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23/03/2021 às 15h07min - Atualizada em 27/03/2021 às 14h25min

Os 55 anos da psicodelia de "Revolver"

Luize de Paula - editado por Luhê Ramos

No mesmo ano em que John Lennon declarou em uma entrevista a turbulenta frase que entrou para a história: “Mais populares que Jesus” se referindo à própria banda, os Beatles lançavam seu sétimo álbum, Revolver, que completa 55 anos em 5 de agosto de 2021. Com a icônica capa desenhada por Klaus Voormann, o disco conseguiu certificado de platina cinco vezes nos Estados Unidos e de ouro no Brasil, além de ser considerado o 3º maior álbum de todos os tempos pela revista Rolling Stone

 

Marcado pela sonoridade psicodélica, o disco foi mais uma evolução da banda - assim como seus antecessores - apresentando com naturalidade mais uma mudança e inovação não apenas para os Beatles, mas para o mundo da música. O álbum, como marca registrada do conjunto, mistura estilos, humores, ritmos e temas variados, sem ordem necessária para se ouvir o disco, o que dá liberdade ao ouvinte.

 

Apesar de não terem tocado nenhuma faixa do álbum em sua última turnê, o disco levou-os a uma nova era: a partir daquele momento, suas faixas eram criadas não para serem ouvidas por fãs histéricos e multidões correndo em frente aos palcos, mas sim para serem apreciadas pela “geração hippie”. Revolver consegue expressar os temas mais excêntricos com sons diversos, ao mesmo tempo que contém algumas das canções mais bonitas, icônicas e polêmicas já escritas pelo quarteto.

 

Antes mesmo do álbum ser lançado, o single Paperback Writer mostrou que as canções escritas por eles não eram mais apenas sobre amores e relacionamentos. Sendo bem ritmada e manifestando ainda o estilo clássico de rock dos Beatles - principalmente nas guitarras - a música alcançou o topo das paradas britânica e americana. Além disso, o videoclipe é um dos primeiros da história e consegue ser bem o estilo Beatles. Já no Lado B do single temos a música Rain. Melancólica, densa e com uma letra banal, é mais uma das músicas que preparou terreno para o lançamento do álbum.

Expressando desde a raiva de George Harrison com a situação dos impostos no Reino Unido com Taxman, até uma conversa de John Lennon e um amigo sobre a morte, inquietude e angústia - sob os efeitos de LSD - em She said She said, o primeiro lado do disco é uma completa mistura. A influência da música indiana marca presença no álbum. Com diversas canções utilizando o Sitar, guitarras reversas e ritmos antes pouco explorados no rock, o álbum é ainda mais recheado. Love You To, por exemplo, é uma das canções em que essa influência é mais marcante. 

 

É fato que o disco trouxe várias polêmicas sobre drogas e a influência na criação das canções e nos próprios músicos na época. Em I’m Only Sleeping, por exemplo, Lennon afirma que a canção é sobre dormir, enquanto as críticas diziam ser sobre drogas. Apesar disso, canções de amor ainda seguiam com a essência dos Beatles. Here, There and Everywhere de Paul McCartney conseguiu agradar até a criticidade de John, que ajudou em uma parte. Não escondendo o sentimentalismo e fugindo da psicodelia, as três estrofes iniciais trazem algo confortante ao iniciar cada uma respectivamente com Here, There e (I want her) Everywhere, apresentando uma estética sonora agradável.

 

ELEANOR RIGBY & YELLOW SUBMARINE
 

No primeiro lado ainda, se encontram as duas músicas do álbum que acabaram ficando mais conhecidas: Eleanor Rigby e Yellow Submarine. 
 

Eleanor na verdade nunca existiu. Paul apenas pensou nos dois principais versos da canção [Eleanor Rigby/Picks up the rice in the church where a wedding has been] e [Father McKenzie/Writing the words of a sermon that no one will hear sem motivo] de maneira improvisada. O nome surgiu da inspiração da atriz do filme Help! e o sobrenome de quando estava observando lojas de roupas e percebeu a sonoridade da junção dos dois. Pode ser o acompanhamento simples de um octeto de cordas ou a letra que mostra a história cruzada de duas pessoas solitárias ou até mesmo as dúvidas sobre os detalhes que cercam a história, não é possível definir o que cria a atmosfera única que só Eleanor Rigby consegue ter.

