Eu não sou boa em lidar com a perda. Porque eu odeio a dor (quem não?), e a perda me remete a dor. Quando eu li "O peso do pássaro morto", eu tive um choque. Primeiro que o estilo era diferente, algo como poesia, que flui de uma maneira surpreendente; segundo, que a história é impactante e dolorosa, mas quando eu percebi, já estava tão envolvida na história que não queria mais largar.
O livro de estreia de Aline Bei conta a história de uma mulher desde os 8 anos de idade até os 52 anos. Narrando coisas simples da vida cotidiana e as tragédias que a cercam. Em pouco mais de 160 folhas, em prosa-poesia "assistimos" à protagonista que de todas as maneiras e com todas as forças, tenta não ser ou viver só com a dor que a acompanha.
Em entrevista ao Universa, ao falar se o livro era sobre perdas, Aline Bei disse: “O livro é aberto. Quando decidi escrever sobre o verbo perder, logo decidi que esse verbo seria ocupado pelo corpo de uma mulher. As perdas são muito do universo feminino. É claro que todo ser humano sofre, mas vivendo em um mundo extremamente machista, a gente sabe que nossas dores acabam sendo maiores."
A psicanalista e professora-doutora da Universidade Federal de Catalão (UFCat) e colaboradora do Jornal Opção, Renata Wirthmann, escreveu que a sua experiência como leitora se misturou com a sua experiência de escuta na sua clínica. “Lendo a devastação dessa menina sem nome eu ia me lembrando das tantas mulheres devastadas que já conheci e escutei. Cada uma dessas mulheres tentando contornar a marca da falta no desespero de driblar a devastação”, escreveu a psicanalista.
Ao mesmo tempo que a leitura do “Pássaro”, como a autora chama o seu livro, é leve, talvez por ser escrito em prosa-poesia, o tema abordado é forte e sensível e nos faz refletir sobre a vida e as dores, especificamente sobre a dor. “A perda era um tema que estava em muitos textos meus. Quando eu comecei a pensar em escrever um romance, eu decidi encontrar um tema sobre o qual eu poderia falar apaixonadamente, de um jeito natural. Então decidi escrever sobre perdas e assim que o 'Pássaro' nasceu”, explica Aline Bei em entrevista ao Universa.
Outro ponto interessante sobre o livro é que o seu sucesso se deve exclusivamente à escritora. Ela comercializa os exemplares através das redes sociais, divulga e cria laços com o leitor. “Eu acredito nessa ponte de formar leitor, porque na livraria as obras estão todos ali, juntas, e acho difícil para um livro contemporâneo ter uma vida mais longa se o autor não trabalhar pesado em cima dele; se eu não tivesse feito o trabalho que fiz e continuo fazendo, tenho certeza que o 'Pássaro' não teria sido lido como foi."
O "Pássaro" ganhou prêmios como o Prêmio Toca e o Prêmio Literatura São Paulo de 2018.
Referências
Flores, Júlia. Aline Bei, autora de "O peso do pássaro morto": "Dor da mulher é maior". Universa. 16, fevereiro,2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2021/02/16/aline-bei-autora-de-o-peso-do-passaro-morto-dor-da-mulher-e-maior.html.