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12/03/2021 às 02h37min - Atualizada em 12/03/2021 às 02h33min

25 anos sem Caio Fernando Abreu

"Não saberás nunca que nesse exato momento tens a beleza insuportável da coisa inteiramente viva"

Lívia Oliveira - Editado por Gustavo Henrique Araújo
Ebiografia
Foto: Caio Fernando Abreu | Reprodução: Google
Usuários do Tumblr que seguem blogs de citações e poesias podem se aconchegar, pois talvez saibam do que será tratado. Caio Fernando Abreu sempre teve seu espacinho na tal plataforma, sobretudo entre os conteúdos de citações e poemas que circulam digitalmente. As palavras do gaúcho conseguiram tocar as gerações e permanecem fortes e populares até hoje, não é por nada a sua célebre presença na internet. 
 
"Não, meu bem, não adianta bancar o distante: lá vem o amor nos dilacerar de novo…" 
Quando se vê seu nome abaixo de uma citação, pode-se pensar: lá vem o Caio nos dilacerar de novo. E Caio sempre dilacera. Seus textos coloquiais e temas não muito convencionais são como agulhas certeiras no leitor, uma cirurgia, aprofundando-se para marcá-lo com uma reflexão ou identificação. 
 
Em 12 de setembro de 1947, nascia em Santiago, Rio Grande do Sul, o amante pelas letras desde os primórdios anos de vida que construiria inteira com palavras. Aos seis anos de idade escreveu o primeiro texto e na adolescência teve um conto publicado pela revista Cláudia. Como tinha influências tanto literárias quanto não literárias, trouxe toda essa bagagem externa para a sua literatura, mixando diferentes gêneros. A escrita corria nas suas veias. 
 
A diversidade de empregos e cidades que passou lhe encheram culturalmente, também atrelada à explícita influência de Cazuza e Rita Lee nas suas obras puderam aproximar o leitor aos seus textos. É preciso perceber, também, como quebra o velho e arcaico discurso academicista de que grandes escritores deveriam inspirar-se naqueles clássicos de 1800 e bolinha. Caio tinha suas inspirações na música, cinema, artes em geral, não só literatura. Também lá havia Clarice Lispector, protagonista na lista de inspirações do escritor, e por muitas comparadas a ele pela abordagem intimista forte e marcante nas obras da modernista. 
 
Com seus versos popularizados na internet, ganhou uma espécie de título como "conselheiro". Muitas vezes suas palavras ajudam ou guiam o internauta, sobretudo aquele que lida com algumas das suas temáticas. Porque entre o sexo, o medo, a solidão, os relacionamentos, ele surge com sua fluidez, tornando tudo tão gracioso e leve, mas ao mesmo tempo cruel acerca de algumas verdades difíceis de admitir. Além disso, seria considerado o "louco dos signos", como diz-se atualmente, por ter sido um amante da astrologia e traçar o próprio mapa astral. 
 
Em termos de autoria, diria que se trata de um ser um tanto multifacetado. Não ficava só na prosa, migrava para os versos, nos ensaios, rodopiava nos contos e ainda era dramaturgo. Está aí o hibridismo: eram tantas atividades que trazia as características de uma para a outra. E, com isso, falar que ganhou três vezes o Prêmio Jabuti não chega a ser uma surpresa, tamanha obra e importância do gaúcho. "Morangos mofados", seu quarto livro de contos, foi aclamado pela crítica como uma obra-prima e a revista Isto É afirmou que era sua melhor obra do ano. Como destaque, também pode-se trazer "Onde andará Dulce Veiga?" que foi adaptado ao cinema em 2008 por Guilherme de Almeida Prado. 
 
É perceptível que toda essa bagagem e talento nato do gaúcho fosse dá-lo um incrível legado. Falecido devido às complicações do HIV, doença a qual publicamente informou através de três cartas no jornal O Estado de S. Paulo, ele permanece imortalizado nas memórias dos brasileiros. Aliás, vale ressaltar que, assim como Caio, seu ídolo Cazuza também foi vítima da AIDS.
 
Agora, 25 anos após sua morte (essa ocorrida em 25 de fevereiro de 1996), vale a pena ressaltar também tamanha influência dele aos novos escritores do século. Sua presença contínua entre os apreciadores de versos solitários e profundos roda o ciberespaço e inspira jovens ao redor do Brasil. Caio Fernando Abreu estará sempre no coração do país. 
 

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