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18/03/2021 às 16h51min - Atualizada em 18/03/2021 às 16h41min

O fluxo de informações é a nova droga da geração?

Sociólogos explicam que a grande quantidade de informações e a rapidez em que chegam a todo momento é capaz de deixar os indivíduos apáticos

Yngrid Alves - Editado por Andrieli Torres
Foto: Reprodução/Google Imagens
 Uma notícia quente no jornal da TV. Outra nas redes sociais. Mais uma nas rádios, entre outras nos jornais impressos e revistas. O fluxo de informações que chega nos canais de comunicação é constante e rápido, de modo que bombardeia a mente do indivíduo com diferentes impactos para cada notícia. Em tese, se manter informado é benéfico para a percepção de mundo e aumenta o conhecimento, no entanto, estudos mostram que devido à tamanha abundância e recorrência, não afeta mais o lado emocional do telespectador.
 
Quando o Brasil atingiu a marca de mais de oito mil mortes na pandemia, o apresentador William Bonner fez um discurso em sua exibição no Jornal Nacional que pontuou a banalização dessas perdas devido à constância em que eram noticiadas. Segundo o jornalista, o telespectador já devia estar acostumado com o aumento dos óbitos pois, além de serem apenas números, era noticiado de forma recorrente, todos os dias. 
 
Tal fato é explicado pelos sociólogos Robert Merton e Paul Lazarsfeld, com a ideia de que, as mídias exercem funções sobre os indivíduos. Nesse caso, se aplica a disfunção narcotizante uma vez que a mídia atua como uma espécie de droga que entorpece a sociedade de modo que a deixa apática diante de situações problemáticas.
 
Segundo Lazarsfeld, elas oferecem o risco de o indivíduo se sentir satisfeito apenas em ter conhecimento da situação, sem participar ativamente da questão em prol de uma mudança efetiva com formação de opiniões ou medidas. Essa ação entorpecente pode ser vista por exemplo nos casos de contaminação por IST’s (Infecções Sexualmente Transmissíveis), na qual a problemática é discutida e mostrada em diversos canais de comunicação, e mesmo assim, o número de infectados só cresce. Ou seja, a sociedade tem conhecimento sobre o assunto e seus riscos, mas não consegue pôr em prática tais aprendizados.
 
A assessora de imprensa, Liane Zaidler, em entrevista ao Portal de Jornalismo ESPM, potencializa o pensamento dos teóricos ao afirmar que embora a informação seja abundante, não significa que informe de fato o espectador. “Diariamente, somos bombardeados pelas mídias impressas e eletrônica, com informações e assuntos que são repetidos até a exaustão. Na semana seguinte, já nos esquecemos das notícias que lemos e assistimos. Isso faz com que a população tenha um conhecimento passivo, ao invés de uma participação ativa.”
 
Na série norte-americana Black Mirror, no episódio ‘Smithereens’, é retratado justamente a questão da apatia da sociedade depois de se entreter com algum acontecimento. No capítulo, o sequestro de um jovem é tratado como espetáculo ao ser filmado ao vivo por espectadores no local. Assim que todo o caos passa, internautas apenas continuam a deslizar seus dedos nas telas, ligar suas televisões e rádios esperando para o próximo entretenimento sem que consiga refletir sobre a problemática do último.
 
Além disso, a atribuição de status que a mídia gera em todos os seus conteúdos compartilhados resulta na credibilidade incontestada pelo público. Não é à toa que atualmente os canais de comunicação de massa são vetores também de publicidade, a fim de movimentar o mercado. Seu alcance é global e garante que boa parcela da população compre a ideia que foi passada nos canais sem refletir sobre. 
 
Ana Beatriz Magalhães, de 20 anos, reafirma essa tese ao admitir que foi influenciada pela mídia a assistir o reality show da Globo ‘Big Brother Brasil. “Eu nunca tinha parado para assistir, nunca gostei, mas de tanto passar a chamada na televisão e ser muito comentado no Twitter, eu acabei começando a acompanhar” desabafou ela.
 
Analisando o poder de influência que a mídia exerce, o professor e jornalista Daniel Ladeira, também em entrevista ao Portal ESPM, alega que a mídia deve usar dessa coerção para ajudar seus consumidores na construção de um repertório crítico: “No momento em que a pessoa começa a ficar completamente alienada com a quantidade de informação, a mídia deve suprir a população de repertório intelectual, ajudar a construir um senso crítico, o que resultaria em uma opinião pública devidamente madura [...] a mídia deve pensar no papel da educação e não só em encher de informação a cabeça do receptor”, argumentou.
 
Luis André Arruda, de 21 anos, reforça a ideia do professor ao dizer que já foi muito educado pela mídia; no caso dele, envolveu a questão sobre cirurgias plásticas. Ele conta que era a favor e não conseguia ver problema na prática dos procedimentos, mas depois de ter visto relatos e casos com resultados negativos - e até fatais - em reportagens, mudou sua opinião. “Acho que não tem problema fazer, porém precisa ser muito bem pensado devido aos riscos”, declarou ele.
 
Em tempos de abundância de informação, é necessário fazer seu uso de forma sadia, dosada e filtrada para não cair no mundo narcotizante. De nada adianta consumir desenfreadamente todos os conteúdos disponibilizados pelas mídias se não conseguir colocá-los em prática no dia a dia. Enquanto o contrário disso continuar sendo realidade, viveremos em uma eterna onda. 

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