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20/04/2021 às 18h34min - Atualizada em 20/04/2021 às 18h29min

Entenda tudo sobre a Superliga Europeia, aliança de gigantes europeus que causou polêmica no mundo do futebol

Os 12 maiores clubes europeus divulgaram oficialmente a ideia de criar um novo campeonato continental

Cristian Moraes Rocha - editado por Anna Voloch
Os doze clubes fundadores da Superliga. (Foto: Reprodução/Infoesporte)

O mundo do futebol foi pego de surpresa no último domingo (18), quando os dozes maiores clubes europeus anunciaram que estavam dando entrada na criação de uma nova competição, a SuperligaArsenal, Atlético de Madrid, Barcelona, Chelsea, Inter de Milão, Juventus, Liverpool, Milan, Manchester City e United, Real Madrid e Tottenham, seriam as equipes fundadoras do torneio. Mais três participantes seriam aguardados para a temporada inaugural. 

O presidente da competição é Florentino Pérez, atual mandatário do Real Madrid. Em nota, a Superliga disse ter a intenção de manter relações com a UEFA e a FIFA, “buscando soluções favoráveis para a Superliga e o conjunto do futebol mundial”, por mais que a já exista divergências entre ambas entidades. Clubes como Bayern de Munique, Borussia Dortmund, Paris Saint-Germain e Porto se recusaram a participar da competição.

FORMATO

  • 20 clubes, sendo 15 deles fundadores e os outros cinco entrariam por uma classificação com base no rendimento da temporada anterior;
  • Os jogos seriam realizados no meio de semana, sem atrapalhar a participação dos clubes nas ligas nacionais;
  • Dois grupos com 10 times, iniciando em agosto com jogos no sistema ida e volta e com os três primeiros de cada grupo garantindo vaga na próxima fase. Os quartos e quintos colocados disputariam um playoff de ida e volta pelas vagas restantes;
  • A final seria em jogo único, sendo em local neutro; 
  • Sem rebaixamento. 
 
Uma liga feminina seria lançada mais para frente. Como vantagens, ainda de acordo com o comunicado oficial emitido, o novo torneio:
 
Proporcionará um crescimento econômico significante maior e apoio ao futebol europeu por meio de um compromisso de longo prazo com pagamentos de solidariedade ilimitados que crescerão de acordo com as receitas da Superliga. Estes pagamentos de solidariedade serão substancialmente mais elevados do que os gerados pela atual competição europeia (a Liga dos Campeões), e deverão ser superiores a 10 bilhões de euros durante o período de compromisso inicial dos clubes. 


Outro ponto positivo seria a construção de uma base financeira sustentável para os clubes fundadores, que receberiam três bilhões e meio de euros, exclusivamente, para apoiar seus planos de investimento em infraestrutura e para compensar o impacto da pandemia da Covid-19. Caso seja confirmado, os valores são superiores à quantidade paga aos clubes pela UEFA em todas as competições (Liga dos Campeões, Liga Europa e Supercopa Europeia), que em 2019 geraram três bilhões de euros em direitos de transmissão. 

Andrea Agnelli, vice-presidente da Superliga e atual líder administrativo da Juventus, reforçou o grande poder de influência que os clubes fundadores possuem dentro do velho continente: 

 

Nossos 12 clubes fundadores representam bilhões de fãs em todo o mundo e 99 troféus europeus. Nós nos reunimos nesse momento crítico permitindo que a competição europeia se transformasse, colocando o jogo que amamos numa base sustentável para o futuro a longo prazo, aumentando substancialmente a solidariedade e dando aos torcedores e jogadores amadores um fluxo regular de jogos de destaque que irão alimentar a sua paixão pelo jogo e, ao mesmo tempo, fornece a eles um modelo atraente - disse o italiano, juntamente com Joel Glazer, membro da família que é dona do Manchester United. 


O banco JP Morgan seria parceiro dos clubes, emprestando em um primeiro momento a quantia de quatro bilhões de euros.  

