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19/03/2021 às 09h33min - Atualizada em 19/03/2021 às 08h57min

Porta ou espelho: a perspectiva do leitor diante da imersão literária

A leitura possibilita os leitores trilharem caminhos para a descoberta de um novo mundo

Bianca Nascimento - Editado por Roanna Nunes
Foto/Reprodução: Freepik
Um mundo novo de conhecimentos e de informações é desperto no simples ato de ler um livro. Enquanto os olhos interpretam as linhas e a conjunção de palavras, a mente imagina as situações relatadas, aproxima as narrativas da vida pessoal e faz com que haja relação aos acontecimentos da sociedade.

De fato, muito se ouve sobre quanto o ato de ler é importante para todos os sentidos, mas pouco é abordado referente a captação de novas percepções que são adotadas pela leitura, o que vai além do superficial, mas, toma o rumo da capacidade de analisar e ver as características presentes na sociedade por outra ótica.

É nesse ponto que a leitura consiste em ser considerada mais uma porta de entrada para desvendar novos territórios do que um espelho que reflete a superficialidade ao que é identificado e aproximado do real.

O escritor Franz Kafka, foi um grande autor que utilizou técnicas para conduzir o leitor a uma submersão literária e a novos questionamentos. Por meio do labirinto de suas descrições e das apresentações de uma realidade distorcida pela mistificação, Kafka consegue despertar a imaginação além das narrativas, aguçando o senso crítico sobre as coisas.

 

“De modo geral, acho que devemos ler apenas os livros que nos cortam e nos ferroam. Se o livro que estivermos lendo não nos desperta como um golpe na cabeça, para que perder tempo lendo-o, afinal de contas? Para que nos faça feliz, como você escreveu? Meu Deus, poderíamos ser tão felizes assim se não tivéssemos livros; livros que nos alegram, nós mesmos também poderíamos escrever num estalar de dedos. Precisamos, na verdade, de livros que nos toquem como um doloroso infortúnio, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, que nos façam sentir como se tivéssemos sido expulsos do convívio para as florestas, distantes de qualquer presença humana, como um suicídio. Um livro tem de ser o machado que rompe o oceano congelado que habita dentro de nós.” (Citação de Kafka, no livro História da leitura, Steven Roger Fischer, p. 285).

Em seu livro 'A metamorfose', Kafka atribui uma narrativa alucinante em decorrência a transformação do personagem Gregor Samsa, um rapaz comum, em um inseto. A narração dos eventos e a forma como apresenta as reflexões do personagem diante de um cenário não promissor, traz criatividade ao enredo, consequentemente e de modo voluntário, faz a sociedade refletir sobre a impotência diante de um mundo reverso.
Sobretudo, a literatura permite uma interação próxima com o leitor e impulsiona a busca por mais do que é descrito nas entrelinhas, daquilo que não foi dito ou não ficou explícito.

Ademais, é imergir ao literário e ser entregue a uma reflexão profunda do real e do subconsciente, daquilo o que está exposto e o que é vivido. É entrar por um caminho íngreme, cheio de espinhos que incomodam para não permanecer do mesmo jeito, tendo que abrir os olhos para uma realidade diferente e seguir por um trajeto que não se sabe aonde vai levar, mas uma coisa é certa, a visão do mundo é ampliada, e muitas vezes, transformada.

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