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31/03/2021 às 20h39min - Atualizada em 31/03/2021 às 18h39min

Tecnologia fotovoltaica possibilita acesso à energia às comunidades ribeirinhas da Amazônia

Distantes dos grandes centros, comunidades ribeirinhas do Amazonas têm dificuldade de acesso a serviços como energia elétrica e abastecimento de água

Augusto Gomes - Editado por Manoel Paulo
ABSOLAR | Instituto Mamirauá
Freepik
Com a ajuda da ciência, a luz do sol pode ajudar no dia a dia de comunidades ribeirinhas da Amazônia. Foi na década de 1970 com a crise do petróleo que o sistema fotovoltaico começou a ser implantado em diversas partes do mundo.

Uma palestra intitulada “A experiência do GEDAE com aplicações da energia solar fotovoltaica: Atividades atuais e perspectivas futuras”, que ocorreu no dia 20 de fevereiro de 2020, na sede do Instituto Mamirauá, localizada em Tefé, estado do Amazonas, abordou o tema a pesquisadores, técnicos e colaboradores da instituição de pesquisa e o público em geral.

Wilson Negrão Macêdo, pesquisador do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará e pesquisador associado ao Grupo de Pesquisa em Inovação, Desenvolvimento e Adaptação de Tecnologias Sustentáveis (GPIDATS) do Instituto Mamirauá, palestrou sobre a tecnologia fotovoltaica. O pesquisador desenvolve pesquisa na área de energia solar fotovoltaica e sistemas híbridos, no Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas da Universidade Federal do Pará (GEDAE/UFPA), onde coordena o Laboratório de Sistemas Fotovoltaicos.

O especialista destacou experiências com a tecnologia ao longo dos 25 anos de existência do GEDAE e o fortalecimento da cooperação entre a UFPA e o Instituto Mamirauá para desenvolver atividades de pesquisas em áreas isoladas da Amazônia, além de sugerir a promoção de mais debates sobre a implementação da energia solar em comunidades ribeirinhas dessa região.

Pela proximidade com a Linha do Equador, a Amazônia apresenta um grande potencial na geração de energia solar e a captação traz grandes benefícios a comunidades mais distantes dos centros urbanos. A energia solar fotovoltaica é uma tecnologia que permite geração de renda e o direito a energia limpa e de qualidade.

 “Mesmo os sistemas isolados comparados com outras fontes de energia semelhantes como o óleo diesel, eles também são economicamente viáveis, principalmente, quando você envolve uma atividade produtiva”, afirma Wilson Negrão Macêdo, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Sistemas isolados

Existem dois tipos de sistemas fotovoltaicos: os conectados à rede (chamados on-grid ou grid-tie) e os isolados da rede ou autônomos (off-grid). Com custos mais elevados que os sistemas on-grid, os sistemas isolados são caracterizados por não serem conectados à rede elétrica, ou seja, o sistema se auto sustenta através da utilização de baterias.

O sistema off-grid é utilizado, principalmente, para locais específicos, como, por exemplo, bombeamento de água, eletrificação de cercas, de postes de luz dentre outros locais. Durante o dia, em momentos em que a produção de energia supera o consumo, este excesso é enviado ao banco de baterias para que, à noite, quando o consumo é maior que a produção, essa energia possa ser utilizada para abastecer a rede ligada ao sistema. Algumas das vantagens desse tipo de sistema são a redução do consumo de combustíveis fósseis e o aumento da disponibilidade de energia.

A instalação dos sistemas seguiu as diretrizes da Resolução Aneel nº 83 de 2004 - Sistema Individual de Geração com Fontes Intermitentes (SIGFIs). Em agosto de 2005, foram instalados 19 sistemas, nas comunidades São Francisco do Aiucá e São Paulo do Coraci, localizadas nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, abrangendo os municípios de Uarini, Fonte Boa e Maraã (AM), e posteriormente, em maio de 2007, foram implantados mais quatro sistemas, totalizando 23 sistemas instalados.

O objetivo é oferecer atendimento elétrico com sistemas fotovoltaicos aos domicílios de comunidades isoladas da Amazônia, além implantar um padrão de qualidade de atendimento, disponibilidade de 15 kWh/mês por domicílio, e um modelo de gestão, operação e manutenção. E, principalmente, dar subsídios aos programas de eletrificação de comunidades isoladas.

Famílias ribeirinhas da Amazônia beneficiadas com o sistema

Muitos moradores de comunidades ribeirinhas do Amazonas, distantes da zona urbana, lidam com a dificuldade de acesso a serviços como energia elétrica e abastecimento domiciliar de água. Buscar água no rio para as atividades domésticas e para consumo e a falta de energia elétrica ainda fazem parte da rotina de parte desta população.