 

Yellow Submarine é uma canção chiclete. E não é à toa: a música foi feita para o filme de animação do mesmo nome. Com um refrão marcante e uma letra infantil, a música é leve e tem efeitos sonoros completamente diferentes do que já foi visto antes feito pelos Beatles. A música é sim um ponto fora da curva, mas é um ponto certeiro. Não é para ser levada a sério, nem para se procurar um grande significado nas letras, muito menos fala sobre drogas, ela é feita apenas para ser apreciada.

Já abrindo o Lado B, a alegre melodia de Good Day Sunshine nos trás uma música leve e positiva, também saindo da temática de drogas. Em contradição, For No One, Paul expressa tristeza e arrependimento com mais uma canção de amor. Antes negando ser sobre sua namorada da época, anos depois afirmou que escreveu no banho após uma briga. Também com uma letra coerente, George nos presenteou com mais uma de suas músicas: I Want To Tell You, sobre a avalanche de pensamentos que são difíceis de colocar no papel, trazendo influências da filosofia indiana e a crença do Karma.

 

Voltando aos versos psicodélicos, And Your Bird Can Sing e Tomorrow Never Knows aparecem neste lado do disco. Essa sendo a mais psicodélica, indiana e influente nos jovens da época, a música fala sobre a religião budista na Índia, abordando o transcendentalismo e a reencarnação, enquanto eles estavam sob efeito de LSD. Outra canção sobre drogas que aparece no álbum é Got To Get You In My Life, que Paul disse ter escrito o soul sobre maconha. Já indo para a primeira música que explicitamente fala sobre drogas, Dr. Robert fala sobre LSD e ironiza as críticas de as suas canções serem subliminarmente sobre drogas.

 

O álbum por si só é um prato completo. Assim como seus antecessores e sucessores, mostra a diversidade dos Beatles e a coragem que tinham de enfrentar as críticas e criar aquilo que queriam. E sabiam que conseguiam e conseguem até hoje agradar aqueles que ouvem o legado que foi criado por eles.

 
 

Ficha técnica

Tracklist:


Lado A 

1 - "Taxman" (George Harrison) (2:39)

2 - "Eleanor Rigby" (2:06)

3 - "I'm Only Sleeping" (3:00)

4 - "Love You To" (Harrison) (2:59)

5 - "Here, There and Everywhere" (2:25)

6 - "Yellow Submarine" (2:41)

7 - "She Said She Said" (2:37)

 

Lado B 

1 - "Good Day Sunshine" (2:08)

2 - "And Your Bird Can Sing" (2:00)

3 - "For No One" (2:00)

4 - "Doctor Robert" (2:14)

5 - "I Want to Tell You" (Harrison) (2:29)

6 - "Got to Get You into My Life" (2:29)

7 - "Tomorrow Never Knows" (2:57)

 

Gravadora: Parlophone

Produção: George Martin

Duração: 34min43

 

John Lennon: vocal, harmonia, vocais de apoio, violão, guitarra, órgão, Harmônio efeitos, tambourine, palmas e estalos

Paul McCartney: vocal, harmonia, vocais de apoio, baixo, violão, guitarra, piano, efeitos, Clavicórdio, palmas e estalos

George Harrison: vocal, harmonia, vocais de apoio, guitarra, baixo, sitar, tambura, maracas, tambourine, efeitos, palmas e estalos

Ringo Starr: bateria, tambourine, maracas, sino, efeitos, palmas e estralos e vocais em "Yellow Submarine"

 

Convidados:

Anil Bhagwat: tabla em "Love You To"

Alan Civil: trompa em "For No One"

George Martin: piano em "Good Day Sunshine" e "Tomorrow Never Knows", órgão em "Got to Get You into My Life" e efeitos em "Yellow Submarine"

Geoff Emerick: efeitos em "Yellow Submarine"

Mal Evans: bumbo e vocais de apoio em "Yellow Submarine"


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