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14/01/2021 às 22h21min - Atualizada em 14/01/2021 às 20h32min

O legado de Gabriel García Márquez

Desde jovem, Gabriel García Márquez traçou o seu destino como escritor: conquistou o Nobel e deixou uma vasta herança para a literatura hispano-americana

Isabel Dourado - Editado por Gustavo Henrique Araújo
Foto: Gabriel García Márquez/Reprodução: El País
Ele dizia que não gostava do título "realismo mágico" em suas obras. Nas entrevistas, Gabriel García Márquez - o Gabo, como era chamado pelo amigos -, afirmava não inventar nada, não haver uma linha nos livros que não fosse a da realidade. A sua obra de maior sucesso "Cem anos de solidãofoi marcada pelas características das lembranças familiares, o livro foi enquadrado no realismo mágico. Desenvolvido entre os anos de 1960 e 1970, como produto de duas visões que conviviam na América hispânica: a cultura da tecnologia e a cultura da superstição. 

Gabriel García Márquez viveu uma infância marcada por aventuras, fábulas e histórias contadas pelos avós e tias. Nascido em 1927 na cidade de Aracataca, Cidade do México, aos cinco anos de idade já sabia escrever. As histórias compartilhadas pela família serviram de base para o livro mais famoso do escritor. Influenciado a escrever por uma professora, Márquez preferiu seguir uma carreira de jornalista a de magistrado. Quando ainda era aprendiz no ramo do Jornalismo, o chefe de redação Mestre Clemente Manuel Zabala pediu ao jovem para ir ao Convento de Santa Clara onde as criptas funerárias estavam sendo esvaziadas. 

Ao chegar no convento, Márquez descreve que ficou espantado com o primitivismo do método utilizado para esvaziar os túmulos, os quais os operários destampavam usando picareta e enxadão. Foi no terceiro nicho que o iniciante repórter encontrou a notícia: presenciou a lápide se despedaçar em pedaços com o primeiro golpe de picareta; uma cabeleira de mais de vinte metros  e de cor cobre intenso havia saído e se espalhado para fora da cripta. No nicho, o nome escrito era de Sierva Maria de Todos los Ángeles. 

Quando garoto, a avó de Márquez havia contado a lenda de uma marquesinha de 12 anos que tinha uma cabeleira enorme, e que morreu acometida pela mordida de um cachorro raivoso. A marquesa era venerada no Caribe e conhecida por diversos milagres. Foi por conta da lenda contada pela avó e pelo fato de ter testemunhado aquele túmulo, que, em 1993, o escritor trouxe à luz o livro "Do amor e outros demônios", usando toda a sua capacidade descritiva e envolvente no romance. 

Entre as suas aclamadas obras, Márquez trazia "O amor nos tempos do cóleracomo o seu livro preferido. Isso porque considerava a história mais perto do humano; romance marcado por grande sensibilidade. Apesar de ser a obra de preferência do autor, sem dúvidas o livro ficou à sombra de "Cem anos de solidão". 

O primeiro livro que publicou foi "A Revoada (O enterro do diabo)", em 1954. Na sequência, escreveu "Ninguém escreve ao Coronel" e "Os funerais da mamãe"; em 1967, deu o grande salto com o consagrado romance latino-americano "Cem anos de solidão". Márquez chamou a atenção com o romance no qual edifica a dá vida ao povoado de Macondo. O livro se tornou um clássico e foi traduzido para diversas línguas. A atenção despertada por esse livro poderia ter feito o escritor entrar numa rotina de produzir sempre narrativas fantásticas. 

Com um começo literário bastante recitado e jamais esquecido pelos leitores: "Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo", é nessa  obra que Gabo consegue marcar o realismo mágico. O conteúdo de elementos mágicos e fantásticos eram percebidos como parte da normalidade. É também no realismo mágico que a percepção de tempo é de forma cíclica ao invés de seguir uma linearidade.

Também publicou livro de crônicas e contos a respeito da carreira no Jornalismo. Em 1981, publicou "Crônicas de uma morte anunciada" e "Notícias de um sequestro", e em 2002, a obra "Viver para contar". "O livro de não ficção notícias de um sequestrofoi resultado de uma pesquisa extensa e minuciosa. García Márquez coletou diversos depoimentos antes de escrever a história de dezenas de pessoas envolvidas no drama de sequestros ocorridos na Colômbia em 1990. 

No Jornalismo, trabalhou para o jornal El Universal. Também foi correspondente por um tempo em Nova York e Roma. Entre os prêmios, ganhou o Nobel de Literatura, um dos maiores reconhecimentos. Recebeu outros prêmios importantes, como o prêmio internacional Nestadt de Literatura e o prêmio Rómulo Gallegos. Gabriel García Márquez é um dos escritores mais contundentes do realismo mágico e marcou fortemente a literatura hispano-americana. 

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