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18/12/2020 às 06h48min - Atualizada em 18/12/2020 às 06h47min

Crônica: carta de uma mãe no pós-parto

Fora do romântico. Um relato nada convencional

Jéssica Meira - Editado por Gustavo Henrique Araújo
Foto/Reprodução

Ao meu grande amor.

 

Não sei se em algum dia da minha vida vou passar por uma experiência tão intensa quanto a maternidade. Minha vida nunca mais será a mesma depois desse evento. Meu corpo mudou, meu psicológico já não é o mesmo e até as situações mais comuns deixaram a zona de conforto para se tornarem estressantes.

 

Agora você está aqui em meus braços, olhando-me com seus olhos cor de cinza, analisando-me, sentindo-me. Suas mãos se seguram em mim. Talvez você saiba e sinta o meu desejo de correr, de fugir, de gritar e, então, busca de alguma forma me fazer ficar, me dizer: “eu tô nessa contigo”. Enquanto me olha, seus lábios rosados se ajustam em meus seios, sugando, alimentando-se, sem medo ou confusão, apenas seguindo seus instintos.

 

Amamentar. Devia vir com um manual, um tutorial a tiracolo ensinando sobre o que fazer e, principalmente, sobre o que não fazer de forma alguma. O neném nasceu, vindo de uma dor inimaginável e, logo em seguida, esse alguém com menos de 50 cm está grudado no peito, ou buscando. É tudo muito rápido e eu só consigo te olhar. Confusa, cansada, com medo e sentindo mais um milhão de coisas que ninguém pode explicar.

 

Sabe aquelas belas mulheres que amamentam nas fotos do Instagram, celebridades lindas e seus bebês na capa da revista “Pais e Filhos”? Eu suspeito que elas não existem. Nunca as conheci pessoalmente e nem nenhuma outra que com firmeza me dissesse que tudo é tão lindo e fácil assim. “Com o tempo as coisas melhoram…”, comentam algumas; “continua tentando, não desista”, outras tantas insistem e eu fico me perguntando se elas têm razão.

 

Bomba de tirar leite, pomada de Lanolina, almofada de amamentação, mamadeira, fralda de pano, absorvente para os seios, fórmula e por aí vai. Alguns dos meus novos amigos neste pós-parto; usei todos e sei que existem muitos outros. Preciso me certificar de que você arrotou depois de mamar, ou pode engasgar com o leite que volta.

 

Leite fraco, leite aguado, peito enche pouco ou não enche. As minhas noites de sono se tornaram miragens, meus seios doem, meus olhos também. A rede de apoio garante que eu tome banho, escove os cabelos, os dentes e coma alguma coisa: “você precisa estar bem, ou o leite pode secar”.

 

Amamentar é muito difícil, sim! É um ato de muito amor, é doação, entrega, paciência, respeito e, nesse caminho, às vezes a gente se perde, fica com medo, chora e pensa em desistir, mesmo nunca deixando de tentar na mamada seguinte. O mais importante em meio a tudo isso, entre noites em claro, medo de ser incapaz ou qualquer outra coisa, é que quando você está em meus braços, olhando-me e sentindo o meu calor, eu sinto o maior amor do mundo, sinto-me grande e forte, esqueço as minhas dores e frustrações por alguns minutos para me lembrar da importância de estar ali por você.

 

Descobri que sou mais forte do que eu pensava, mais determinada do que parecia e muito mais feliz do que eu já imaginei um dia e isso não tem relação com a amamentação (porque nem sempre ela se mantém, às vezes precisamos abrir mão e tudo bem). A minha força vem do amor, do olhar, do sorriso banguelo, do calor que acalma. 

 

Eu sou mais forte por você, todos os dias,


Mamãe.

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