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28/03/2021 às 15h50min - Atualizada em 28/03/2021 às 14h30min

Dismorfia do Instagram: os filtros da vida real

A adesão por filtros que modificam as características no rosto dos usuários aumenta a busca por intervenções estéticas

Maria Luísa Pimenta - Revisado por Mário Cypriano
Simulação de filtro no Instagram - Imagem: Divulgação / Tech Tudo
Desde que o Instagram apareceu em 2010, muitas atualizações e inovações surgiram na plataforma. Hoje, uma das ferramentas mais utilizadas dentro do aplicativo é o Instagram Stories, que permite a postagem de fotos ou vídeos de até um minuto que desaparecem após 24h. Em um Story é possível adicionar enquetes, gifs, caixas de perguntas e, principalmente, filtros. Esses filtros nada mais são que efeitos para modificar a realidade. Aqueles das orelhas de cachorrinho, do cachorro caramelo e que trazem jogos, divertindo quem posta e quem assiste.

Apesar de ter começado com esse intuito voltado ao entretenimento, alguns filtros passaram a alterar a fisionomia das pessoas: diminuindo a bochecha, tirando linhas de expressão, engrossando os lábios, ressaltando as maçãs do rosto, embranquecendo a pele e afinando a face. Por reforçar um padrão de beleza considerado ideal, muitas pessoas se tornaram reféns desses filtros e não conseguem mais postar um Story sem ele. Esse excesso altera a autoestima, levando à crença de que é preciso mudar suas características físicas para ficar igual suas versões “instagramadas”.

 
Comparação da modelo Mariana Goldfarb com e sem filtro - Foto: Reprodução / Instagram
 

Aumento na busca de procedimentos e cirurgias estéticas faciais


De acordo com o censo de 2016 da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a busca por procedimentos estéticos não cirúrgicos aumentou em 390%. Em 2018, a intervenção mais buscada foi a aplicação de botox, correspondendo a 95,7% dos tipos de procedimento. Logo atrás veio o preenchimento labial (89,6%) e o peeling (21,8%).
 
Dentre as cirurgias estéticas realizadas na face, a rinoplastia é a mais procurada. Em julho de 2020, sua busca no Google cresceu em 4800%. Além disso, um estudo realizado pela Academia Americana de Cirurgiões Plásticos, constatou que para 55% das pessoas que realizaram essa cirurgia em 2017, a motivação principal era o desejo de sair mais bonito nas selfies. Além da rinoplastia, o lifiting facial, a bichectomia e a lipoaspiração da papada estão sendo cada vez mais requisitados.
 
Atualmente, um dos procedimentos que mais tem chamado atenção é a harmonização facial. Ela é um conjunto de vários desses e outros procedimentos no rosto, que variam de acordo com cada paciente. O interesse cresceu justamente porque, ao combinar várias intervenções, o resultado final acaba sendo quase um filtro do Instagram na vida real.
 

Perigos do excesso de filtros


Em 2017, segundo estudo realizado pela agência We Are Social e pela plataforma Hootsuite, o Brasil ocupava a segunda posição dos países com maior número de usuários no Instagram - 57 milhões. Muitos deles passam horas vendo rostos “perfeitos” e banalizando-os como reais, quando na verdade, há uma série de filtros e intervenções estéticas. A harmonização facial e a rinoplastia, por exemplo, ganharam destaque justamente por conta do grande número de celebridades com muitos seguidores que os realizam.

A psicóloga Monik Pauli Augusto afirma que o excesso de filtros no Instagram provoca diversos problemas. “Pode causar ansiedade, depressão, fobia e distorção de imagem”, 
afirma. 
 
Ela ressalta a importância de pensar quando o filtro deixa de ser uma brincadeira e passa a ser uma regra. “Será que eu tiro alguma foto sem filtro? Será que eu apareço sem distorcer a minha imagem? É importante se questionar sobre isso. Se a gente não consegue fazer algum ato sem o filtro acaba ficando prejudicial”, comenta.
Para tentar evitar que essas questões acometam ainda mais os usuários, o Instagram decidiu, em outubro de 2019, derrubar efeitos de cirurgia plástica, além de parar de aprovar o lançamento de novos filtros desse estilo. Porém, filtros com alterações mais sutis na face continuam permitidos.
 

Filtro que simulava cirurgias plásticas e que foi banido do Instagram - Foto: Reprodução / Instagram
 

Dismorfia do Instagram

 
Um estudo sobre a exposição excessiva de filtros, publicado em 2019 pelo Journal of The American Society, mostra que houve um aumento, principalmente entre jovens, de um tipo de Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) chamado Dismorfia do Instagram ou Dismorfia do Snapchat. No TDC, a pessoa começa a ter uma preocupação obsessiva com o corpo ou com uma parte específica dele, voltando toda sua atenção a essa imperfeição – que muitas vezes só existe na cabeça dela. Quando há o excesso de exposição às redes sociais, muitos desenvolvem a fixação de ficar parecido com filtros e sair mais bonito em selfies no Instagram. Por isso, recebe esse nome.
 
Monik Augusto diz que a Dismorfia do Instagram é perigosa por desencadear muitos outros problemas. “Você idealiza um corpo que não é seu e acaba não o alcançando porque não dá para alcançá-lo. Então pode ter transtorno alimentar, depressão, ansiedade e uma fobia social por achar que não vai ser aceita pelas pessoas porque você não é aquele corpo idealizado”, destaca Monik.


Experiência de uma semana sem filtro

 
A criadora de conteúdo digital Bruna Marques, que fala sobre autocuidado em seu Instagram desde julho de 2020, percebeu que estava ficando insegura quando gravava um vídeo sem filtros. Então, decidiu passar uma semana sem esses recursos para ver como se sentiria. “Foi muito difícil e ao mesmo tempo muito bom. Eu ficava sempre pensando antes de postar que não ia ter coragem de clicar enviar, mas toda vez tinha. Então percebi que eu consigo sim ficar sem eles, basta querer”, conta a instagramer.
 

Bruna Marques em fotos sem e com filtro - Foto: Reprodução / Instagram

Bruna diz que o excesso de filtros pode fazer com que pessoas passem a se ver apenas com eles, piorando a autoestima e causando distorção de imagem. “Isso pode acabar fazendo com a gente não conseguir mais nos identificarmos com quem somos”, afirma Bruna.
 

Como diminuir o uso de filtros


Após passar por essa experiência, Bruna diz que a dica principal é evitar se comparar nas redes sociais. “Tudo é filtrado dentro do Instagram, então a gente fica se comparado com coisas irreais, que nunca vamos atingir porque elas não existem no fim. Ter consciência disso é o passo mais importante pra evitar essa distorção de imagem”, afirma.
 
Além disso, ela destaca que é preciso tentar pelo menos evitar filtros que distorcem sua feição: “Use os de cor, os que tem algo escrito etc, e deixe de lado aqueles que mudam a sua cara inteirinha e faz você não conseguir nem se reconhecer”.
 
Por fim, sua última dica é parar de seguir perfis que te fazem mal. “Não siga influenciadoras que só mostram uma vida perfeita e com filtros, ou pessoas que podem prejudicar a sua saúde mental de alguma forma. Siga pessoas reais, com corpos, peles, rostos reais. Isso vai te ajudar com a sua própria autoestima também”,
indica.
 

 
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