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26/03/2021 às 08h28min - Atualizada em 26/03/2021 às 08h10min

“A menina e o pássaro encantado”

Livro infantil que trata de forma sensível o tema saudade

Ianna Oliveira Ardisson - Editado por Roanna Nunes
Fonte/Reprodução: Google
A saudade é um sentimento difícil de lidar. Queremos sempre por perto aqueles que amamos, entretanto, nem sempre isso é possível. As separações existem e nos afastam de pessoas que nos fazem tão bem, mas em alguns momentos precisamos aprender a conviver com a distância e a espera de um reencontro.
 
Rubem Alves no livro  “A menina e o pássaro encantado”  nos conta a história de uma menininha que se separou de seu amigo pássaro e sofria com a tristeza da separação. Ela ansiava pela volta do amigo e o esperava diariamente. Essa história com seus elementos encantadores traz um alento quando pensamos nas pessoas amadas das quais estamos distantes nesse momento difícil de pandemia que vivemos. Quando a presença física não é possível, as várias tecnologias nos aproximam e diminuem um pouco a dor da distância, todavia nada substitui um abraço caloroso e o reencontro presencial.

Logo na introdução, o autor nos alerta que a história é sobre a separação de duas pessoas que se amam e precisam dizer adeus em determinado momento. Ele completa que desse adeus surgirá um vazio imenso: saudade. “A menina e o pássaro encantado” é um livro de literatura infantil, logo, concluímos ser um livro para crianças. Rubem Alves destaca, ainda na introdução, que é um livro para crianças, “especialmente aquelas que moram dentro de nós, e têm medo da solidão...”     

Cláudia Parreira, professora de Literatura, assinala características da escrita do autor:
 
“Rubens Alves foi um professor da USP, psicanalista e grande escritor de literatura infantil e adulta. Sua escrita é leve e, aparentemente, descomprometida, entretanto, são de uma profundidade inigualável.”
 
A menina da história tinha um pássaro como seu melhor amigo. Ele voava e voltava para ela quando sentia saudades. Ele retornava repleto dos encantos dos lugares que visitava e contava histórias dos mais diversos ambientes visitados. Todavia, a hora triste sempre chegava: a hora da despedida. Então, o pássaro explica que o encanto dele dependia da saudade, se ele não partisse, não surgiria a saudade e ele perderia o encanto.

O amor que aprendemos a expressar com a aproximação ganhou nova forma de demonstração nesse tempo de pandemia e isolamento. O ato de não sair de casa para visitar os familiares se tornou uma prova de amor, já que dessa maneira preservamos a quem amamos. Para diminuir a saudade foi preciso nos “reinventarmos”,  e métodos de encontro à distância tornaram-se comuns.
 
Dentre as alternativas para encontrar com familiares e amigos estão as videochamadas, as quais passaram a fazer parte do dia a dia, principalmente dos idosos, como alternativa para rever uns aos outros e receber notícias. As comemorações de aniversários, dentre outras festividades, também passaram a ser realizadas com o auxílio de ferramentas tecnológicas capazes de reunir grupos de pessoas. Essas alternativas tornam a separação física um pouco menos sofrida e nos permitem, ainda que à distância, interagir socialmente.

A dor da separação nos afeta e às vezes podemos encontrar soluções que não são as mais acertadas a serem colocadas em prática. A menina da história de Rubem Alves certa noite teve uma ideia "malvada". Planejou comprar uma gaiola para prender o pássaro quando ele voltasse e assim não partisse mais.

Cláudia Parreira analisa o sentido dessa “ideia malvada” presente na narrativa:
 
“A ideia malvada diz respeito à nossa necessidade de não abrir mão e aprisionar o quê amamos. A relação entre amor e liberdade é recorrente em Rubem Alves, assim, tudo o que fuja a esse ideal é uma maldade.”
 

 
A menina se arrependeu de ter prendido o pássaro e o libertou. Grato ele disse: “Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro da gente. Sempre que você ficar com saudades eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudades, você ficará mais bonita”. A beleza e o encanto da saudade são destacados e nos levam a perceber que valorizamos cada vez mais as pessoas quando precisamos nos distanciar. O amor que sentimos fica mais evidente à medida que o tempo passa e a saudade aumenta. Mesmo sendo um sentimento difícil de lidar, a saudade nos leva a perceber características positivas em nós, como o amor que temos pelos outros que fica mais perceptível quando vivemos uma separação.   
 
Cláudia conta sua experiência na leitura da obra:
 
“A leitura desse livro se deu na minha vida adulta. Foi um contato libertador, pois, por meio da alegoria da obra, ficou claro para mim que ao aprisionar o pássaro a menina também estava aprisionada em sua insegurança e vigília, assim como eu me encontrava na época. Essa obra me trouxe clareza sobre afetos, sobre a necessidade de dar e de ter liberdade a fim de que os afetos fluam e de que possamos mostrar o quê de fato somos e, até mesmo, nossas asas coloridas.”
 
Rubem Alves não nega a tristeza que a saudade desperta em nós, entretanto ele foca na esperança do amanhã, do futuro, o qual permitirá a alegria do “reencontro”. “A menina e o pássaro encantado” é uma história que possibilita às crianças se sentirem acolhidas quando se sentem tristes, por estar com saudades de alguém que está distante.

A literatura tem esse poder de tocar de forma sensível nossas emoções e despertar um novo olhar sobre nós e sobre o mundo que nos rodeia. Ao ler essa história, com certeza, algo novo e encantador surgirá para encher de esperança cada coração que anseia por algum reencontro. Vale ressaltar o que o próprio autor assegura: é uma história também para a criança que vive dentro de cada um de nós. Então, não se prive dessa experiência de leitura mesmo já na vida adulta.
 

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