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13/05/2021 às 15h37min - Atualizada em 14/05/2021 às 20h46min

Pandemia agrava os problemas de saúde mental entre os estudantes

Irritabilidade, mudanças repentinas de humor e alterações no sono e no apetite são alguns sinais que fazem parte da rotina dos estudantes brasileiros em tempos de coronavírus.

Bianca Neves - Revisado por Mario Cypriano
Estudante isolada durante a pandemia - Imagem: Freepik

Com as escolas fechadas há mais de um ano, o ensino remoto tornou-se uma realidade na vida de milhões de estudantes pelo país. Muitas foram as estratégias adotadas pelo sistema de ensino brasileiro para manter o cronograma escolar e não atrasar o aprendizado dos alunos. No entanto, uma questão deve ser levantada no meio de todo esse contexto: como anda a saúde mental desses estudantes?

No cenário atual, a forma de viver e  se conectar com o mundo mudou drasticamente. A rotina, a qualidade do sono, a forma de consumo, as atividades, a convivência, a alimentação e, principalmente a saúde mental, foram abaladas. Conforme pesquisa realizada pelo Tracking The Coronavirus, uma iniciativa que busca rastrear o contágio e o impacto do vírus pelo mundo, o Brasil é líder em ansiedade e má alimentação por conta da Covid-19. No entanto, o cenário no país já era preocupante antes da chegada da pandemia. 

De acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), 9,3% da população possui ansiedade, sendo a doença de maior prevalência no país. A OMS também aponta que o Brasil é o país com o  segundo maior número de pessoas com depressão na América Latina, chegando a 5,8%, ficando atrás somente dos Estados Unidos, com 5,9%. Quando falamos especificamente dos jovens, a Organização Pan-Americana de Saúde demonstra que as condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões entre as idades de 10 e 19 anos.

Estudos ainda apontam que crianças e adolescentes que ficam fora das salas de aula por um longo período não perdem apenas o conhecimento que já foi adquirido, mas também o que aprenderam recentemente.
 

A educação e a saúde mental da filha de 7 anos foi um dos maiores desafios relatados por Ana Flávia, que hoje é empreendedora em uma loja de utilidades, além de cuidar sozinha da criança. Ana conta que teve de se reinventar e trabalhar para sustentar a casa, tornando-se também a professora da própria filha, que teve as consultas para o tratamento da ansiedade canceladas. 

Em nove meses após o início da pandemia, a pesquisa Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes, publicada pela UNICEF, alertava que a situação de crianças e adolescentes no país havia se agravado, particularmente, entre as famílias mais pobres. A segunda rodada do estudo, divulgada em dezembro de 2020, demonstrou que 54% dos entrevistados mencionaram que algum adolescente com quem moram apresentou algum sintoma relacionado a transtornos mentais. 

Alguns desses sintomas foram: 
preocupações exageradas com o futuro, alterações no sono como insônia ou excesso de sono, mudanças repentinas de humor e irritabilidade, diminuição do interesse em atividades rotineiras, alterações no apetite como fome descontrolada ou falta de apetite, sinais ou sintomas de ansiedade como mãos frias, dormência nas extremidades ou outros, agitação, tristeza ou choro fácil e sem motivo, ideias ou pensamentos relacionados a própria morte ou a de pessoas queridas, dificuldades para se controlar em situações de rotina. Fernanda Mussel, mãe do Miguel de 7 anos, diz que notou no filho "ansiedade, irritabilidade e medo". 

Estudante irritado com os estudos - Imagem: Freepik


Com o início do ano letivo de 2021, o preparo para o retorno das aulas presenciais se revelou algo frustrante. Os estudantes voltaram a criar expectativas de reencontrar amigos e professores, mas a nova onda de contaminação pela Covid-19 obrigou escolas a fecharem as portas novamente e a continuarem no ensino remoto, levando, crianças e adolescentes a sofrerem uma nova desilusão. 
 

“Foi bem estressante, porque eu pensei que estava tudo voltando ao normal, eu encontrei os "moleque" e daí estava “felizão”, mas fui dois dias, e tive que ficar em casa de novo", relatou Giovani Melo, estudante de Maringa-PR, do colégio particular Cristão Integrado de Maringá (CCIM). 

A promoção da saúde mental dos estudantes se torna um assunto de urgência. A Organização Pan-Americana de Saúde sugere algumas formas de prevenção e incentivo da saúde mental nas instituições de ensino, como: mudanças organizacionais para um ambiente psicológico seguro e positivo, ensino sobre saúde mental e habilidades para a vida, treinamento de pessoal para a detecção e manejo básico do risco de suicídio, e programas escolares de prevenção para adolescentes vulneráveis a condições de saúde mental. 

No entanto, não são todas as escolas e estudantes que contam com profissionais especializados, como é o caso de Rafaela Menezes (SP) e Luis Gabriel Arruda (AM), ambos estudantes de escola pública.

 

"[a escola] não oferece nenhum tipo de profissional para a nossa saúde mental. Atualmente [a saúde mental] está bem lá embaixo, mas tento me motivar cada dia no possível", comenta Rafaela. Luis Gabriel complementa: "sinto muita falta deles [dos amigos] mesmo ainda tendo contato com eles pelo celular, [a comunicação] não é muito boa".

Com esse possível retorno às salas de aulas a qualquer momento depois de um ano de isolamento, Luan Carlos Pereira (AM) conta que, na primeira vez em que retornou, "voltei somente por dois dias então não pude acompanhar muito, mas nesses dois dias confesso que fiquei bastante inseguro...com medo de contrair o Covid-19. No horário da merenda escolar, alguns alunos acabavam não respeitando às normas de segurança contra a Covid".

Combater a Covid-19 é tão essencial quanto manter crianças e adolescentes saudáveis física e mentalmente. No site da Organização Pan-Americana de Saúde, podemos encontrar algumas sugestões de formas de prevenção e promoção da saúde dos jovens no dia a dia: 

 

  • Intervenções psicológicas individuais online, em grupo ou autoguiadas;
     
  • Intervenções focadas na família, como treinamento de habilidades do cuidador, incluindo intervenções que abordam as necessidades dos cuidadores;
     
  • Intervenções baseadas na comunidade, como liderança de pares ou programas de orientação;
     
  • Programas de prevenção dirigidos a adolescentes em situação de vulnerabilidade, como aqueles afetados por ambientes humanitários frágeis e grupos minoritários ou discriminados;
     
  • Programas para prevenir e administrar os efeitos da violência sexual em adolescentes;
     
  • Programas multissetoriais de prevenção ao suicídio;
     
  • Intervenções multiníveis para prevenir o abuso de álcool e substâncias;
     
  • Educação sexual integral para ajudar a prevenir comportamentos sexuais de risco; e programas de prevenção à saúde.

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