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01/06/2021 às 22h15min - Atualizada em 01/06/2021 às 21h29min

​Novos números indicam que o Brasil segue recordista em mortes violentas de LGBT+

Entre violência e comemorações, a comunidade continua lutando por direitos no país

Júlio Lisboa - Editado por Alinne Morais
Joao Zauza, Jefferson Miguel, Jeremias Santos
https://www.jornalcidademg.com.br/wp-content/uploads/2020/06/iStock-626952516.jpg
    No mês de maio ocorreu o Dia Internacional Contra a Homofobia e a luta da comunidade LGBTQIA+ vai além da data, o relatório anual do Grupo Gay da Bahia indica mais um triste recorde em 2020, travestis e transexuais ultrapassaram os gays em número de mortes pela primeira vez. Não se sabe quando a luta se inicia e nem quando terminará. O Brasil é recordista para a comunidade pois é o país onde mais mata e que mais se comemora a diversidade.
 
    Foi no dia 17 de maio de 1990 que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou o homossexualismo da lista de Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), e por este motivo não é mais usada a palavra homossexualismo e sim homossexualidade, o ismo se remete à uma doença e não a uma sexualidade. Por esta razão a data é usada como a luta contra a homofobia, ou LGBTFOBIA.

    Neste mês de maio de 2021 também foi divulgado o relatório anual de mortes violentas do Grupo Gay da Bahia, o único grupo que faz o balanço dos dados desde 1980 e pela primeira vez os dados indicam que travestis e transexuais ultrapassaram as mortes de gays. Os números mostram que houve mortes de 161 travestis e trans (70%), 51 gays (22%) 10 lésbicas (5%), 3 homens trans (1%), 3 bissexuais (1%) e finalmente 2 heterossexuais confundidos com gays (0,4%). O Jefferson Miguel de Marchi Falgater, 23 anos, é um homem transexual e falou o que acredita que causou o aumento das mortes de transexuais e travestis:
 
“Acredito que seja a forma que a sociedade enxerga as pessoas trans/travestis. Infelizmente, ainda somos pessoas vistas de forma estigmatizada, patologizada, fetichista e superficial.”
 
    Ele também comenta a dor que eles levam pela carga que a sociedade sobrepõe neles:
 
“As travestis são prostitutas e só servem pra satisfazer o desejo sexual dos outros. As mulheres trans são as doentes que nasceram no corpo errado e querem fazer cirurgia. Os homens trans sofreram tanto com o patriarcado e agora querem ter barba e parar de menstruar.”
 
    Se comparar os números de 2020 com anos anteriores podemos notar uma queda das mortes de pessoa LGBT a cada ano, em 2017 foi o ano recorde com 445 mortes, em 2018 com 420 e 2019 com 329 e agora 237 em 2020. O GGB (Grupo Gay da Bahia) afirma que não é a primeira vez que houve uma redução de um ano para outro, em 1991 registrou-se uma queda de 153 para 83 em relação ao ano anterior (45%). Eles também destacam que a oscilação não tem uma causa detectável.

    O administrador João Gabriel Zauza, 23 anos, gay, fala que para que os LGBTQIA+ tenham mais segurança, deve-se iniciar na educação:
 
“Eu poderia dizer que deveria começar com a parte política, mas na política nada é unanime, então isso deve começar na educação. Deve ter educação sexual e de gênero nas escolas.”

    Por outro lado, Jeremias Santos, 24 anos, gay, fala que tudo deve se iniciar deixando a lei mais rígida:

“A gente já tem a lei contra a homofobia, mas acho que tem que ser uma lei mais rígida, maior a penalidade, para que as pessoas possam ver que a gente importa e somos seres humanos, e que a sexualidade não interfere na vida deles.”

 
Embora o Brasil encara horríveis recordes de mortes violentas, ainda se encontra países onde ser LGBTI+ é considerado crime, e pode levar até a morte.
 
A ILGA World é a Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais, contém 1.600 organizações de mais de 150 países e territórios que fazem campanha pelos direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, trans e intersexuais. Em seu site, divulgaram no final de 2020 um mapa completo de como os países lidam com a homofobia.
 
 
    Abaixo destaco algumas conclusões e resultados mostrados no mapa acima:
  • 70 países ainda têm alguma contra a homossexualidade;
  • 27 países têm pena que varia de 10 anos até a prisão perpétua;
  • 30 países têm penalidade de até 8 anos de prisão;
  • 10 países possuem pena de morte, entre possível e efetiva;
  • Em 9 países há uma proteção constitucional que são considerados os países com maior proteção, as leis variam a cada país.
  • 57 países tem a Proteção Ampla contra o preconceito, ela inclui acesso ao serviço como saúde e educação, assim como acesso a bens.
  • São 7 países que possuem a proteção limitada ou desigual, ou seja, embora possa haver leis locais como municipais e estaduais, não há leis federais que incriminam o preconceito.
  • 43 países não possuem proteção e nem criminalização.
 
