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20/05/2019 às 17h22min - Atualizada em 20/05/2019 às 17h22min

Posso ser mãe?

Sobre ser mãe de plantas ou pets.

Socorro Moura - Editado por: Leonardo Benedito
Plantas (ou pets) como fontes de afeto. Imagem: Pinterest
Há alguns dias, a marca Anacapri teve que retirar das mídias sociais a sua campanha dos dias das mães. Era uma abordagem que destacou as chamadas mães de plantas, uma tendência que vem se manifestando de forma cada vez mais forte entre mulheres que não planejam a curto prazo, ou expressamente já admitem a possibilidade de não terem filhos. É algo novo e como toda novidade, carrega suas controvérsias. Provavelmente, a intenção da marca era apenas contemplar o que ela visualizou como uma propensão de uma parte do público. A questão é que ideias apontam para mais de um lado, e o que poderia parecer inclusão foi percebido como depreciação por uma boa parte desse público.

O termo “mãe” vem passando por ressignificações, e assim a áurea sagrada que envolve a palavra vem ganhando contornos mais realistas devido ao reconhecimento de nuances há muito escondidas ou que simplesmente ninguém falava, com o caso da maternidade real. Assim, usar o termo mãe e relacioná-las a maternidade de plantas, pets ou até de bola acabou por despertar muitas críticas por quem tem o ser mãe como algo trabalhoso, solitário e árduo. Logo, como toda polêmica tem vários lados, há quem contra-argumente que a um pet ou planta são dados atenção e carinho,  e que também são um apoio emocional, existe envolvimento afetivo por quem opta. No entanto, é justamente nesse ponto que surge a sua crítica mais mordaz: criar um ser humano com valores e caráter é mais do que ter o suporte afetivo de seres que não implicam em tantas dificuldades, como plantas ou bichos.

É possível perceber um sentimento de desvalorização. Como se a luta diárias de "mães solos", por exemplo, fosse colocado no mesmo patamar de uma escolha aparentemente mais fácil. Cientificamente, já foram apontadas pesquisas em que, analisadas da perspectiva orgânica, criar bichos ou plantas despertem os mesmos hormônios da criação de bebês. É uma justificativa? Há quem sofra com a perda de bichos que era sua única companhia. Fui uma pessoa que sofreu horrores com a perda dos meus cachorros.

​Entretanto, um termo interessante para ser resgatado e ponderado é a tão difundida sorodidade: o entendimento mútuo de que há realidades que sobrepujam a outras, por serem mais complexas, porém não são excludentes. Há os devidos espaços, no devido tempo. Eu me permito e te permito. Teoria? Muita. Só que nesse mundo de individualidades crescentes, com a solidão batendo à porta, as possibilidades devem ser revistas, principalmente por quem entende que criar ser humano é algo tão sério, que prefere bicho ou planta. É algo para se pensar.

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