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06/03/2021 às 12h09min - Atualizada em 06/03/2021 às 12h02min

A busca por crédito bancário e suas dificuldades na pandemia

Após quase um ano de crise financeira provocada pela Covid-19, micro e pequenos empresários enfrentam obstáculos para obter crédito e bancos se mostram restritivos

Dara Russo - Editado por Maria Paula Ramos
Andrea Piacquadio

Cada vez mais, empresas estão recorrendo a empréstimos para manterem os negócios durante a pandemia. Nesse cenário incerto, e com as taxas de juros aumentando, os bancos estão mais restritivos com o crédito por temerem a inadimplência. Uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada em junho de 2020, apontou que o país perdeu 716 mil empresas devido à crise. Quase um ano depois, mesmo com o auxílio de medidas do governo, os pequenos negócios ainda enfrentam dificuldades.

Os setores mais afetados pelos efeitos da pandemia foram o de serviços e as pequenas empresas. Segundo o levantamento do IBGE, 99,8% das firmas que não voltarão a abrir as portas eram de pequeno porte. Para lidar com o contexto desfavorável, a pequenas empresas e micro empresários buscaram  pela concessão de crédito, que possibilitaria a sobrevivência de suas empresas. Seja este crédito utilizado para capital de giro, ou seja, para o funcionamento cotidiano do negócio, ou para qualquer outro compromisso que ele tenha, explica a professora e economista Eleonora Horta.

Apesar de parecer uma solução promissora, a concessão de crédito tem sido dificultada. Dados coletados pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) em abril de 2020 mostram que 60% dos pequenos negócios que buscaram empréstimo desde o início da pandemia tiveram esse crédito negado. Segundo Eleonora, esse cenário restritivo pode ser atribuído a diversas razões teóricas e técnicas. “O risco em uma crise aumenta muito. E quando o risco aumenta, os bancos em geral, fazem duas coisas: eles aumentam a taxa de juro, ou restringem o crédito”, afirma. 

A economia desestabilizada pela recessão entra em conflito com o aumento de juros, e considerando a taxa Selic 2% ao ano, a restrição do crédito aumenta. Além disso, os bancos levam em conta as taxas de inadimplência e as dificuldades em geral dos empresários para quitar compromissos anteriores e diante desse risco. “Isso faz com que sobre menos dinheiro para ser emprestado inclusive, em geral, os pequenos negócios têm menos garantias para oferecer, o que também prejudica a concessão de empréstimos para eles”, explica a economista.

Medidas emergenciais do governo

     Frente à situação, o Governo Federal anunciou diversas medidas, como uma linha de crédito para micro e pequenas empresas e um programa emergencial de crédito, mas ainda há dificuldades de acesso. Dentre as opções disponíveis, podem ser citadas a antecipação de recebíveis, que propõe juros menores e exige que a empresa tenha crédito a receber, como vendas por cartão de crédito, cheque ou boleto; a Linha BNDES Crédito Pequenas Empresas, que disponibiliza crédito para empresas com faturamento anual de até 300  milhões e limite de financiamento até 70 milhões por ano; e o GiroCaixa Pronampe, que, instituído pela lei nº 13.999 de 18 de maio de 2020, liberou 120 milhões em crédito para pequenas e micro empresas com um faturamento anual de 4,8 milhões, considerando a receita bruta de 2019, tendo como exigência a não demissão de funcionários.
 
Uma explicação para o difícil acesso ao crédito, segundo Eleonora, é o excesso de burocracia no país, especialmente no setor público. Pequenos e micro empresários muitas vezes lidam com  a informalidade e a falta de documentação. “Desburocratizar sempre seria uma alternativa melhor, baixar um pouco as exigências, mas aí aumenta ainda mais o risco”. De modo geral, o momento não é o mais estimulante ao investimento e a trava no crédito também pode ser decorrente de um sentimento amplo de insegurança.

     “Significativa parte das pessoas que receberam o auxílio emergencial, empossou esse dinheiro”, completa a economista. Isso significa que muitos brasileiros têm optado pelo entesouramento de seus recursos financeiros devido ao medo provocado pela pandemia, além disso, muitos cidadãos nem são bancarizados. Esse empossamento faz com que o dinheiro não vá para o consumo e também não vá para o setor financeiro. O dinheiro fica parado e não é aplicado em nenhum ativo financeiro para gerar juro e, consequentemente, mais empréstimos.

 

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