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19/02/2021 às 09h14min - Atualizada em 19/02/2021 às 09h04min

Relato presente no livro “La familia grande” levantou a #MeTooIncest para denunciar abusadores através das redes sociais

A antiga hashtag ganhou destaque no último mês

Giovana Cerantola - Editado por Andrieli Torres
Foto/reprodução: Google
Lançado no início de janeiro deste ano, o livro “La familia grande”, da escritora francesa Camille Kouchner, ganhou grande destaque. A obra faz uma denúncia de abuso sexual sofrido por seu irmão gêmeo, na adolescência, por parte do padrasto, o cientista político francês Olivier Duhamel.

O caso ganhou grandes proporções tanto na esfera política quanto na midiática francesa, visto que Duhamel era uma pessoa bastante influente. Camille é filha do ex-ministro de relações exteriores da França, Bernard Kouchner, também uma figura com influência. Ou seja, a situação mostra que crimes sexuais não acontecem apenas em determinados eixos sociais e, sim, é referente a um problema estrutural, de toda a sociedade.  

Com um escândalo de tal proporção diante de um país que historicamente apresenta uma cultura voltada para o silêncio, na França, o senado aprovou um projeto de lei que proíbe a atividade sexual de adultos com crianças menores de 13 anos, uma vez que tais atos não podem ser consensuais. Em relação aos cargos ocupados por Duhamel, ele renunciou a todos depois da denúncia.

Após a publicação do livro, uma nova hashtag começou a aparecer em postagens nas redes sociais. Com a #MeTooIncest, inúmeras pessoas começaram a denunciar seus abusadores através de publicações na internet. Um dos principais meios utilizados para as denúncias, foi o Twitter. Na França, existe uma organização, denominada Nous Toutes, que luta contra a violência sexual. Diante dessa questão, membros dessa instituição criaram uma nova hashtag.

A primeira incentivadora do uso da #MeToo foi a ativista Tarana Burke. Ela queria conscientizar, denunciar e libertar a culpa das mulheres vítimas de abuso sexual. Desde 2006, usa as redes sociais para dar voz a quem precisa.

Anterior a essa denúncia, em 2017, ganharam destaque as jornalistas Jodi Kantor e Megan Twohey, quando publicaram uma reportagem sobre casos de assédio e abuso sexual cometidos pelo produtor e proprietário da empresa Miramax Harvey Weinstein, influente da indústria cinematográfica contra mulheres. Naquele ano, a hashtag ganhou visibilidade e também foi utilizada como mecanismo para denunciar abusadores.

Posteriormente, Jodi e Megan reuniram no livro “Ela disse” todo o material utilizado para realizar a denúncia. Desde o momento do primeiro telefonema de uma das vítimas ao jornal até o dia a dia de trabalho das jornalistas e a maneira como elas conversavam com a fonte, a dificuldade de uma entrevistada que pudesse ser identificada na reportagem, e-mails que foram trocados, os cuidados para que o produtor não comprasse o silêncio de suas vítimas ao saber que seria acusado, apreensão de que a denúncia vazasse para outro veículo de comunicação antes da publicação delas, dentre outras questões.

Aqui, no segundo semestre de 2020, o movimento Me Too Brasil ganhou espaço para denúncias de assédio em uma plataforma online. As denúncias feitas são encaminhadas para um time de profissionais capacitados, tais como médicas,  psicólogas, advogadas e assistentes sociais. O projeto visa ir além da hashtag e dar de fato todo o suporte necessário para as vítimas.

Nos livros, é notório como tantas barreiras são impostas para que as vítimas desistam de denunciar seus abusadores, mesmo se tratando de figuras públicas. Possivelmente, por esse motivo, mmuitas delas, com receio de toda a dificuldade que o processo demanda, acabam não denunciando, já que isso significa dar continuidade àquela dor já vivida. 

Nesse sentido, apesar dos casos se tratarem de diferentes vítimas nas obras citadas, é importante ressaltar que a pessoa que sofre abuso não é culpada pelo ocorrido. Além disso, atos de violência e assédio sexual podem ser denunciados, seja através de boletins de ocorrência ou por meio de medidas protetivas, sendo possível realizar de maneira anônima. 

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