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26/03/2021 às 23h15min - Atualizada em 26/03/2021 às 20h58min

Conexões: clubes do livro online ajudam leitores de todo o Brasil a se unirem pela literatura

Ambientes ajudam na troca de experiência e no conhecimento de novos livros

Anna Sales - Editado por Andrieli Torres
Reunião do Clube Literário Wildflower. Foto: Cortesia

Há um ano, estávamos passando pelo início da pandemia da Covid-19 e, com o distanciamento social, tivemos que nos adaptar a um novo mundo. Quase tudo passou a ser online: aulas de escolas e faculdades, reuniões do trabalho e até mesmo festas de aniversário. Com os clubes do livro, não foi diferente: a pandemia exigiu adaptação. Clubes famosos, como o da Casa Mário de Andrade, o da Biblioteca de São Paulo e o Leia Mulheres, adaptaram-se ao novo formato. Com o confinamento, o número de leitores e de compras de livros aumentaram. A venda apresentou crescimentos de 25% em volume e 22% em valor dos livros vendidos, comparado ao mesmo período de 2019, segundo uma pesquisa do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e da Nielsen. 

 

Tendo que se adaptar ao novo momento, o Clube de Ficcionistas, que era realizado presencialmente na cidade de São Paulo, passou a ser online. Ele nasceu em 2019, do grupo de pessoas que participaram da Oficina de Romance do professor Assis Brasil, promovido pela Biblioteca Mário de Andrade (BMA), em São Paulo. Essas pessoas decidiram manter o contato e continuar estudando os temas propostos na ocasião.
 

O Clube de Ficcionistas é um clube de leitura e escrita. Isso significa que nos propomos a ler obras literárias com o objetivo de conhecer sua forma, sua estrutura: quem narra e como narra? Como são construídos os personagens, como se organiza o enredo? Que partes foram escolhidas para serem resumidas em sumários, e que partes foram desenvolvidas em cenas? Como foram construídos os diálogos, e, até antes disso, como é a dicção, a voz daqueles que falam, sejam personagens propriamente ditos ou narradores? Como a conclusão se concatena com o meio e o começo da narrativa, se é que se concatena! Como se passa o tempo, onde se dão os eventos? Nós não estamos muito interessados em classificar os livros em bons ou ruins, merecedores de uma ou cinco estrelas, embora, naturalmente, isso ocorra em algum momento. Também não nos interessa dar impressões muito particulares sobre o que foi lido. O importante é conhecer as técnicas usadas e em que medida elas podem ser apropriadas e usadas a nosso favor”, revela Renato Gontijo, um dos organizadores do clube. 

 

Para Renato Gontijo e Fernando Ferrone, que também é um dos organizadores, a ideia do online, que surgiu por necessidade, acabou agregando valores ao grupo, que pode contar com pessoas de fora de São Paulo. Para eles, isso facilitou também a vinda dos convidados às reuniões, que no começo de 2021, contou com a presença de Assis Brasil na reunião inaugural da turma.
 

“Temos participantes de muitos lugares diferentes e ainda estamos abertos a todos aqueles que queiram participar das discussões. Embora sejamos um clube “de escrita”, ninguém está obrigado a produzir obras escritas, mesmo que sejamos receptivos a elas. Em geral, os participantes já mantinham bons hábitos de leitura. Por outro lado, como o clube incentiva os participantes a apresentarem as obras e discutirem sua forma, sua estrutura, ela os incentivou a organizar melhor seus argumentos, suas críticas. Isso fez com que suas leituras fossem muito mais atentas”, revelam. 

 

Aproveitando o confinamento, a estudante Giovanna Ferraz, de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, voltou a consumir livros. Ela vinha de uma ‘ressaca literária’ (termo utilizado pelos leitores para quando uma pessoa não consegue terminar as leituras, mesmo tentando diversas vezes e/ou diversos livros), e na quarentena, conseguiu retomar o hábito da leitura e comprou e leu mais de quarenta livros. Empolgada, Giovanna criou um Instagram literário, onde conheceu pessoas do Brasil todo. Após alguns pedidos, ela decidiu montar o ‘Clube da leitura da Gio’, que começou em 2021, no formato online, e reúne diversas pessoas do Brasil inteiro. 

 

Do outro lado do país, em Manaus, Amazonas, o advogado Ayrton Hadad participa do clube de leitura da Gio. Ele já tinha participado de um clube em sua cidade, só que voltado aos clássicos da literatura. Agora, ele disse que se sente mais confortável participando do clube que une diferentes pessoas do Brasil.
 

“Tem sido uma experiência maravilhosa, pois participar de um clube de livro te possibilita sair da sua zona de conforto literária e explorar novos gêneros e autores, além de te possibilitar conhecer novas pessoas e receber outros pontos de vistas e interpretações do livro lido. Ele me faz parar de postergar a leitura de um livro que eu já desejava ler a muito tempo, que era Misery, de Stephen King. Porém eu sempre priorizava outros e acabava que ele voltava sempre para o final da fila. Eu sempre fui adepto a leitura, por causa dela eu escolhi a minha profissão, mas a vida antes da pandemia fazia eu ter menos tempo para me dedicar a ler. Com a quarentena, eu voltei a ler com calma e na mesma pegada de quando eu estava no ensino médio, e hoje acredito que estou no meu melhor ritmo literário dos últimos anos”, conta Ayrton. 

 

Em Salvador, Bahia, Fernanda Victoria também participa do clube da Gio. Ela revela que graças a isso, conseguiu melhorar o hábito da leitura, já leu 15 livros esse ano e ainda quebrou uma antiga resistência: “Não tinha hábito de ler livros de terror, mas a primeira leitura do clube foi Misery, de Stephen King, e amei. Até comecei a ler It também. Inclusive, amei o suspense que se instaurava no grupo ao decorrer da leitura”, relata Fernanda.

