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13/03/2021 às 00h53min - Atualizada em 13/03/2021 às 00h31min

A Metamorfose Ambulante: de Raulzito a Pai do Rock Brasileiro

Já são mais de 30 anos desde a morte de Raul Seixas, o eterno Maluco Beleza

Larissa Gomes - Editado por Roanna Nunes
Reprodução Internet
O mês de junho de 1945 já dava adeus quando, em Salvador, na Bahia, nasceu Raul Santos Seixas. O filho de Maria Eugênia com Raul Varella e irmão de Plínio se apaixona pelo Rock’n Roll ainda bem jovem, na pré-adolescência. Seu grande ídolo era Elvis Presley e, aos 14 anos, fundou um clube com o amigo Waldir Serrão em homenagem ao Rei do Rock.

O Elvis Rock Club era a “gangue” de Raulzito, mesmo que na época o estilo musical era abominado por muitos pais. Raul arrumava o topete, colocava a gola da jaqueta para cima e interpretava as músicas do ídolo com muita paixão. Apesar disso, o amor pela literatura era maior. Seu grande sonho era ser escritor. Compartilhava do sentimento com o pai, dono de uma biblioteca enorme que era constantemente devorada pelos dois irmãos Seixas.

 
Raulzito. Reprodução Internet.


Filho da terra do Axé, integrou a banda Os Panteras com Mariano Lanat, Carleba e Eládio Gilbraz, que logo seria rebatizada como Raulzito e Os Panteras. Os jovens viajaram até o Rio de Janeiro e lá lançaram o primeiro e único álbum da banda (homônimo) que não conquistou nem os críticos, muito menos o público. Raul decidiu, então, voltar a Salvador. Ficou pouco tempo, pois foi empregado como produtor CBS Discos e voltou ao Rio, onde compôs músicas para diversos artistas da Jovem Guarda.
 
Raulzito e Os Panteras. Reprodução Internet.


Os anos 1970 foram o auge para Raul Seixas. Já em 1973 conquistou o Brasil com seu álbum Krig-Há, Bandolo! e transformou-o no ícone do Rock. De forma inteligente e subjetiva, protestava contra a Ditadura em suas letras, cantadas pelos quatro cantos do país com inúmeras metáforas.
 
Em Metamorfose Ambulante, o assunto era a busca pela liberdade de expressão; em Ouro de Tolo criticava o “Milagre Econômico” brasileiro; já a Mosca Na Sopa representaria a resistência da classe artística, como aponta Carolina Marcello, do site Cultura Genial.

 
"Atenção, eu sou a mosca, a grande mosca
A mosca que perturba o seu sono
Tente outra vez
Eu sou a mosca no seu quarto a zum-zum-zumbizar"


- Mosca Na Sopa
 
Nessa época, firmou uma parceria duradoura com o escritor Paulo Coelho, que conheceu ao se interessar por um artigo sobre extraterrestres em uma revista. Os dois amigos compuseram diversas letras juntos e fundaram a Sociedade Alternativa, uma filosofia baseada nas ideias do inglês Aleister Crowley, divulgada por Raul em forma de música também.



Raul Seixas e Paulo Coelho. Reprodução Internet.

Em 1974, Raul Seixas e Paulo Coelho foram presos e torturados pelo governo, e depois exilados para os Estados Unidos com suas esposas. Enquanto isso, seu álbum Gita fazia enorme sucesso no Brasil, o que fez com que voltassem ao país e rendeu a Raul um disco de ouro.

Nos anos seguintes, os LP’s Novo Aeon, Há Dez Mil Anos Atrás e O Dia Em Que a Terra Parou, sendo o último uma parceria de Raul com o amigo Cláudio Roberto, agraciaram o público com sucessos gigantes como Tente Outra Vez e Maluco Beleza.

 
"Oh queira
Basta ser sincero e desejar profundo
Você será capaz de sacudir o mundo, vai
Tente outra vez"

-
Tente Outra Vez

O final dos anos 70 e início dos anos 80 marcaram o começo da batalha do astro com o alcoolismo. Em meio a alguns lançamentos com vendas razoáveis, Raul Seixas entrou em uma depressão profunda, abusando do uso das drogas. Teve altos e baixos até voltar aos palcos com a ajuda do cantor Marcelo Nova em 1988.

Com seu décimo terceiro álbum e penúltimo em vida, Uah-Bap-Luh-Bap-Lah-Béin-Bum! Raul mostrou ao público que ainda era o Pai do Rock Brasileiro, um Cowboy Fora da Lei.

 
Raul nos anos 80. Reprodução Internet.
 

"Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar"

- Canto Para Minha Morte

 
Em 21 de agosto de 1989, sua funcionária o encontra morto no apartamento em São Paulo onde residia. Imortalizado no cenário musical brasileiro, o genial Maluco Beleza deixou um legado com muitas filosofias de vida e um repertório cantado até hoje.
 

Pandemia e Raul Seixas: O Dia Em Que a Terra Parou

Reprodução Internet.

 
Recentemente, no ano de 2020, a canção-título do LP O Dia Em Que a Terra Parou foi bastante divulgada nas redes sociais, já que expressava situações que estavam ocorrendo no momento, em decorrência da pandemia do vírus COVID-19.
 

"Foi assim
No dia em que todas as pessoas
Do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como se fosse combinado em todo o planeta
Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém, ninguém"

- O Dia Em Que a Terra Parou

 
Muitos disseram que Raul Seixas seria vidente, prevendo a pandemia mais de 40 anos antes dela de fato acontecer. Na verdade, por mais genial que Raul tenha sido, isso não passa de uma curiosa coincidência. A canção foi inspirada em um filme de mesmo nome lançado em 1951 e mostrava um extraterrestre visitando à Terra e parando o funcionamento de todos os aparelhos elétricos. Também pode ser vista como mais uma crítica em forma de metáfora às opressões da Ditadura Militar.
 

Documentário Raul - O Início, o Fim e o Meio 

Documentário Raul: O Início, o Fim e o Meio. Reprodução Internet.
 
Uma ótima forma de conhecer mais da carreira e história de Raul Seixas é com o documentário Raul – O Início, o Fim e O Meio (2012) dirigido por Walter Carvalho. Com entrevistas de amigos, ex-esposas, filhas e pessoas que fizeram parte da vida do roqueiro, o filme biográfico mostra detalhes da vida de um dos maiores ídolos do Brasil, nos apresentando não só o artista, mas também o homem por traz de todo o sucesso.
 
Reprodução Internet.
 
"O Rock nasceu no Brasil há dez mil anos, sofreu uma metamorfose ambulante e passou a se chamar Raul"

Raul: O Início, O Fim e O Meio

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