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19/03/2021 às 09h25min - Atualizada em 19/03/2021 às 08h52min

107 anos de Carolina Maria de Jesus: seus ideais e objetivos na escrita

A escrita de Carolina é atemporal, forte e potente

Adélia Fernanda Lima Sá Machado - Editado por Andrieli Torres
Foto colagem feita por colaboradora - instagram literário _baudelivro
Carolina Maria de Jesus foi uma escritora brasileira que ficou conhecida por seus relatos vivenciados dentro da favela. Ela completaria 107 anos em 14 de março deste ano, seus ideais foram muitos, além dos objetivos muito claros através de sua escrita. Apesar do tempo decorrido, Carolina de Jesus, como é popularmente conhecida no meio do público leitor, consegue ser atual em pleno Brasil do século 21, pois muitas questões vividas pela escritora e relatadas em seu diário, que posteriormente virou livro, continuam sendo realidades no país.

É um desejo geral da nação que um dia a fome, miséria e discriminação sejam apenas memória para os brasileiros, ou que ficassem estagnados lá no passado, mas é nítido que é uma realidade que se torna comum a cada dia. Carolina de Jesus escrevia em seu diário vivências de uma favelada, assim ela mesmo se denominava, ao morar na favela Canindé, Zona Norte de São Paulo. A fome e a luta pela sobrevivência são os pontos centrais de: Quarto de despejo, publicado em 1960, e são muitos os escritos que facilmente podem ser confundidos com os nossos dias, frente a pouca mudança social do país.

A escritora usou seus escritos como denúncia, ou melhor, como um grito dos excluídos que ecoam até hoje. Seus relatos não são fáceis de ler ou prosseguir, devido aos vários sentimentos que um leitor tem ao saber da fome e miséria presente na vida de muitas famílias do país. A estudante de 14 anos, Maria Clara Ferreira, ao ser indagada sobre as sensações de ler Carolina Maria de Jesus afirmou ser difícil, mas necessário:

“As leituras de Carolina Maria de Jesus não são nem um pouco fáceis. Ler sobre a fome, a miséria, entre outras mazelas, é um ato muito angustiante. No entanto, conhecer a perspectiva de uma brasileira moradora da favela, negra, semianalfabeta e mãe solteira, é extremamente necessário para se entender a sociedade na qual fazemos parte. Assim, acredito que esta experiência, apesar de ser difícil, deveria ser vivenciada por todos nós, brasileiros.”

Além disso, Maria Clara pontuou que os relatos de Carolina permitiram a ela entrar em contato com uma realidade diferente de tudo que conhecia, revelando as faces de um Brasil desumano e excludente, o que reforça ainda mais a importância e atualidade dos escritos da mineira.

Um dos maiores objetivos da escritora, de fato, era revelar todas as mazelas e exclusões que ela e seus próximos eram obrigados a serem habituados, frente a desigualdade do país. E o seu objetivo sem dúvidas foi alcançado, nesses 107 anos que Carolina completaria, reforça ainda mais a potência da mulher, negra, favelada e escritora que ela foi, o público leitor consegue assimilar todas as suas vivências e trazer tudo isso para a atualida
de. A realidade de Carolina Maria de Jesus de 1960 é a mesma de milhares de brasileiros, pois poucas coisas mudaram desde então.

"Escrevo a miséria e a vida infausta dos favelados. Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade."
 

Seus escritos ecoaram tanto e ganharam tanta potência, que neste ano, recebeu uma homenagem póstuma, ganhou o título de doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O que é um reflexo da sua atemporalidade no mundo literário e humano do Brasil.
 


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