Giovanna diz que essa quebra da resistência com algum gênero literário é algo intencional: “Por meio do formulário de inscrição que os interessados enviam ao entrar no clube, eu escolho seis gêneros que a maioria diz não ter o costume de ler. Após uma votação no Telegram, escolho sete livros dentro do gênero de diversos autores e ocorre outra votação, definindo assim o livro do mês”, conta. 

 

27 de março de 2021. Essa era a data em que aconteceria o primeiro encontro presencial do Clube Wildflower, em Maceió, Alagoas. O clube, que tinha a temática floral e o nome colocado em referência a música da banda australiana Five Seconds of Summer, teria seu primeiro encontro no Parque do Horto, um espaço cercado por muito verde. Segundo as organizadoras, o intuito era oferecer uma experiência completa de leitura, com direito até de fotos dos encontros e lanches coletivos que estivessem relacionados ao livro. Mas com o agravamento da pandemia, o que antes seria híbrido, se tornou totalmente online. Porém, como o primeiro encontro já tinha sido realizado de forma online, as organizadoras Yasmin Caldas e Thalyta Vasconcelos sabiam que essa modalidade, por mais limitada que seja, daria certo e que teriam um momento lindo de troca de experiências com o livro do mês. 


O Clube Literário Wildflower foi criado por seis amigas e tem como objetivo ser um espaço leve de compartilhamento de leituras, não tendo nenhum estilo literário definido, buscando manter a espontaneidade na escolha das obras. Dentre elas está Maria Luíza Ávila, que também participa ativamente do clube. Apesar de ser leitora assídua, ela nunca tinha participado de um clube do livro.


“Eu acompanhava as chamadas Leituras Conjuntas que eram apresentadas por diferentes criadores de conteúdo, mas eram eventos bem esporádicos. E de certa forma, bem distantes por ter muita gente envolvida, então sempre me senti indisposta a participar com mais engajamento de um clube. O comprometimento da leitura no clube é algo bem novo pra mim, mas o ato de discutir e compartilhar experiências nem tanto. É muito legal ter o apoio de pessoas centradas com os mesmos objetivos que você! É uma experiência compartilhada ter esse espaço seguro para falar sobre os livros que a gente ama, e o peso da criação de conteúdo é dividido igualmente entre todas, então isso ajuda muito a não desmotivar! É bem mais fácil ter ideias de conteúdo porque é algo que a gente gosta muito de consumir o tipo de conteúdo que é produzido pelo Clube”, relata Maria Luíza. 

 

Segundo Yasmin e Thalyta, a intenção do Clube Wildflower é justamente ter um espaço mais leve de leituras. “O Clube foi criado após inúmeras conversas entre nós duas, que nos sentíamos frustradas por não encontrarmos um espaço mais flexível de compartilhamento de leituras e opiniões, sem tanta pressão e rigidez. A gente percebeu que poderíamos contar com muitas amigas para nos ajudar na organização e também para participar dos encontros, não precisando mais procurar por um Clube de Leitura que se encaixasse nas nossas expectativas e colocando em prática a criação do nosso clube. Acredito que os livros que serão debatidos no Clube são lidos com mais vontade! Quero pegar cada detalhe porque sei que dessa forma o debate será ainda mais legal. Mas, de certa forma, também conferiu as minhas outras leituras mais empolgação, me deixou mais consciente do que estou lendo pois sinto que posso ter em mãos um verdadeiro achado! E assim, posso sugeri-lo como o próximo livro do mês.Como o Clube tem essa pretensão de ler e discutir livros mais leves, foi uma ótima forma de me distrair durante esses meses em que tudo parece estar tão difícil e pesado. Além disso, é muito interessante a experiência de sempre ter pessoas lendo o mesmo que você e todos/as interessados/as em conversar sobre literatura e trocar experiências literárias. Isso é algo que, com certeza, faz com que a gente tenha uma maior motivação para ler e passe a ler mais”, contam Yasmin e Thalyta.

 

Assim como a maioria dos leitores, a literatura tem um papel fundamental na vida de Maria Luíza: “Esse é um assunto que me deixa maravilhada sempre que eu paro para pensar. A literatura foi o que abriu portas para absolutamente tudo que eu vivencio hoje. Foi através dos livros que eu conheci meus melhores amigos, vivi experiências incríveis que não teriam acontecido se não fosse por eles. Foi através dos livros que eu escolhi meu curso e conheci as pessoas que me ajudaram a formar a pessoa que eu sou hoje. As histórias que eu li foram extremamente importantes para me tirar de certas situações e entender melhor a pessoa que eu sou, e me orgulhar disso. Então pra mim, a literatura é absolutamente tudo que há de mais sagrado!”, finaliza. 

 

Como participar?

 

Clube de Ficcionistas: Basta enviar uma mensagem para [email protected] ou uma DM para o perfil @clubedeficcionistas do Instagram. Também é possível entrar no mailing de lembrete dos encontros (um aviso mensal) mandando mensagem para [email protected] ..

 

Clube Literário da Gio: Basta entrar em contato pelo Instagram @giovannaferrazc e preencher o formulário. São abertas apenas 5 vagas mensais. 

 

Clube Wildflower: Os/as interessados/as em participar dos encontros podem entrar em contato pelo Instagram (@clubewildflower) e serão adicionados ao grupo do Whatsapp, onde terão acesso aos links dos encontros.

 

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