amigos, por amigos e para um amigo, trazendo uma lição de moral relevante e sempre atual. Além disso, conta com a participação do ator Keanu Reeves, como o guia espiritual da dupla. Ao celebrar a amizade com uma divertida história, o filme cumpre o serviço que o Rei Poseidon deseja através do Gary: rejuvenesce, não nossa aparência, mas, sim, o que temos por dentro.