UEFA E FIFA SE OPÕEM À CRIAÇÃO DA SUPERLIGA

A maior entidade do futebol da Europa, a UEFA, ameaçou punir rigorosamente os clubes envolvidos, e também proibir os jogadores de disputarem competições oficiais pelas suas seleções. "Todos os clubes e jogadores que participarem da Superliga podem ser banidos de todas as competições da UEFA e FIFA, europeias ou internacionais", disse a entidade. 

A organização tem apoio das cinco principais ligas nacionais: Premier League (Inglaterra), Bundesliga (Alemanha), Série A (Itália), La Liga (Espanha) e Ligue 1 (França). A posição adotada pela FIFA também foi de objeção: "A FIFA quer esclarecer que está firmemente posicionada em favor da solidariedade no futebol e de um modelo de redistribuição justo. A FIFA sempre defende a unidade no futebol mundial e apela a todas as partes envolvidas nas discussões acaloradas a se engajarem em um diálogo calmo, construtivo e equilibrado para o bem deste jogo", informou a entidade em comunicado oficial. 

A medida de excluir das competições internacionais teria consequências grandes, por conta do elevado número de jogadores estrangeiros que atuam nos clubes envolvidos e que seriam proibidos de atuar por suas seleções nacionais. Uma briga jurídica entre clubes e federações não foi descartada. 

Para Jesper Moller, membro do Comitê Executivo da UEFA, Real Madrid, Manchester City e Chelsea deveriam ser excluídos da atual edição da Liga dos Campeões, uma vez que os clubes estão nas semifinais do torneio. “Os clubes devem sair (da Champions), e espero que isso aconteça na sexta-feira (em reunião do Comitê Executivo da UEFA). E aí teremos que encontrar um jeito de encerrar a Champions (dessa temporada)”, afirmou Moller, segundo informou no Twitter o jornalista Simon Evans, da agência de notícias Reuters

Se a iniciativa proposta por Moller for adotada, uma das opções seria promover os times eliminados nas quartas de final: Borussia Dortmund, eliminado pelo City; Porto, que perdeu para o Chelsea; e Liverpool, que caiu para o Real. Só que os Reds também fazem parte da Superliga, e isso poderia abrir vaga para o Bayern de Munique, eliminado pelo PSG, que já se manifestou contrário a participar da liga alternativa.

O FIFPro, sindicato mundial de jogadores de futebol profissionais, emitiu uma nota oficial fazendo sérias críticas à criação do novo torneio, mostrando preocupação com o impacto em toda a estrutura do esporte, incluindo a carreira dos jogadores. Em nota, a instituição se opôs 
veementemente às medidas que podem impedir os direitos dos atletas, como a exclusão de suas seleções. 

Se o cenário para a criação da Superliga já era complicado, tornou-se mais difícil após a recente entrevista de Florentino Pérez a uma emissora de TV espanhola, nessa última segunda-feira (19). Segundo o dirigente, os jovens da atualidade não se interessam por futebol, devido à baixa qualidade técnica de algumas partidas. 

Os jovens já não têm interesse por futebol. Por que não? Porque existem muitos jogos de baixa qualidade e não lhes interessa, têm outras plataformas para se distraírem. O futebol tem que evoluir, como empresas, pessoas, mentalidades. As redes mudaram a forma como se comportam e o futebol tem que mudar e se adaptar aos tempos em que vivemos. O futebol estava perdendo o interesse, o público está diminuindo - disse o presidente do Real Madrid. 


Na visão do líder esportivo, a Superliga surge como uma salvação para o futebol europeu. “Sempre que há uma mudança, há gente que se opõe. O que tem de atrativo? Que joguemos entre os grandes, a competitividade se gera mais recursos. Os ricos? Eu não sou dono do Real Madrid, somos um clube de futebol e fazemos isso para salvar o futebol em um momento crítico”, completou o espanhol. 

JOGADORES E TREINADORES CRITICAM CLUBES ENVOLVIDOS

Ander Herrera (PSG), Richarlison (Everton), e Podolski (Antalyaspor), são alguns dos jogadores que criticaram publicamente a criação da Superliga. O primeiro postou um texto em suas redes sociais, no qual fala sobre um “roubo” do esporte por parte dos ricos: “Amo o futebol e não posso ficar calado diante disso. Acredito em uma Champions melhorada, mas não que os ricos roubem o que o povo criou, que não é outra coisa além do esporte mais bonito do planeta”. 

