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19/03/2021 às 03h12min - Atualizada em 19/03/2021 às 03h02min

A obra Hiroshima como agente transformador da visão social

O livro-reportagem que gerou mudanças na forma do mundo enxergar a explosão na cidade de Hiroshima, no Japão, em agosto de 1945

Sheyla Ferraz - Editado por Andrieli Torres
Foto: Reprodução/Internet
O livro Hiroshima foi escrito pelo jornalista John Hersey, que foi além dos dados e das informações oficiais e institucionais, divulgadas até então a respeito da tragédia em Hiroshima. A disputa de poder político levou o país a ser alvo do lançamento de uma bomba capaz de interromper e destruir sonhos, famílias, carreira e projetos de mais de 100 mil pessoas. O lançamento da bomba na cidade completou 75 anos em agosto do ano passado, 2020.

Ele traz o relato de seis sobreviventes da explosão. Como conta o livro, em respeito às vítimas, os japoneses denominaram de hibakusha todos aqueles que sobreviveram ao dia triste e histórico de 6 de agosto de 1945.

A obra ilustra a vida dos atingidos com riqueza de detalhes impressionantes, John leva o leitor a se sentir dentro da história e a passear por um país devastado pela primeira arma nuclear do mundo. A bomba tinha potência de 13 a 15 toneladas de dinamite, e recebeu, ironicamente, o nome de “Litlle boy”, que traduzido para o português, quer dizer: menininho. A bomba tinha três metros de comprimento e foi lançada a mais de 500 metros acima da cidade de Hiroshima.

Tudo começou com a sugestão do editor da revista The New Yorker, Willian Shawn, que pensou em mostrar o outro lado da moeda para os americanos. A partir disso, o repórter decidiu revelar além do que aquele dia trágico seria. Decidiu expor testemunhos de quem conseguiu sair, ainda que fragmentado, da terrível explosão. A reportagem ocupou toda uma edição da revista The New Yorker e a venda esgotou rapidamente. Também foi lida nos programas de rádio.

O jornalista Hersey viajou por duas vezes ao Japão. A primeira vez foi no ano após a explosão, em 1946. Ficou 19 dias no país apurando as histórias dos seis protagonistas do livro-reportagem; e a segunda, após 40 anos, quando retornou para saber como estavam. Fazendo conhecidos o antes, durante e pós-explosão.

Sua apuração foi rigorosa, e Hersey conseguiu trazer clareza ao desenhar em palavras o estado social e emocional das vítimas, sendo fiel à descrição dos acontecimentos na versão dos sobreviventes atingidos. Ele soube lidar com a difícil missão de colher aquelas histórias trágicas, envolver o leitor e conscientizá-lo do poder dos impactos trazidos pelo ataque, dando profundidade ao fato e gerando diversas reflexões.

É importante a compreensão do contexto e dos contornos da construção do livro e suas motivações.  Hiroshima é uma obra-prima para o Jornalismo Literário, por mostrar o avesso da tragédia ao trazer humanização. A fala dos personagens trás densidade à leitura e empatia.  É como mergulhar mais fundo na notícia que abalou o mundo e mostrar além de dados, além de uma visão única e rasa sobre o acontecido.

A reportagem que se transformou em livro, foi distribuída gratuitamente, mais de um milhão de cópias. A partir de então, a sociedade teve contato com relatos bem detalhados do início de um dia memorável, do exato instante de quando tudo aconteceu e as marcas deixadas por uma bomba. Neste caso, para que houvesse toda esta repercussão, a literatura exerceu um papel fundamental. Ela “roubou a cena” para dar um outro olhar à sociedade, se tornando  um dos livros-reportagem mais relevantes mundialmente.

A notícia sobre o atentado teria tomado um rumo limitado sem a presença da literatura, sem a presença das características do Jornalismo Literário que encharcam a narrativa do livro. As histórias foram destrinchadas de modo profundo e emocionante. Com uma linguagem simples e clara, capazes de envolver o leitor e levá-lo a repensar e a nunca mais olhar aquele atentado da mesma forma.

Hoje, o livro-reportagem de Hersey é modelo para estudantes de jornalismo, para os amantes da leitura e para todos que queiram desbravar mais conhecimento a respeito da fatalidade de seis de agosto de 1945.Se m dúvida alguma, Hiroshima é um exemplar nobre, que carrega em si, até hoje; o quão poderosa é a literatura e o que ela descortina em nossos dias. Os registros são atemporais e merecem total respeito e valorização.

A literatura entra em cena para compor mais profundamente e socialmente fatos que recebem uma atenção artificial se comparada à riqueza de profundidade que ela nos proporciona. A frase do filósofo (ainda que não tenha sido escrita como comentário da obra) George Henry Lewes, resume a importância que há na literatura e a potencialidade que Hiroshima trouxe com sua publicação: “A literatura é ao mesmo tempo a causa e o efeito do progresso social. Aprofunda nossas sensibilidades naturais e se fortalece exercitando nossas capacidades intelectuais.”

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