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12/02/2021 às 18h30min - Atualizada em 13/02/2021 às 18h01min

A representação LGBTQIAP+ no mundo dos games

Inicialmente raros e estereotipados, personagens LGBTQIAP+ ganham cada vez mais destaque

Mayra Cardozo - Editado por Fernanda Simplicio
Fonte: Blizzard Entertainment / Reprodução: Google
Atualmente, muitas das principais desenvolvedoras de games têm demonstrado a preocupação em trazer mais diversidade em seus lançamentos. Isso dá aos jogadores da comunidade LGBTQIAP+ mais oportunidades de jogar com personagens que os representem, algo que nem sempre foi possível. Mesmo após o surgimento dos primeiros representantes da comunidade nos games, foi necessária uma grande evolução para chegar ao nível de diversidade atual.

O primeiro personagem homossexual, Paco, surgiu em 1985, no jogo de computador Le Crime du Parking. No final do game, ele se revela como vilão da trama. Pessoas LGBTQIAP+ representadas como antagonistas foi algo recorrente nesse momento inicial, ocorrendo também em The Beast Within, de 1982, por exemplo.

Além disso, a grande maioria desses personagens eram representados de forma estereotipada ou negativa. Homens gays, por exemplo, quase sempre apareciam como pessoas muito efeminadas e fracas, enquanto mulheres lésbicas eram “masculinizadas” ao extremo. Esses personagens também costumavam ser utilizados como alívio cômico nos games. Jogos de luta, como os da série Street Fighter, exibiam muito essa representação estereotipada da comunidade LGBTQIAP+.

Mesmo jogos que tentavam trazer uma representação mais positiva muitas vezes precisavam lançar versões alternativas sem esses elementos por questões comerciais. Esse é o caso de Caper in the Castro, de 1989, que tinha uma mulher lésbica como protagonista, cuja orientação sexual não é mencionada na versão alternativa.

Desde então, a sociedade mudou muito e passou a, cada vez mais, cobrar uma maior representatividade nos jogos. A indústria dos games respondeu a essa demanda, vinda principalmente da própria comunidade LGBTQIAP+, o que gerou um aumento na quantidade e na diversidade dos personagens pertencentes a essa comunidade.

Segundo dados do LGBTQ Game Archive, apenas três personagens LGBTQIAP+ foram identificados nos games em 1986, enquanto em 2014 esse número saltou para 72. Atualmente, é comum ver lançamentos de games com personagens pertencentes à essa comunidade, grande parte das vezes sendo representados com uma maior normalidade, não caindo em tantos estereótipos.

 
Assim, surgem games como Life is Strange, de 2015, no qual uma das personagens mais importantes na história é Chloe, uma garota explicitamente lésbica. A história do jogo explora bastante a relação entre ela e a protagonista Max Caulfield, sendo que as duas podem se beijar dependendo das escolhas dos jogadores. Ambas as garotas são representadas com características complexas durante a trama, não sendo definidas apenas por sua sexualidade, como aconteceu com os personagens LGBTQIAP+ por muito tempo.

                           
 
Outro exemplo de personagem representante da comunidade LGBTQIAP+ no mundo dos games é Tracer, de Overwatch, jogo de 2016. Sua orientação sexual foi mostrada pela primeira vez em uma história em quadrinhos da franquia. Games como Fire Assassin's Creed Odyssey, de 2018, e Stardew Valley, de 2017, também entram para a lista dos que lidam com a diversidade.

Há ainda jogos como Arcade Spirits, de 2019, um simulador de romance no qual, além de as opções de parceiros românticos não se limitarem a apenas um gênero, é possível escolher quais pronomes serão utilizados para se referir a(o) protagonista: masculinos, femininos ou neutros. Assim, os jogadores encontram uma boa gama de opções para criar os personagens e seus relacionamentos da maneira que preferirem.