    Um ponto importante é que o mapa não mostra dados de proteções de transexuais e travestis, apenas de orientações sexuais como gays, lésbicas e bissexuais, pessoas transexuais entram como identidade de gênero.
 
“Se algumas pautas fossem implantadas, até mesmo de forma básica nas instituições de ensino, as pessoas começariam a entender que antes de LGBT, somos pessoas.”
Jefferson Miguel
 
    São variadas as siglas que a comunidade carrega, surgindo novos nomes, para entendermos um pouco da ampla diversidade, segue abaixo informado pelo Zenklub, com a ajuda do Boneco do Gênero podemos entender melhor quem é cada um em suas siglas:
 


  Identidade de Gênero:
  • Cisgênero: Pessoa que se identifica no corpo que nasceu;
  • Transexuais: São pessoas que não se vê no corpo que nasceu;
  • Travestis: Pessoa que nasce no sexo masculino, mas que tem uma identidade no sexo oposto;
 
    Orientação Sexual:
  • Heterossexual: Pessoa que sente atração pelo sexo oposto;
  • Bissexual: Pessoa que sente atração por ambos gêneros;
  • Homossexual (Gay/Lésbica): Sentem atração pelo mesmo sexo;
  • Assexuais: Pessoas que não sente atração por nenhum gênero;
  • Pansexuais: Sente atração pela pessoa independentemente o seu gênero ou sexo biológico.
 
    Sexo Biológico:
  • Intersexual: São pessoas que nascem com seus órgãos genitais, porém não se define entre sexo masculino ou sexo feminino.
 
    Expressão de Gênero: A expressão de gênero é como você se manifesta na sociedade, seja pelo corte de cabelo, roupas que usa e comportamentos. Não tem relação com sua orientação ou gênero sexual.

 
    Um mundo amplo e cheio de pessoas diversificadas, mas ainda com o preconceito enraizado na sociedade, a comunidade LGBT+ tem uma luta diária, com a extremidade de violências no Brasil, também há a imensa celebração. O Brasil tem sua ironia que onde mais se mata, mais se comemora, com a maior parada do orgulho LGBT do mundo. Segundo o Mídia Ninja, a cidade de São Paulo abrigou em 2019 a parada que recebeu cerca de 3 milhões de pessoas, comemorando suas sobrevivências, suas lutas e suas conquistas. Depois da cidade de São Paulo segue a cidade de São Francisco, nos Estados Unidos com cerca de 2 milhões de pessoas e em terceiro lugar a cidade de Toronto, no Canadá com cerca de 1 milhão de pessoas.
 
TRAJETÓRIA
Para a comunidade chegar até aqui, com pessoas se aceitando e se descobrindo foi necessário mostrar apoio e a força, começando a décadas atrás. Com ativistas e movimentos históricos, foi com amplo conjunto de acontecimentos que fez com que muitos tivessem a coragem para sair nas ruas como se identificam para se orgulharem hoje de quem se tornaram. Mesmo que quase impossível falar de todas as grandes personalidades e fatos históricos, é necessário que vemos um pouco de algumas histórias para mostrarmos que a luta é constante.


Rebelião de Stonewall (1969):
 
  Stonewall Inn foi um bar gay de Nova York que foi atacado pela polícia na madrugada de 28 de junho de 1969, lá se iniciou manifestações pelos membros da comunidade LGBT. A rebelião é considerada como o início do movimento pelos direitos civis gays nos Estados Unidos. Hoje o ponto é um lugar turístico, que reflete a força LGBT no país.


 
Marsha P. Johnson (1945 – 1992)


 
    Uma personalidade que ficou muito famosa e se tornou uma figura icônica desde o movimento até hoje foi Marsha P. Johnson que estava no movimento do Stonewall. Negra e drag queen, era hostilizada, mas se tornou um símbolo de resistência. Ela foi encontrada morta em 1995 no rio Hudson, foi classificado como “suicídio”, mas houve muitas controvérsias que fazem desacreditar da causa, seu documentário na Netflix mostra sua visibilidade na cidade.

