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24/04/2021 às 20h30min - Atualizada em 24/04/2021 às 20h27min

Lygia Fagundes Telles completa 98 anos de idade

Considerada a "maior escritora brasileira viva"

Lívia Oliveira - Editado por Gustavo Henrique Araújo
Revista Macondo
Foto: Lygia Fagundes Telles | Reprodução: Google
"O escritor escreve tentando recompor, quem sabe, o paraíso perdido. Nesse paraíso perdido, está a infância", certa vez havia dito Lygia Fagundes Telles.
 
Agora a escritora paulista conquista mais uma nova fase ao completar 98 anos de idade, neste 19 de abril. Pensar em Lygia é pensar na "maior escritora brasileira viva" — título esse muito bem merecido, visto que suas obras são de extrema riqueza e importância para literatura brasileira e, sobretudo, para a língua portuguesa. 
 
Lygia tem tem aquela sensibilidade artística, porém é forte e firme. Ainda apegada, de certa forma, às suas memórias de infância, de quando ficava deitada, parada, olhando as nuvens e tentando advinhar as figuras que formavam. Ou então, até, escutar sua mãe tocar o piano, uma das coisas que mais gostava na infância. 
 
Dias após a fundação da célebre produtora estadunidense Warner Bros, nascia, em São Paulo, Lygia Fagundes Telles, que futuramente conquistaria gerações com sua prosa intimista. Desde garota interessou-se por literatura e, aos 15, publicou um livro de contos chamado "Porão e Sobrado". E, enquanto ainda cursava direito, colaborava com os jornais "Arcádia" e "A Balança" e costumava frequentar encontros literários com Mário e Oswald de Andrade. 
 
Escritora e mulher, qualidades essas que, para a própria Lygia (dito em "Durante aquele estranho chá"), são "ofício e condição humana duplamente difíceis de contornar, principalmente quando me lembro como o país (a mentalidade) interferiu negativamente no meu processo de crescimento como profissional". Seguiu a vida não baixando a guarda acerca das adversidades, sobretudo pela época e conservadorismo que colocava as mulheres em caixas e moldava-as naquele velho discurso maçante de que "isso não é profissão para mulher".
 
Ela trouxe não só a língua portuguesa, mas também ao Brasil, visibilidade internacional com as suas obras em lugares que as pessoas tampouco sabiam qual a língua falada em nosso país. Inclusive, em 2016 Lygia foi indicada ao prêmio Nobel da Literatura.
 
"Não somos inocentes e por isso sabemos que há no Brasil três espécies em processo de extinção: a árvore, o índio e o escritor. Mas isso eu escrevi há alguns anos porque não é mais escritor que está em processo de extinção, mas sim o leitor que está em fuga desabalada", ela havia dito, acerca da literatura em território nacional. 
 
Lygia é extremamente bem-humorada, até já levou um "esporro" da Clarice Lispector por conta disso. Segundo Lispector, “os homens não levam mulheres a sério quando riem”, referindo-se as risadas que Lygia sempre costuma soltar. Mas isso não a impediu de continuar sendo engraçada e divertir-se com a vida. Lygia é uma peça rara. 
 
Suas principais obras são “Ciranda de Pedra” (um romance de 1954), “Verão no Aquário” (que lhe proporcionou o Prêmio Jabuti em 1965), “Antes do Baile Verde” (livro de contos, 1969), “As Meninas” (romance passado na ditadura militar que lhe trouxe o Prêmio Jabuti em 1974), “A Disciplina do Amor” ( contos, em 1980)... E por aí vai. São tantas obras e prêmios que chega a ser árduo fazer o levantamento para mencioná-las, tão longa e ilustre carreira desta mulher. 
 
Abraçou o Brasil com suas obras, assim como os próprios brasileiros. Porque em meio aos conflitos existenciais presentes nos seus livros, às dúvidas e incertezas das personagens e explícita contextualização sociopolítica, ela marcou anos e anos e vidas inteiras de inúmeros brasileiros. 
 
"E resistimos, testemunhas e participantes deste tempo e desta sociedade com o que tem de bom e de ruim. E tem ruim à beça, inspiração é o que não falta aos que escrevem. E falei agora uma palavra que saiu de moda e é insubstituível, inspiração", disse ela.
 
Mas se trata disso: inspiração. Inspiração que provoca e provocou nos escritores desde sua estréia na literatura até um futuro incerto, porém que com certeza terá frutos plantados por ela. A inspiração que não falta, porque Lygia existe, porque suas obras tocam e seu jeito pueril, ainda que esteja batendo os 100 que, esperamos, irá completar daqui a dois anos. Lygia Fagundes ensina a sonhar, se inspirar, mergulhar nos próprios personagens e, inclusive, em nós mesmos. 

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