                           
 
Recepção do público

Desde as primeiras aparições de personagens LGBTQIAP+, um dos grandes obstáculos enfrentados pelas desenvolvedoras de games foi a recepção dos consumidores. Com argumentos como “não sou gay, não quero ser obrigado a jogar com um personagem assim”, parte do público gamer demonstrou resistência à inserção da representatividade nos jogos.

Décadas depois, apesar de a sociedade no geral ter uma maior aceitação das pessoas LGBTQIAP+, ainda há uma parcela dos consumidores mais conservadora e intolerante. Por isso, continuam ocorrendo situações como a que seguiu o lançamento do trailer de The Last of Us 2, em 2018. No vídeo, era possível ver a protagonista do jogo, Ellie, beijando outra mulher, o que gerou diversos comentários nas redes sociais, tanto positivos quanto negativos.
 
                                 


Apesar da persistência de alguns argumentos fundados na intolerância para tentar barrar a diversidade nos games, o aumento da representatividade é importante para que, aos poucos, o preconceito no meio gamer diminua e as diferentes orientações sexuais e identidades de gênero sejam aceitas com naturalidade pelo seu público. Como explica o assessor de games Ariel Velloso em declaração concedida ao portal “Repórter Unesp”:
 
“Jogos sobre um personagem ou enredo com o qual você se identifica podem ser um grande passo para desmistificar determinados preconceitos. Além disso, a oportunidade de colocar-se no lugar desse avatar e de vivenciar a trama acontecendo ao redor de suas ações é algo muito poderoso”.

Dessa forma, quanto mais a grande presença de personagens LGBTQIAP+ continuar, ou até aumentar, maior é a possibilidade de o público gamer ver personagens e pessoas dessa comunidade com uma maior naturalidade. Por isso, a representatividade é uma das principais formas de combater o preconceito.
 
REFERÊNCIAS:

ANDRADE, Bruno. Dez jogos com representatividade LGBT+ no Switch. Nintendo Blast, 2020. Disponível em: <https://www.nintendoblast.com.br/2020/06/dez-jogos-com-representatividade-lgbt.html>. Acesso em: 06 de fev. 2021.

BANDEIRA, Katarina. Games: personagens LGBTs ganham espaço, mas ainda são tabu. Leia Já, 2020. Disponível em: <https://www.leiaja.com/tecnologia/2020/06/28/games-personagens-lgbts-ganham-espaco-mas-ainda-sao-tabu/>. Acesso em: 06 de fev. 2021.

ENTENDA por que heróis LGBT ganham terreno nos games e até Zelda 'saiu do armário'. Folha de Pernambuco, 2021. Disponível em: <https://www.folhape.com.br/cultura/entenda-por-que-herois-lgbt-ganham-terreno-nos-games-e-ate-zelda/171973/>. Acesso em: 06 de fev. 2021

MOURA, Maurício. A visibilidade LGBT nos videogames. Maratona de Sofá, 2020. Disponível em: <http://maratonadesofa.com/visibilidade-lgbt-nos-videogame-2/>. Acesso em: 06 de fev. 2021.

MULLER, Victor. Da caricatura à normalização: conheça a história dos LGBTs nos games. Gay Blog BR, 2020. Disponível em: <https://gay.blog.br/gay/da-caricatura-estereotipada-a-normalizacao-conheca-a-historia-dos-lgbts-nos-games/>. Acesso em: 06 de fev. 2021.

PÚBLICO LGBT segue na luta por representatividade nos games. Repórter Unesp, 2017. Disponível em: <http://reporterunesp.jor.br/2017/06/07/publico-lgbt-segue-na-luta-por-representatividade-nos-games/>. Acesso em: 06 de fev. 2021

TAMMY. POR QUE PRECISAMOS DE MAIS PERSONAGENS LGBT NO UNIVERSO NERD <3. Garotas Geek, 2015. Disponível em: <http://www.garotasgeeks.com/por-que-precisamos-de-mais-personagens-lgbt-no-universo-nerd/>. Acesso em: 06 de fev. 2021


 

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