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20/02/2021 às 00h28min - Atualizada em 20/02/2021 às 23h30min

Quase 34 milhões de brasileiros não têm acesso à informação jornalística local

3.280 municípios do Brasil são considerados desertos de notícias

Meire Santos - Editado por Ana Paula Cardoso
PxHere
Aproximadamente 33,7 milhões de brasileiros não têm acesso às informações jornalísticas sobre o lugar em que vivem. Essas pessoas, são residentes dos 3.280 municípios considerados desertos de notícias, ou seja, que não contam com a presença de nenhum veículo jornalístico. Os dados são referentes ao ano de 2020 e foram publicados no início deste mês na quarta edição do Atlas da Notícia, projeto que faz o mapeamento do jornalismo local no Brasil.

Os desertos de notícias normalmente são cidades pequenas, cuja população soma em média 10.281 habitantes.  As notícias que chegam até esses locais se restringem a cobertura jornalística nacional e de municípios vizinhos que possuem o próprio veículo de comunicação. Em comparação com o levantamento anterior, realizado em 2019, houve uma queda de 5,9% no número de desertos. Esse percentual equivale a 207 municípios que agora contam com pelo menos um veículo de comunicação local.

As cidades que possuem um ou dois veículos jornalísticos são consideradas quase desertos de notícias. De acordo com os dados do Atlas, existem aproximadamente 28,9 milhões de pessoas residindo nos 1.187 municípios que recebem essa classificação. A população média deles é de 24.433 habitantes. 113 novos municípios foram registrados como quase desertos. Outros 94 tonaram-se não desertos, por eles possuirem mais de três veículos de comunicação.

O crescimento do jornalismo online é apontado como um dos fatores que contribuíram para a redução dos desertos e quase desertos de notícias. Em 2020, foram registrados 1.259 novos veículos jornalísticos. Destes, 1.170 são online. Na classificação geral das principais mídias do país, o rádio aparece em primeiro lugar, com 4.403 veículos. Ele é seguido pelo jornalismo online, com 4.421. Já o jornalismo impresso, fica em terceiro lugar, com 3.229. Por fim, a televisão aparece em quarto lugar, com 1.239.

Quanto ao número de veículos mapeados regionalmente, o Sudeste aparece em primeiro lugar, com 4.517 veículos. Em seguida, a região Sul, com 3.315 e em terceiro lugar está o Nordeste, com 2.402. O Centro-Oeste aparece em quarto, com 1898 e a região Norte em último lugar, com apenas 960.

Produção jornalística nos quase desertos

A produção jornalística nos quase desertos de notícias costumam ocorrer a partir de iniciativas individuais ou familiares. Além disso, por serem municípios pequenos, as produções tendem a se manter digitalmente.

O empresário Lindner Franco deu início ao primeiro portal de notícias da cidade de São Pedro do Ivaí, interior do Paraná, em 2015. 
“Tudo começou porque eu já acompanhava notícias no rádio, trabalhava à noite e escutava a CBN, e com a chegada da internet para todos e a paixão por notícias, querendo saber dos acontecimentos, vimos a existência dessa necessidade, já que aqui em São Pedro do Ivaí não tinha nenhum site, nenhum portal para dar informações”, explica o empresário. 

Também a frente da sua empresa no ramo de pneus, além de trabalhar sozinho no portal desde o início, ele menciona o fato da rotina ser cansativa:
 
“A rotina de trabalho é cansativa, eu trabalho em dois lugares, trabalho no blog e na empresa, então tem que se dedicar”, e complementa, “Não é fácil você levar informação, colher a informação, postar as informações independente da hora e do lugar, trazer as informações com responsabilidade e qualidade. Não é fácil, mas estamos aí.”
Há dois anos e meio, Franco também iniciou uma Web TV em sua cidade.

Pontos críticos

A equipe responsável pelo Atlas da Notícia levanta alguns pontos preocupantes com relação aos quase desertos. Devido a pouca concorrência nesses locais, a qualidade jornalística fica ameaçada, sendo considerada mais suscetível a sofrer interferências políticas e empresariais. Também há uma preocupação com os “jornais fantasmas”, sendo estes veículos locais que deixam de produzir conteúdo jornalístico do próprio município para reproduzir notícias de agências nacionais e internacionais. 

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