Um estudo do Instituto Mamirauá avaliou a percepção dos usuários do Sistema de Bombeamento e Abastecimento de Água e do Sistema de Energia Domiciliar, ambos movido a energia solar fotovoltaica, implementados há mais de 10 anos pelo instituto como tecnologias experimentais que pudessem servir de referência ao poder público para o fornecimento de água e energia para esta população.

Foram entrevistados 47 usuários das tecnologias das comunidades São Francisco do Aiucá e São Paulo do Coraci, localizadas nas reservas de desenvolvimento sustentável Mamirauá e Amanã, abrange os municípios de Uarini, Fonte Boa e Maraã (AM).

“Essas comunidades estão inseridas em duas unidades de conservação que têm suas regras de uso, uma legislação que ampara todo este território. São territórios de conservação, onde há a atuação de diversos agentes nessas áreas”, comentou Ana Claudeíse Nascimento, socióloga e pesquisadora do Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações(MCTI).

A força da energia solar em tempos de pandemia

Neste cenário global de crise sanitária, causada pela pandemia de Covid-19, alguns setores da economia tiveram que se adaptar ao novo contexto e mostrar a sua força e o seu potencial de desenvolvimento acelerado de transformação. É o caso da energia solar fotovoltaica, fonte limpa, renovável e competitiva que tem sido elencada dentre as principais apostas de governantes, entidades e empresas para a retomada do crescimento econômico no pós-pandemia.

O levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), assegura que o Brasil acaba de ultrapassar a marca histórica de 6 gigawatts (GW) de potência operacional da fonte solar fotovoltaica em usinas de grande porte e pequenos e médios sistemas instalados em telhados, fachadas e terrenos. Desde 2012, a fonte já trouxe R$ 31 bilhões em novos investimentos privados ao País, tendo gerado mais de 180 mil empregos acumulados. Nos primeiros seis meses de 2020, a solar fotovoltaica foi responsável pela geração aos brasileiros de mais de 41 mil empregos, mesmo com a queda da atividade econômica decorrente da pandemia do novo coronavírus.

Em um cenário de janeiro a junho do ano passado, o setor adicionou 1381 megawatts (MW) em capacidade instalada. Isso significa que houve um crescimento de 30,6% frente ao consolidado até o final de 2019. Em seis meses, foram atraídos novos investimentos privados ao Brasil de R$ 6,5 bilhões. Os empreendimentos fotovoltaicos operacionais proporcionaram uma arrecadação agregada de R$ 2,5 bilhões em tributos aos cofres públicos em 2020.

Dados da ABSOLAR apontam que o Brasil avançou 5 posições do final de 2018 até o final de 2019, atingindo um total acumulado de 4.533 MW no período. Somente em 2019, foram adicionados 2.120 megawatts (MW), impulsionados pelo avanço da geração distribuída, que instalou 1.470 MW, e seguidos de 650 MW de geração centralizada.

O Brasil encerrou 2019 com R$ 24,1 bilhões em investimentos privados acumulados na fonte solar fotovoltaica, tendo gerado mais de 134 mil empregos acumulados desde 2012. Neste mesmo ano, o setor trouxe ao Brasil R$ 10,7 bilhões em novos investimentos e mais de 63 mil empregos.

Em menos de 10 anos, a fonte solar fotovoltaica se tornou a renovável mais competitiva do País, um feito histórico no setor elétrico brasileiro, e passou a representar uma forte locomotiva para o desenvolvimento sustentável, com geração de emprego e renda, atração de investimentos, diversificação da matriz elétrica e benefícios sistêmicos para todos os consumidores.

O GEDAE 

O Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas (GEDAE) é vinculado ao Instituto de Tecnologia (ITEC) e à Faculdade de Engenharias Elétrica e Biomédica (FEEB), da Universidade Federal do Pará (UFPA). O GEDAE foi fundado em primeiro de novembro de 1994 pelo Prof. Dr.–Ing. João Tavares Pinho e por ele coordenado até maio de 2018, quando se aposentou oficialmente e passou a coordenação para o seu vice coordenador, Prof. Dr. Edinaldo José da Silva Pereira.

As principais finalidades do grupo são: desenvolvimento de tecnologias de baixo custo para atendimento de energia elétrica a pequenas e médias cargas com o uso de energias renováveis; o levantamento de demandas e potenciais energéticos; o desenvolvimento de pesquisa sobre eficiência energética e uso racional, conservação e qualidade de energia; a avaliação e etiquetagem do nível de eficiência energética em edificações; a disseminação do conhecimento por meio dos cursos de graduação e pós-graduação, palestras e seminários sobre fontes renováveis de energia e suas aplicações, e a prestação de serviços na forma de consultoria e cursos à comunidade em geral.
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