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27/05/2019 às 19h45min - Atualizada em 27/05/2019 às 19h45min

Cruzeiro é investigado pela Polícia após denúncias de irregularidades cometidas pela diretoria

Programa Fantástico, da Rede Globo, exibiu matéria sobre práticas de lavagem de dinheiro feitas pelo clube; presidente Wagner Pires critica rivais políticos e descarta irregularidades

Paulo Octávio - Editado por Amanda Cruz
Itair Machado, vice-presidente do Cruzeiro (camisa branca), durante coletiva. Foto: Frederico Ribeiro/Globo Esporte
A gestão do presidente do Cruzeiro, Wagner Pires de Sá, está sendo investigada pela Polícia Civil de Minas Gerais. O programa Fantástico, da Rede Globo, exibiu neste domingo (26) uma reportagem sobre as denúncias de lavagem de dinheiro, falsidade de documentos e falsidade ideológica. O clube vem acumulando dívidas e o montante subiu de 384 milhões para 520 milhões de reais no primeiro ano de gestão de Sá .   
 
O inquérito da polícia é baseado no balancete contábil analítico sobre os pagamentos que o Cruzeiro fez em 2018 e também no depoimento de 15 pessoas ligadas a diretoria e funcionários do clube mineiro. Já a repórter Gabriela Moreira, conseguiu contratos e planilhas que dão evidências de quebra de regras da Fifa e de normas do Governo Federal, por meio do programa de renegociação de dívidas fiscais com clubes.
 
Segundo a matéria, direitos econômicos de dez jogadores, incluindo de um garoto de 12 anos, foram usados para pagar uma dívida de dois milhões de reais com o empresário Cristiano Richard - ele não é habilitado pela CBF. Essa prática configura três irregularidades: 1) O repasse desses direitos a terceiros é atitude proibida pela entididade; 2) Negociar trabalho de menor de idade é crime previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e; 3) Empresário não pode ser dono de direitos de jogador, segundo a Fifa.
 

O vice-presidente, Itair Machado, desmentiu essa denúncia - ele foi citado na reportagem por ter aumentado seu próprio salário três vezes, mas afirmou que foi um "engano". Em entrevista coletiva feita nesta segunda-feira (27), disse que o antigo contrato com o empresário poderia gerar "dupla interpretação" e que a fonte, que cedeu documentação a reportagem, "não deu a outra parte da documentação" e que "não houve transferência de direito econômico". 

O principal é o seguinte: o que está nas redes sociais é que o Cruzeiro vendeu um monte de jogador por R$ 2 milhões. Não é verdade. O Cruzeiro fez um contrato de mútuo (empréstimo). O Cruzeiro pagou duas parcelas. Temos aqui os depósitos para comprovar. Depósito não tem como falsificar. Depositamos”, afirmou Machado. 

E acrescentou, que o garoto não foi usado pela negociação. “Pela idade [12 anos], ele pode ir para onde quiser. O Cruzeiro jamais venderia um jogador de 12 anos”. 

Outra irregularidade foi a documentação da transferência de Arrascaeta ao Flamengo. O valor consta nos registros de 2018, mas o jogador só saiu da equipe em janeiro de 2019. E ainda, o Cruzeiro pagou quase 370 mil reais para uma madeireira referente ao pagamento dos direitos de Vitinho, porém a empresa não estava registrada na CBF. "Não é problema do Cruzeiro se a empresa é na barraca de côco no Espírito Santo. O Cruzeiro fez pagamento, está na conta", declarou Machado sobre isso.
 
Rodrigo Capelo, j
ornalista  que participou das investigações, revelou que esses desvios ferem regras da Fifa e que o clube pode ser proibido de contratar jogadores.
“Quando o Cruzeiro cede percentual de jogador para terceiros ele fere o regulamento da Fifa. O que pode causar multa, advertência, proibição de transferência de jogador, proibição de registro de jogador“, disse o jornalista no programa Redação Sportv.
As denúncias repercutiram na segunda. A Justiça Desportiva também vai investigar o caso. “Vamos analisar sim e verificar se dentro das irregularidades apuradas existem violações ao CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva) e ao Código Disciplinar da FIFA", informou o procurador-geral do STJD, Felipe Bevilacqua. Porém, Bevilacqua não deu detalhes de quando começará as análises e quais punições o Cruzeiro poderá sofrer.
 
José Dalai, vice-presidente do Conselho do clube mineiro, afirmou que os diretores vão se reunir para decidir que atitude tomar em relação as denúncias. “O assunto é grave, lógico. Mas nós, do Conselho, resolvemos o seguinte: a gente vai se resguardar para tomar uma posição em conjunto."
 
Ele também comentou o repasse a diretor de organizada para divulgar a marca do clube na TV no Youtube - prática que não é proibida.  Dalai afirmou que esse é um “mal necessário que todo mundo faz”: De certa forma, você tem que ajudar a manter as torcidas. Elas têm um lado negativo, quando extrapolam para a violência, tem um lado criminoso, mas em 90%, elas dão força ao time”, afirmou em entrevista ao Globo Esporte. Itair disse que esse repasse faz parte de um projeto de divulgação de imagem do clube na plataforma. E que a verba foi destinada a pessoa física.
 
Nas redes sociais alguns torcedores criticaram a emissora Rede Globo pela exibição da reportagem, mas a maioria apoia as investigações e pedem seriedade da equipe.
 
Ainda na tarde de domingo (26), muito antes do começo do Fantástico, Sá publicou uma nota oficial. Sem citar nomes, ele criticou seus rivais derrotados da eleição passada. Wagner derrotou Sérgio Santos Rodrigues, que era apoiado por Zezé Perrela, ex-presidente do clube e atual presidente do Conselho Deliberativo. Já Rodrigues faz parte do Conselho Administrativo do Comitê Olímpico do Brasil e é conselheiro nato do Cruzeiro. 
“Adversários derrotados no pleito tem insistido nos bastidores, em tentar tumultuar o ambiente do Cruzeiro com o auxílio de um pequeno grupo, plantando notícias junto a profissionais da mídia nacional, que infelizmente tem acreditado em tais conteúdos”, disse Pires.
Wagner culpou um conselheiro, que segundo ele, teve acesso a documentos do clube. "Nós apuramos que um deles [não citou nome] teve acesso a documentos sigilosos e os divulgou de maneira proibida para o público externo”. Ele também descartou a possibilidade do Cruzeiro ser punido. “Não haverá, de forma alguma, nenhuma penalidade. Não foi praticado nenhum delito, não houve nada que possa prejudicar nossos contratos com a CBF, a Fifa. Já conversei com a CBF sobre essa situação, eles estão tranquilos”, afirmou na coletiva.

Nesta terça-feira (28), a CBF solicitou ao Cruzeiro informações sobre as denúncias. E os membros que ainda estavam na Comissão Fiscal pediram renúncia. Zezé Perella, presidente do Conselho Deliberativo, criticou atitude deles e disse que faltou coragem. "Se eles renunciaram, para mim faltou coragem deles. Eles tinham outro caminho. O Estatuto prevê que o Conselho Fiscal pode contratar uma auditoria. Eles deveriam ter contratado uma auditoria", disse. Ainda na entrevista para o Superesportes revelou que abrirá sindicância para investigar as denúncias.

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