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05/03/2021 às 17h39min - Atualizada em 05/03/2021 às 15h42min

“The New York Times” e “The Economist” questionam objetivos da Lava Jato e afirmam parcialidade de Moro

Segundo o jornal norte-americano, este foi “o maior escândalo judicial da história brasileira”

Pedro Pupulim - Editado por Ana Paula Cardoso
Sérgio Moro e a palavra "corrupção" projetada ao fundo. Fonte: Carl de Souza/Agence France-Presse.
Em 26 de fevereiro o jornal The New York Times publicou um artigo levantando dúvidas sobre os verdadeiros objetivos da Operação Lava Jato e do ex-juiz Sérgio Moro. O texto escrito por Gaspard Estrada, diretor-executivo do Observatório Político para a América Latina e o Caribe, faz severas críticas aos processos que levaram, dentre outras conseqüências, à prisão do ex-presidente Lula.
 
 
Primeiro, Gaspard destacou o sentimento inicial dos brasileiros em relação às investigações e os “resultados impressionantes” da operação. “Brasileiros tinham muitas esperanças sete anos atrás, quando um jovem juiz chamado Sérgio Moro lançou uma operação anticorrupção nomeada Lava Jato. Milhões de dólares recuperados, políticos importantes e homens de negócio foram presos, culminando na prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em abril de 2018.”


 
 
 

Na sequência, ele questionou se a investigação colocaria fim à corrupção endêmica (nativa, própria de um lugar) no país ou se teria outros interesses, ressaltando o “lado sombrio” da operação revelado nos últimos meses. Estrada se referia ao vazamento de diálogos entre o ex-juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato, em que traçavam estratégias para direcionar o processo.
 
O autor do artigo fez menção ao que entende ter sido o viés político das investigações:
 

“Em vez de erradicar a corrupção, obtendo maior transparência na política e fortalecendo a democracia, a agora notória Operação Lava Jato abriu caminho para Jair Bolsonaro chegar ao poder após eliminar seu principal rival, Lula, da disputa presidencial. Isso tem contribuído para o caos que o Brasil vive hoje.”

 
O articulista ainda afirmou que Moro violou o Estado de Direito e que recebeu, como recompensa, o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública. “Vai demorar um pouco até que todos os detalhes venham à tona, mas o que sabemos é que, para combater a corrupção, nosso herói, senhor Moro, usou métodos em flagrante violação do Estado de Direito. Como recompensa, recebeu o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública”, diz o texto.
 
Gaspard Estrada já havia feito duras críticas à Lava Jato em artigo escrito em 9 de fevereiro. Na ocasião, disse que a investigação “se vendia como a maior operação anticorrupção do mundo, mas se tornou o maior escândalo judicial da história”.
 
 
 The Economist
 
Em 27 de fevereiro, a revista britânica The Economist, assim como Gaspard Estrada, não poupou críticas a Sérgio Moro e aos demais envolvidos na Operação Lava Jato.

Autor do texto, o venezuelano Andrés Bello mencionou os méritos da “força-tarefa” ao prender políticos de destaque e recuperar bilhões aos cofres públicos. “Em uma região onde os poderosos gozavam de impunidade, isso foi sem precedentes."

Contudo, escreveu que houve politização da operação anticorrupção. A condenação do ex-presidente no caso do “triplex”, segundo Bello, revelou a parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro, por impedir que Lula concorresse às eleições de 2018.
 

“Ele condenou Lula a 12 anos (de prisão) por receber um apartamento na praia. Só que Lula não o possuía nem o usava. Havia outros casos mais sólidos contra Lula. Mas com ele fora da corrida presidencial em 2018, Moro se tornou ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro, seu vencedor de extrema direita. Mensagens vazadas mostraram que Moro orientou Deltan Dallagnol, o promotor principal em Curitiba, violando o procedimento”, afirmou Andrés.

 
De acordo com a revista, algumas lições foram aprendidas com a força-tarefa brasileira. Por fim, Bello traçou um paralelo entre a Lava Jato e outras operações ocorridas na América Latina envolvendo poderosos no México, Argentina e Peru, também conduzidas por interesses políticos. “Em uma de suas maiores batalhas, a América Latina está quase de volta à estaca zero”, finalizou.


 
 
REFERÊNCIAS:

GASPARD, Estrada. Operation Car Wash Was No Magic Bullet. The New York Times. 26/2/2021. Disponível em: > . Acesso em: 3 de mar. de 2021.

BELLO, Andrés. The sad, quiet death of Brazil's anti-corruption task-force. The Economist. 27/2/2021. Disponível em: . Acesso em: 3 de mar. de 2021.

GASPARD, Estrada. El Desairado Fin de Lava Jato. The New York Times. 9/2/2021. Disponível em: <https://www.nytimes.com/es/2021/02/09/espanol/opinion/lava-jato-brasil.html
> . Acesso em: 4 de mar. de 2021.

MIGALHAS. STF tira sigilo e conversas de Moro com procuradores são divulgadas. Migalhas. 1/2/2021. Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/quentes/339728/stf-tira-sigilo-e-conversas-de-moro-com-procuradores-sao-divulgadas
> . Acesso em: 4 de mar. de 2021.

NASSIF, Luis. Lava Jato monitorava minuto a minuto o grampo nos advogados e em Lula. Jornal GGN. 4/2/2021. Disponível em: <https://jornalggn.com.br/noticia/lava-jato-monitorava-minuto-a-minuto-o-grampo-nos-advogados-e-em-lula/
> . Acesso em: 5 de mar. de 2021.

COSTA, Gilberto. Lava Jato completa cinco anos com 155 pessoas condenadas. Agência Brasil. 16/3/2019. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2019-03/lava-jato-completa-cinco-anos-com-155-pessoas-condenadas
> . Acesso em: 5 de mar. de 2021.

CHAGAS, Paulo Victor. Entenda o caso do triplex em que Lula foi condenado. Agência Brasil. 24/1/2018. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-01/entenda-o-caso-triplex-em-que-lula-foi-condenado>. Acesso em: 5 de mar. de 2021.

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