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15/02/2021 às 09h04min - Atualizada em 15/02/2021 às 08h25min

A insatisfação que gera arrecadação

O mercado da beleza lucra com a insatisfação do público feminino

Talyta Brito - Editado por Gustavo Henrique Araújo
Foto: Reprodução/Canva
Mirou o espelho pela milésima vez; o objeto havia se tornado seu inimigo mortal há algum tempo. Era inevitável, sempre que se aproximava, ficava descontente com a imagem projetada. Ela própria não se dava conta, mas tal descontentamento era uma construção diária; na maioria das vezes, de forma imperceptível.

Bastava uma volta de cinco minutos pelo centro da cidade, a linguagem imagética de corpos esguios e magros contida nos outdoors e publicidades estampados pelas avenidas enviavam mensagens ao seu subconsciente. Em outras ocasiões nem precisava sair de casa, bastava rolar o feed do Instagram para ser confrontada pelo tal  “padrão corporal”. 

A insatisfação com o próprio corpo é uma atitude recorrente entre o público feminino. Conforme a pesquisa realizada pelo Instituto Sophia Mind, 54% das mulheres não estão felizes com sua silhueta. O descontentamento tem contribuído para a busca por dietas, uso de diuréticos e laxantes, muitas vezes sem acompanhamento médico. Em 2018, o Brasil liderou o ranking de cirurgias plásticas. Foram realizadas um total de 1.498.327, segundo dados divulgados pela International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS). 


A discussão sobre o culto ao corpo perfeito voltou à tona nos últimos dias, após a morte da influenciadora digital Liliane Amorim. A jovem de 26 anos realizou uma lipoaspiração no dia 9 de janeiro de 2021. Seis dias após a operação, ela retornou ao hospital com dores na região abdominal e passou por outra cirurgia devido a uma infecção generalizada. Em seguida, foi internada na Unidade de Terapia Intensiva onde permaneceu por cinco dias, até ir a óbito.

Lilian Calixto, Fernanda Rodrigues, Mayara Silva dos Santos e Fernanda Assis, são outros exemplos de mulheres que também faleceram após intervenções cirúrgicas.

Nesse sentido, faz-se necessário pontuar que há um esforço por parte da Indústria Cultural – termo criado pelos pensadores da Escola de Frankfurt para designar os meios de comunicação de massa – para institucionalizar um biótipo como o adequado. Tal ação tem gerado arrecadação e grande crescente do mercado estético.

Por outro lado, essa iniciativa vem acarretando sérios problemas de saúde, como a anorexia – distúrbio de imagem que gera perda de peso excessiva – e bulimia – ingestão de grandes quantidades de alimentos seguidas por uma atitude que evite o ganho de peso, como a indução ao vômito ou o uso de remédios.

Mulheres famosas, compreendendo o quão prejudical é a ditadura da beleza, iniciaram uma campanha para romper com essa opressão que tem vitimado muitas pessoas. É o caso de Daiana Garbin, autora do livro "Fazendo as pazes com meu corpo". Na obra, a jornalista conta sobre o processo de auto aceitação do corpo e faz um chamamento ao público feminino para seguirem o mesmo caminho.

Em abril de 2016, Manu Gavassi foi capa da revista VIP. Mas a cantora desabafou nas redes sociais falando sobre o excessivo uso de edições nas fotos: “Não pareço uma garota real, pareço um boneco de cera. E se era para eu me sentir bonita, poderosa e natural em uma capa dessas,  eu me sinto o contrário."

O posicionamento de mulheres tidas como referências por tantas outras é o primeiro passo para a desconstrução de um pensamento que segmenta as pessoas e impõe um aprisionamento social em busca da (falsa) perfeição.


 

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