Alan Turing (1912-1954)
    Alan Turin foi um matemático e cientista que durante a segunda guerra mundial foi convocado pelo exército britânico para desvendar a máquina chamada “Enigma” que os nazista usavam para se comunicarem informando seus próximos passos. Em 1943 ele cria a máquina “Colossus” que deu vantagem ao governo para quebrar os códigos alemães.
    Em 1950 Alan se declara homossexual e por ser ilegal no país ele começa a ser perseguido. O governo oferece a liberdade se ele fazer uma terapia de castração química, mas mesmo ele aceitando ficou proibido de dar continuidade em seus estudos.
    Em 1954 ele foi encontrado morto e embora foi apontado como suicídio, em seu corpo foi encontrado grande quantidade de intoxicação de remédios tomado para a terapia. Sua história é contada no filme “O Jogo da Imitação (2014”.




O Lampião (1978)
    No final da década de 70 o jornal “O Lampião da Esquina” foi fundado no Brasil, e foi também o primeiro jornal com temática homossexual no país e relatava abusos que ocorriam na época. O jornal marginalizado falava de mortes e prisões injustas durante a ditadura militar e ficou ativo até 1981.

 
1º Encontro brasileiro de homossexuais (1980)
    O primeiro encontro brasileiro de homossexuais aconteceu na cidade de São Paulo em 1980, com muitas agressões contra homossexuais e travestis, no dia 13 de junho o grupo se juntou em frente ao Teatro Municipal e manifestou contra a homofobia. O movimento ficou conhecido por lutar contra a “Operação Limpeza” e conhecido como o “Stonewall brasileiro”.
 






 O Brasil reconhece união estável de homossexuais (2011)


 
Em 05 de maio de 2011 pela maioria de votação a favor no STF, a união estável entre pessoas do mesmo sexo é reconhecida no Brasil.  Com a decisão histórica, casais homoafetivos puderam ter direitos como pensão, aposentadoria e herança.
 
 
 





 




 
Paulo Gustavo (1978-2021)
 
O Ator Paulo Gustavo que faleceu neste mês de maio, vítima da covid-19, não poderia deixar de ser mencionado como um dos ícones LGBT do Brasil. Embora ele não se considerava um ativista LGBT, Paulo contribuiu muito pela comunidade, vestido de mulher alcançando a maior bilheteria do cinema nacional, com a trilogia de filmes “Minha Mãe é Uma Peça”, com seu marido Thales Bretas também tiveram dois filhos Romeu e Gael.
 
 
“Eu acredito que o país desse empoderamento igual o dele, precisa de pessoas assim, que não só levante a bandeira, mas que fala cara a cara.”
Jeremias Santos
 
“Claro que era o direito dele de não se sentir ativista, mas ele fez muito pela comunidade LGBT.”
João Gabriel Zauza.
 
Criminalização da LGBTFOBIA no Brasil (2019)
 

Dia 13 de junho de 2019 o Supremo Tribunal Federal aprovou a criminalização da LGBTFOBIA no Brasil, a lei vale tanto para preconceito com a orientação sexual quanto a identidade de gênero. Foi decidido de 8x3 votos pelos ministros. Os atos podem ter penalidade de até 3 anos, além de aplicação de multa.
 
 
 
 




 
Jodie Foster

A atriz, diretora e produtora de cinema norte-americano declarou-se lésbica no palco quando ganhou o prêmio Cecil B. DeMille no Globo de Ouro 2013 por seus trabalhos. A atriz falou "Sério, espero que vocês não fiquem desapontados por não haver um grande discurso de saída do armário nesta noite" referindo-se a sua sexualidade que as pessoas próximas já havia ciência. Hoje é casada com a atriz Alexandra Hedison.
Jodie possui dezenas de prêmios entre Oscar e Globo de Ouro.
 
 
 











 

 

 

Antes Ellen Page, hoje Elliot Page. Em um caso mais recente, o ator, diretor e produtor canadense se declarou como transexual em suas redes sociais no final de 2020.
Conhecido por papeis como em “Juno” e “A Origem”, o ator em 2016 esteve fazendo um documentário sobre a homofobia e veio ao Brasil entrevistar o atual presidente da república Jair Bolsonaro sobre suas falas preconceituosas.
 
 
 












 
 
Pabllo Vittar
 
Pabllo Vittar é uma drag queen e cantora da cidade de São Luis, Maranhão. A cantora é um grande símbolo LGBT+ no Brasil atualmente e também é ativista falando sempre da importância da causa em suas redes sociais.
Hoje ela é uma das drag queens mais conhecidas no mundo e leva a importância da militância de uma forma que muitos se identifiquem com ela.

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