“As leituras de Carolina Maria de Jesus não são nem um pouco fáceis. Ler sobre a fome, a miséria, entre outras mazelas, é um ato muito angustiante. No entanto, conhecer a perspectiva de uma brasileira moradora da favela, negra, semianalfabeta e mãe solteira, é extremamente necessário para se entender a sociedade na qual fazemos parte. Assim, acredito que esta experiência, apesar de ser difícil, deveria ser vivenciada por todos nós, brasileiros.”
Além disso, Maria Clara pontuou que os relatos de Carolina permitiram a ela entrar em contato com uma realidade diferente de tudo que conhecia, revelando as faces de um Brasil desumano e excludente, o que reforça ainda mais a importância e atualidade dos escritos da mineira.
Um dos maiores objetivos da escritora, de fato, era revelar todas as mazelas e exclusões que ela e seus próximos eram obrigados a serem habituados, frente a desigualdade do país. E o seu objetivo sem dúvidas foi alcançado, nesses 107 anos que Carolina completaria, reforça ainda mais a potência da mulher, negra, favelada e escritora que ela foi, o público leitor consegue assimilar todas as suas vivências e trazer tudo isso para a atualidade. A realidade de Carolina Maria de Jesus de 1960 é a mesma de milhares de brasileiros, pois poucas coisas mudaram desde então.
"Escrevo a miséria e a vida infausta dos favelados. Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade."
Seus escritos ecoaram tanto e ganharam tanta potência, que neste ano, recebeu uma homenagem póstuma, ganhou o título de doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O que é um reflexo da sua atemporalidade no mundo literário e humano do Brasil.