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19/03/2021 às 15h08min - Atualizada em 19/03/2021 às 15h00min

Pandemia pode prejudicar saúde mental e desenvolvimento de crianças e adolescentes

Segundo a UNICEF, mais de 330 milhões de jovens estão presos em casa há pelo menos nove meses

Larissa Campos - Editado por Maria Paula Ramos
Em foto preto e branco, criança olha para rua pela janela - Foto por: Juan Pablo Serrano Arenas/Pexels
Uma pesquisa realizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), revelou que a saúde mental de crianças em todo o mundo está sendo posta em risco devido ao isolamento social, que força pelo menos uma em cada sete a permanecer em casa sob ordens ou recomendações da saúde pública do país.

O levantamento mostra que mais de 330 milhões de jovens estão em casa há pelo menos nove meses, desde que o vírus atingiu patamares incontroláveis.

 
 
"Dezenas e dezenas de milhões de jovens foram deixados se sentindo isolados, assustados, solitários e ansiosos por causa dos confinamentos e isolamentos impostos por conta da pandemia", disse James Elder, porta-voz do UNICEF.

Elder afirma ser necessária uma melhor abordagem dos países em relação à saúde mental de crianças e adolescentes, o que só será possível de ser feito dando atenção à questão.

Tal preocupação ganha ainda mais embasamento quando relacionada a outro dado: de acordo com a UNICEF, metade de todos os transtornos mentais se desenvolvem antes dos 15 anos. A maioria das 800 mil pessoas que morrem por suicídio anualmente têm menos de 18 anos.

Para Ana Paola, psicóloga infantil, os prejuízos da pandemia para crianças e adolescentes são inúmeros e já podem ser sentidos. Em relação à saúde mental, foi possível notar o aumento do estresse, além de sintomas ansiosos e depressivos. Também foi possível perceber impactos no desenvolvimento. “O desenvolvimento de habilidades acontece por meio dos estímulos oferecidos, nesse período crianças e adolescentes receberam poucos estímulos e aumentaram consideravelmente seu tempo de exposição às telas. A ausência de uma rotina bem estabelecida e a necessidade urgente de adaptação a uma nova realidade trouxeram impactos significativos que prejudicarão toda uma geração”, afirma.

Nesse sentido, Ana destaca que, diferentemente dos adultos, quando uma criança precisa de ajuda, raramente verbaliza sobre seu sofrimento, mas deixam transparecer mudanças no comportamento que podem ser notadas. Alguns exemplos são: regressão em relação ao seu desenvolvimento, dificuldades escolares, dificuldade nas interações sociais, mudança nos hábitos alimentares, mudanças em relação ao sono, apresentação de comportamentos desafiadores, entre outros.

Para evitar que a saúde mental da criança seja afetada nesse período pandêmico, a psicóloga afirma que os pais e responsáveis podem implementar algumas práticas na rotina da família que visem a conexão com os filhos e a criação de um lugar seguro para a expressão das emoções. “Conversem com seus filhos, planejem atividades prazerosas juntos, façam reuniões de família para buscarem juntos soluções para problemas cotidianos que estejam enfrentando”, exemplifica Ana.

Já em relação ao desenvolvimento, a psicóloga diz ser necessário que os responsáveis ofereçam diferentes estímulos às suas crianças e adolescentes, e monitorem o tempo de acesso aos eletrônicos. Os estímulos podem ser oferecidos por meio da realização de diversas atividades manuais, jogos e brincadeiras.

E quando o perigo está em casa?

Para muitas crianças, a pandemia não só as trancou em casa, como também as prendeu com seus abusadores. A UNICEF afirma que “crianças em grupos populacionais vulneráveis - como aqueles que vivem e trabalham nas ruas, crianças com deficiência e crianças vivendo em situações de conflito - correm o risco de terem suas necessidades ligadas à saúde mental totalmente negligenciadas”.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pandemia de COVID-19 interrompeu serviços essenciais de saúde mental em 93% dos países em todo o mundo, o que prejudicou ainda mais o acesso de crianças e adolescentes a esse tipo de serviço.

"Os países devem investir dramaticamente na expansão de serviços de saúde mental e no apoio aos jovens e seus responsáveis em comunidades e escolas. Também precisamos de programas de paternidade ampliados, para garantir que as crianças de famílias vulneráveis obtenham o apoio e a proteção que precisam em casa", concluiu Herietta Fore, diretora executiva do UNICEF.
 

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