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20/11/2020 às 08h45min - Atualizada em 20/11/2020 às 08h25min

O “Pequeno manual antirracista” e sua contribuição na mudança e na ação da sociedade

Um guia para adentrar em debates complexos e com desdobramentos diversos

Adélia Fernanda Lima Sá Machado - Editado por Gustavo Henrique Araújo
Livro "Pequeno Manual Antirracista", Companhia das letras
Foto: reprodução/arquivo pessoal de Adélia Machado
“Reconhecer o racismo é a melhor forma de combatê-lo”. Assim está escrito nas primeiras páginas do pequeno manual desenvolvido e redigido por Djamila Ribeiro, um guia que deve ser lido e compartilhado para e por todos.

A mestre em filosofia Djamila Ribeiro publicou em novembro de 2019 o “Pequeno Manual Antirracista”, um pequeno livro, com 10 temas, que possui como intuito apresentar caminhos de reflexão que permitam reconhecer discriminações raciais e, assim, assumir a responsabilidade pela mudança do estado das coisas.

Desde o mês de lançamento, o livro permanece na lista de mais vendidos dentro do Brasil, isso reflete a busca pelo conhecimento sobre as temáticas nele abordadas e, principalmente, o desejo de mudança de falas e posicionamentos de uma boa parte da população brasileira.



Apesar de o Brasil possuir tanta pluralidade de raças, é o país que mais mata negros, principalmente jovens e mulheres. Dentro do escrito de Djamila, ela pontua vários episódios no interior e no exterior do país que fazem refletir o racismo e a desigualdade existente na população, assim como trata de números e estatísticas para evidenciar os fatos.

 

Segundo os dados da Anistia Internacional, a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil, o que evidencia que está em curso o genocídio da população negra, sobretudo jovens.

A morte da população negra é diária e os números são apavorantes. Este ano, João Pedro, um adolescente negro de 14 anos, estando perto de seus amigos e na casa de conhecidos na periferia do Rio de Janeiro, foi assassinado a tiros durante uma operação em que policiais entraram na residência atirando, atingindo o adolescente na barriga. No dia 7 de abril de 2019, houve o caso do brutal assassinato de Evaldo dos Santos por agentes do Exército, também no Rio de Janeiro, em que mais de 200 tiros foram disparados em direção ao seu carro, no qual se encontrava a vítima e toda sua família.

Além do genocídio da população negra, é importante pontuar a questão do racismo estrutural, que está enraizado na nossa sociedade. Essa questão é facilmente percebida no ambiente de trabalho ou em profissões de destaque, esta última sendo constituída em sua maioria pela população branca, mesmo estando em um país com o maior número de negros. É necessário observar questões cotidianas como: quem é o protagonista da novela? Quem é a babá? Quem é o médico? Por que ele é o bandido? Análises como essas necessitam ser feitas para que posicionamentos e posturas enraizadas sejam transformadas. Essa discussão é tratada no manual de Djamila, no qual ela pontua:

 

Dessa forma, é preciso romper com a estratégia do “negro único”: não basta ter uma pessoa negra para considerar que determinado espaço de poder foi “dedetizado contra o racismo”. A herança escravista faz com que o mundo do trabalho seja particularmente racista – o que também o torna um dos espaços em que a luta antirracista pode ser mais transformadora.

Casos como o que aconteceu este ano com o jovem entregador Matheus Pires Barbosa, que ao fazer uma entrega em um condomínio no interior de São Paulo, foi vítima de racismo pelo cliente Mateus Abreu Almeida Prado Couto; afirmações como: “preto, favelado, pobre, olha seu tênis furado”, foram proferidas à vítima. Apesar de situações como a apresentada ser comum, o brasileiro não se identifica como racista, um ponto também bem apresentado no manual com o auxílio de fontes e estatísticas:
 

Numa pesquisa do Datafolha realizada em 1995, que mostrou que 89% dos brasileiros admitiam existir preconceito de cor no Brasil, mas 90% se identificavam como não racista.

Esses números sustentam o mito da democracia racial, assim como a questão de colocar outras pessoas em casos de opressão e sempre tentar sair impune das situações. A melhor forma de combater o racismo e qualquer tipo de sistema opressor é admitir que ele existe e que todos contribuem com sua existência, assim como com a sua transformação.

Leituras como o manual produzido por Djamila, é de extrema importância para reconhecer o racismo como forma de opressão, de que posicionamentos e pensamentos podem ser mudados, dessa maneira, conseguindo transformar a sociedade frente às desigualdades e exclusões.

O “Pequeno manual antirracista” é uma pequena contribuição para estimular o autoconhecimento e a construção de práticas antirracistas dentro da sociedade, em diversos cenários do nosso cotidiano.



Vale a pena a leitura deste manual e seu compartilhamento. Leia Djamila Ribeiro! Leia autores negros!


 


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