O alemão Mesut Ozil também se pronunciou sobre o assunto. “As crianças crescem sonhando em ganhar a Copa do Mundo e a Liga dos Campeões - não uma Superliga. O prazer dos grandes jogos é que eles acontecem apenas uma ou duas vezes por ano, não todas as semanas. Realmente difícil de entender para todos os fãs de futebol”. Os alemães Hansi Flick e Jurgen Klopp, respectivamente treinadores do Bayern de Munique e do Liverpool, não concordaram com a ideia do novo campeonato. 

O ex-jogador do Manchester United e comentarista da Sky Sports, Gary Neville, definiu a Superliga como “crime” e disse estar enojado com os clubes envolvidos:

 

Estou com nojo principalmente do Manchester United e Liverpool. No Liverpool, eles dizem que “você nunca andará sozinho”, as pessoas do clube, os torcedores. Manchester United, 100 anos. É pura ganância. Eles são impostores, eles não têm nada a ver. Os donos deste clube (Manchester United), os donos do Liverpool, os donos do Chelsea, os donos do Manchester City não têm nada a ver com o futebol neste país. Existem 100 anos de história neste país, de torcedores que viveram e amaram esses clubes. E eles precisam ser protegidos - disse Neville.


Ele seguiu pedindo punições severas aos clubes e que os pontos fossem retirados, além de serem colocados na parte de baixo da liga e que perdessem dinheiro. "É um crime. É um ato criminoso contra os fãs de futebol neste país. Este é o maior esporte do mundo, o maior esporte deste país, é um ato criminoso contra os torcedores. Simples assim”, completou o comentarista. 



TORCIDAS PROTESTAM

Torcedores do Liverpool, Manchester United, City e Chelsea foram protestar na frente dos estádios. Foram penduradas faixas contra a criação da competição e o envolvimento de seus clubes. Em Anfield, casa do Liverpool, as faixas diziam: “Torcedores do Liverpool contra a Superliga Europeia” e “Envergonhe-se. Descanse em paz, Liverpool: 1892-2021". Foram vistos também cartazes que ironizavam o “big six” da Inglaterra, seis sinônimos para dinheiro estavam escritos configurando “The Big $ix”. 



Segundo a imprensa inglesa, os Blues estariam adiantando a papelada para sair da Superliga, assim como os Citizens. Ambos não se manifestaram oficialmente. 

CLUBES ENVIAM CARTA À FIFA E UEFA

Uma carta foi enviada para as entidades com o intuito de evitar que os clubes e jogadores sofram punições por conta da Superliga. De acordo com o texto, a ideia do torneio não é substituir a Liga dos Campeões ou a Liga Europa, mas competir e coexistir com ambas competições. Porém, os clubes envolvidos deixariam de participar para valorizar a nova disputa. 

Os clubes fundadores do novo torneio também deixaram a Associação Europeia de Clubes (ECA). Inter de Milão, Milan e Juventus confirmaram a saída nesta segunda-feira, assim como Manchester United e Chelsea. 

Confira trechos da carta abaixo: 

Estamos preocupados que a FIFA e a UEFA possam responder a esta carta-convite buscando tomar medidas punitivas para excluir qualquer clube ou jogador participante de suas respectivas competições. Sua declaração formal, no entanto, nos obriga a tomar medidas de proteção para nos proteger contra tal reação adversa, o que não só colocaria em risco o compromisso de financiamento sob a doação, mas, significativamente, seria ilegal. Por este motivo, a SLCo (Super League Company) entrou com uma moção perante os tribunais competentes, a fim de garantir o estabelecimento e a operação perfeita da competição de acordo com as leis aplicáveis.  

É nosso dever, como conselheiros da SLCo, garantir que todas as ações razoáveis disponíveis para proteger os interesses da competição e de nossos stakeholders sejam devidamente tomadas, dados os danos irreparáveis que seriam sofridos se, por qualquer motivo, fôssemos privados da oportunidade de formar prontamente a competição e distribuir os rendimentos da Concessão. 


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